Pelo interesse que ele tem e pela clareza de raciocínio que revela, não resisto a transcrever este texto (excertos):
“Acertar ou não nos agressores
O acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que iliba Paulo Pedroso, Herman José e Francisco Alves, no processo Casa Pia, acusa o Ministério Público de «tentativa de manipulação grosseira» dos depoimentos das alegadas vítimas para incriminar os arguidos. Isto significa que, não só os indícios recolhidos eram pouco seguros e fiáveis, como terá havido da parte dos investigadores, segundo a análise e a opinião dos três juízes-desembargadores, o propósito deliberado de os sobrevalorizar com vista à incriminação dos arguidos. (…)
Perante este acórdão, o Ministério Público não pode fingir que não se passa nada, porque a suspeita de que algum ou alguns dos seus membros manipulam depoimentos de testemunhas para perseguir cidadãos é fatal para a sua imagem e para a confiança que tem de inspirar na opinião pública. Aguardam-se, pois, as reacções prometidas. Para já, o que se pode dizer é que, à medida que os processos avançam, mais dúvidas se instalam sobre a hipótese de se fazer a justiça reclamada por todos num caso que durante dois anos dominou a vida pública nacional. Se há vítimas, decerto que houve agressores. Mas no meio de tantos erros «grosseiros», «dúvidas insanáveis» e malabarismos processuais, pode acontecer que nunca sejam encontrados. A não ser que confessem, claro. E, sendo assim, o mais certo é que Carlos Silvino acabe por pagar sozinho pelos crimes de todos.”
Fernando Madrinha, “Preto no Branco”, Expresso, 12 de Novembro de 2005
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