sábado, fevereiro 28, 2009

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Sinto falta de ti

Sinto falta do teu olhar
E da tua maneira engraçada
De ver o que às vezes nem consigo.
Quando estás onde me encontro
Os meus olhos sabem perscrutar
O distante da nossa presença
E a proximidade do nosso sentir.

Sinto falta do teu escutar
E do silêncio que só tu sabes
Nos meus momentos de desabafo.
Quando ouves o meu sentir
As minhas palavras transformam-se
E permanecem serenas e parcas
Em diálogo desejado e retemperador.

Sinto falta dos teus gestos
E dos teus braços enleantes
Que me estreitam com ternura.
Quando te aproximas tranquila
E te abandonas no meu regaço
É como se o tempo se retivesse
Em momento único e intemporal.

Sinto falta de ti
E de ti sinto falta em mim.
Porque em ti me descubro
Me procuro
Me aventuro
Me questiono
E me encontro.

Sinto falta de ti.
Sinto falta de mim.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Intróito

E não é que eles sabem
Que o sonho é uma constante
Da vida
E da morte

E que quando um homem sonha
Eles temem a sorte e a má sorte
Da vida
E da morte

Porque um homem sonha e vive

(Teorema, Dezembro 2003)

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Avoamentos

Se calhar até nem sei o que é o amor.
Se calhar até nem sei o que é o sentir.
Porque adormecido no tempo de viver
Se calhar desconheço a palavra respirar.
E caminhar nem sequer é o meu destino.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Provérbios

Com água por todos os lados, andam os peixes bem lavados.
In Tomás Lourenço, Provérbios Pós-Modernos, Âncora Editora

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Outros olhares

Joan Miró
Carnaval del Arlequín
Albright-Knox Art Gallery, Buffalo, USA
Imagem
daqui

Vale a pena [obrigatório] visitar

Às vezes, ao deambularmos por aí, descobrimos coisas que, para além de nos maravilharem, também nos trazem aquele impulso de continuar a acreditar que vale a pena andar por aqui.

Gostava mesmo, mas muito mesmo, que entrassem na casa da Mariz
Sou Pó e Luz – e se deixassem maravilhar com o presente que ela ali nos deixa.

Vão ver que vale a pena.

domingo, fevereiro 22, 2009

Avoamentos [de um Domingo em boa companhia]

O tempo de descobrir o que mais importa é sempre o tempo de encontrar o que mais difícil temos de procurar. Porque o momento que sonhamos ali bem perto e, por vezes, mais parece em galáxias longínquas, não se alcança sem procura incessante.

Passamos os dias, as horas, os minutos, todos bem contados, não vão os céus lembrar-se de contabilidades inoportunas. Os nossos passos seguem-se como filas ordenadas de flamingos em busca de novas manhãs. Desejamos dos nossos amanhãs, os ontens que não conseguimos viver hoje.

E, no entanto, sabem-nos bem os momentos que passamos em amena e serena convivência com quem queremos e desejamos bem perto de nós. Os nossos tempos são, então, os tempos da descoberta do que é, na verdade, o mais importante. E isso é o que nos faz mais humanos, seres em tranquila comunhão.

Na mesa que ousamos partilhar, encontram-se apenas os sabores e os aromas que nos animam e aquecem. Porque de calor e de gosto se declamam os poemas da fraternidade e da alegria.

Na mesa que arriscamos celebrar, nós e os outros. Os outros e nós. Por mais diferentes que nos consigamos distinguir, a mesma família humana, tão-somente.

É o que importa, afinal.

sábado, fevereiro 21, 2009

“HAIKU” [XXXVII]

A aranha com fome,
Para a frente e para trás
Entre a viga e a cruz.

TSUDA KIYOKO (n. 1920)

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Outros olhares

Sofia, Sapienza di Dio
Arte delle capitali
secondo quarto del XIX secolo
tempera su tavola
Imagem
daqui

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Escrever

Escrever
As palavras surgem
No papel ainda branco
E a imagem revela-se
Em cores próprias
Ao correr da caneta
Ao sabor do imaginário

Escrever
Os sonhos e a realidade
Materializam-se
Em palavras, em frases
Em letras corridas
Na confusão apressada
Da minha própria ansiedade

Escrever
A vontade absorve-me
E liberta-me a insónia
Que me inquieta e perturba
Sem me perder e esquecer

Escrever
Porquê, para quê, para quem?

Escrever
Porque quero.
Porque gosto.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Citação do dia

“O Mundo não te deve nada. Existia antes de ti.”
Mark Twain

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Trova do caminho

Vou ao encontro do vento
Com os olhos abertos e atentos
De quem deseja encontrar a resposta
A solução do enigma por desvendar.
E os meus olhos não se cansam
E perscrutam bem para alem do óbvio.

Vou ao sabor da corrente
Com os braços largos e estendidos
De quem arrisca o rumo novo
A rota desconhecida e procurada.
E as minhas mãos abrem-se
E procuram o longe da distância.

Vou no rasto da luz
Com o coração a arder de ansiedade
Como anseia quem sabe o gostar
Quem busca somente o bem querer.
E os meus passos perdem-se, afinal,
No caminho ainda por descobrir.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

domingo, fevereiro 15, 2009

Cantiga de Amigo

Tanto tempo sem te ver, amigo meu,
Tantas palavras por dizer e calar.

Descobrimo-nos quando nos perdemos
E encontrámo-nos nos desencontros
Da vida que desejámos e ansiámos.

Olhámo-nos como se olha a espera
E quisemo-nos sempre renovados
Em perenes partidas e chegadas.

Tanto tempo sem te ver, amigo meu,
Tantas palavras por dizer e calar.

Falámos palavras de compreender
E escutámos a música partilhada
Escondida de ouvidos outros.

Eram tempos, em nós, de descoberta
Eram dias e dias sempre renovados
Eram momentos breves de estar.

Tanto tempo sem te ver, amigo meu,
Tantas palavras por dizer e calar.

Para nós o amanhã perdia-se
No ontem que partilhavamos sem perder
O hoje que vivíamos com intensidade.

Porque ousámos descobrir o tempo
Havia sempre no meio de nós
O depois do agora que desfrutávamos.

Tanto tempo sem te ver, amigo meu,
Tantas palavras por dizer e calar.

sábado, fevereiro 14, 2009

Outros olhares

H. Mourato
Namoro
Imagem daqui

A ler

BENTO XVI E OBAMAAnselmo Borges – [Diário de Notícias]

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Citação do dia

“Todos estamos de visita neste momento e lugar. Só estamos de passagem. Viemos observar, aprender, crescer, amar e voltar para casa.”
Dito aborígene australiano

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Há dias assim

Há dias em que o que nos surge no branco que queremos preencher nada mais é do que outro branco bem realçado num fundo anda mais branco.

Há dias em que os nossos olhos mais não enxergam que uma névoa cinzenta no cinzento farrusco da tela que julgávamos manhã e tarde para respirar.

Há dias em que a música que envolve o nosso espaço tão pouco de harmonia se reveste que mais parece rouquenhas cacofonias ferindo os nossos frágeis tímpanos.

Há dias assim. Queremos preencher o branco do papel em atitude de comunhão, se não com os outros, pelo menos connosco próprios.

Mas o que acabamos, afinal, por ser capazes de fazer é tão somente dizer isso mesmo: há dias assim, em que não conseguimos dizer nada.

E mesmo isso, sai-nos dolorosamente e como momento de expiação.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Tempo interior

O caminho que percorro
Seduz-me sempre
E deixo conduzir-me
Mesmo que cá dentro
A vontade adormeça

À minha volta
Envolvem-me em teias
Urdidas pela sedução
E tentam-me com mestria
Pegam em mim
E levam-me
Seguros da sua certeza

Nem sequer sei recusar

Mergulho em espaços fechados
Onde tudo e todos se descobrem
Luz e oiro
Onde tudo e todos se mostram
Claridade e brilho
Mostram-me o que quero ver
Maravilha, prazer, deleite
Não me abandonam
Nem me deixam comigo
Apenas comigo

(Muitas vezes a solidão revela...)

Levam-me em viagem
Alucinante e vertiginosa
Onde tudo
Rodopia em espirais
Que prendem os olhos
Em hipnoses adormecidas

Querem a minha palavra
A minha frase
A minha letra
Proibem o meu silêncio
E calam os meus olhos
Em danças frenéticas
Que me escondem de mim

(Muitas vezes o parar revela...)


Mas há sempre um momento
Um instante inquietante
Que nos questiona e interpela
E então descobrimo-nos
Perdidos no vazio do muito
Que julgamos à nossa volta

Mas há sempre um momento
Um tempo sempre renovado
Que nos envolve e acaricai
E nos mostra como num espelho
O ser que julgamos estranho
Mas descobrimos afinal nosso

É o momento de cada um
Feito momento colectivo
Na serenidade e na perenidade
De um tempo que não sabemos
Mas procuramos desvendar

É o momento breve de breve instante
Que revela sem descobrir
E com a tranquilidade do tempo
O ser que mesmo sem o sabermos
Habita bem dentro de nós próprios

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Salmo

Estendi-te a minha mão
Aquela com que calei
A verdade
Aquela que me impediu
De ver a injustiça
Aquela que me fez surdo
Ao ouvir os que sofrem
E não contam

Estendi-te a minha mão
Aquela com que feri
Ao falar ou ao calar
Aquela que provocou
O desconhecimento de ti
Aquela que impôs apenas
A minha vontade

Estendi-te a minha mão
Mão árida e estéril
Mão de vergonha disfarçada
Mão quase inerte
De vida por descobrir

Estendi-te a minha mão
E, afinal e apesar de tudo,
Tu a aceitaste

domingo, fevereiro 08, 2009

os meus olhares


Dixit

Nos dias que correm, vale a pena lembrar estas palavras

"Esta Nação aguentará como aguentou, ressuscitará e prosperará. Por isso, antes de mais, deixem-me afirmar a minha firme convicção de que a única coisa que devemos ter medo é do próprio medo - do terror sem nome, irracional, injustificado, que paralisa os esforços para converter a retirada num avanço."
Roosevelt (que tirou os EUA da Grande Depressão), no primeiro discurso presidencial
Tirado daqui

Pensamentos subversivos (LXXXI)

Perante isto, só estou, já, à espera que apareça agora outra ‘mítrica’ figura a dizer que, afinal, o Concílio Vaticano II nunca existiu.

Nestes nossos tempos, mais parece que, se calhar, os deuses andam mas é perdidos lá pelo Olimpo.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Pensamentos subversivos (LXXX)

Palavra d’honra que cada vez gosto menos de gente que, no seu nome, tem também acloplado, umas vezes mais silencioso, outras mais sonantes, o prefixo “ex”.
É que, não poucas vezes, os mutantes da nossa sociedade acabam quase sempre por se tornarem nos novos fundamentalistas das nossas famílias.
E a história acaba sempre por nos ensinar que não são os fundamentalismos – sejam eles quais forem – que a fazem avançar.
Cá para mim, vale muito mais um Chico, como o de Assis, do que, por exemplo, qualquer António, como o que veio lá duma terra de uma tal santa.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Esta minha caneta

Esta minha caneta
Amiga das horas que passo
Diante de mim
É quase sempre a única ligação
À humanidade que procuro
Até que o cansaço me embale.

Esta minha caneta
Mão da minha mão
Torna-se quase sempre
E por isso mesmo
Encarnação do próprio
Sentimento que me transforma
E obriga a saber olhar as coisas
Que à vida se desejam ligadas.

Esta minha caneta
De mim cativa e de mim livre
Sabe por vezes escrever a palavra partir
E em caminhos ainda por descobrir
Mesmo se esquecidos ou abandonados
Me vai desvendando passo a passo
O escondido que espera o dia da descoberta.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Avoamentos

somente o riso consegue libertar o espírito
quando a noite encarcera o tempo

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

HAIKU

Frio e gelo na cidade.
Caminho trôpego
Passos caídos.

domingo, fevereiro 01, 2009