sexta-feira, agosto 12, 2005

Até que enfim, Férias!

Arganil

E pronto! Vou mesmo de férias.
Este é o momento de antecipar sabores que se ansiavam. De salivar sensações esperadas e re-despertas. Este é o momento de olhar o tempo que se desejou.

Ah! Não vou para o Quénia, em safari!
Os meus safaris são outros. Fazem-se cá dentro. Se calhar, cá dentro demais.

Citação do dia

Goya, Adoration of God
Uma confissão de fé é uma confissão de não saber.
Morris West

quinta-feira, agosto 11, 2005

Tropa em guerra

Parece que os militares estão em guerra com este Governo. Dizem que se sentem lesados nos seus direitos. Dizem que é um ataque à condição militar. E manifestaram-se, portanto.
Segundo a imprensa de hoje, o Governo revê acesso à reserva, reforma e assitência à doença.
E o que está em causa? Segundo o Correio da Manhã:
"Proposta do Governo, que alega que mudanças não são definitivas e espera contrapropostas das associações militares até ao fim do dia.
TEMPO DE SERVIÇO: A par com a redução da bonificação do tempo de serviço, Governo pretende que os militares só possam reformar-se ao fim de 36 anos de serviço quando atinjam os 55 anos.
REGRAS ACTUAIS: Hoje, os militares reformam-se aos 65 anos, mas podem passar à reserva aos 57 anos (sargentos e oficiais subalternos) ou aos 60 anos (sargentos-mor e oficiais-generais). Ao fim de 36 anos de serviço (incluindo as bonificações), podem reformar-se qualquer que seja a idade.
SAÚDE: Governo quer um só subsistema de saúde para todos os militares e com as regras da ADSE (implicando contribuições). Actualmente, há três subsistemas, um para cada ramo das Forças Armadas: Exército, Força Aérea e Marinha."
Bom, nem quero dizer mais nada, se comparado com o que eu, funcionário público, vou ficar. E, já agora, sobre as Forças Armadas, para quando uma reflexão nacional, séria e profunda sobre a sua situação? Que FA queremos? Que FA precisamos?
A continuar assim, a tropa vai passando e nós vamos assobiando...

quarta-feira, agosto 10, 2005

O que é que o DN quer?

O que é que o DN quer? Já está, já entrou em campanha (autárquica e presidencial), tentando com uma não notícia prejudicar um dos possíveis candidatos (possíveis, porque ainda não se manifestou). Será que o DN não percebe – ou, pior ainda, por qualquer razão que não quero pensar sequer, não quer perceber – uma coisa tão normal para muita gente: se Mário Soares se apresentar como candidato a Belém, terá o apoio de muita gente. Muita gente mesmo. Até eu o apoiarei com todo o vigor, muito embora tenha já escrito o que escrevi, aqui neste blog. E isso, não significará, para já, nenhuma reserva a essa candidatura.
Manuel Maria Carrilho, o candidato à Câmara de Lisboa disse exactamente o mesmo, em comunicado: "Tenho um alinhamento claro se Mário Soares avançar, terá o apoio de todo o PS. É um apoio indiscutível de todos os socialistas. Há cerca de um ano, numa entrevista da Judite de Sousa, falou-se nessa possibilidade e eu disse o mesmo". Aliás, disse o mesmo ao Correio da Manhã (7 de Agosto).
O que é que o DN quer? Quer-me parecer que já o percebemos muito bem. Senão vejamos: Na RTP, as homilias dominicais de Sua Beatidade o Prof. Marcelo, na imprensa diária, para já, o DN. E ainda não temos homem. Porque quando lá de baixo vier figura, então vamos ver.

terça-feira, agosto 09, 2005

Pensamento do dia

El Greco (1541-1614),
Juicio Universal (1578-79), Londres, National Gallery

Que é a liberdade
Se não houver homens livres?

Que é a tolerância
Se não existirem homens tolerantes?

Que é a fraternidade
Se não se encontrarem homens fraternos?

segunda-feira, agosto 08, 2005

Incêndios: Todos os anos o mesmo

Tudo a arder. É o que apetece dizer, ao olharmos o que temos vindo a ver, ler e a ouvir através da comunicação social.
Todos os anos tem sido o mesmo. E todos os anos se repetem os mesmos discursos, os mesmos apelos, as mesmas críticas. E todos os anos a mesma controversa política entre governos e oposições (controversa que, às vezes, mais parece combinada que genuína). Mas também, ao longo dos anos os governos se têm alternado, sem que daí se notem diferenças visíveis. Tudo, afinal, ainda continua como dantes. Fatalismo? Fado? Sina?

Vamos lá a ver se nos entendemos: Nisto de cuidar de nós, das nossas coisas, nisto de zelar pela nossa segurança, nisto de velar pela coisa pública, creio não poder haver fatalismos, fados, acasos. Muito menos, poderemos andar todos a assobiar para o lado. Que é, parece-me, o que temos todos andado a fazer. De uma maneira ou de outra, todos podemos ter uma palavra a dizer, por muito pequena que seja. Por exemplo, através das escolhas que fazemos nas várias eleições que se vão realizando. E, para que não restem dúvidas, não creio que o acto de abstenção seja mais honesto, mais sério, mais eficaz que o acto de votar.

Cá por mim, creio que falta uma séria reflexão sobre as prioridades para Portugal. Reflexão para, depois, se agir. Com determinação.
Por mim, não estou muito convencido com algumas apostas que se têm feito. O que é mais prioritário? A título de exemplo (e sem querer menosprezar esta área), ter adquirido submarinos, aeronaves e veículos para umas forças armadas que nem se sabe muito bem o que são (pelo menos andamos há anos a ouvir dizer que se tem que reflectir as forças armadas – o que queremos, o que necessitamos)?
De facto, o que é mais prioritário? E creio que nem é preciso, nem quero agora, falar de Ota’s, nem em TGV’s. Nem em túneis, nem em Parques Mayeres.

É que há anos que nem sequer temos sido capazes de elencar o prioritário para a nossa terra, para a nossa vida. E depois admiramo-nos que, ano após ano, o país esteja a arder.
Se calhar, até ardermos nós próprios…

sexta-feira, agosto 05, 2005

Bom Fim-de-Semana


Apesar de tudo, sabe sempre bem retemperar as energias.
Renascer, de novo.

Férias e férias

O meu amigo Zé foi de férias. Depois de um ano de trabalho, por vezes até à exaustão, o meu amigo foi descansar. Aproveitou a oportunidade e lá partiu, com a família. Para África, para um safari no Quénia. Coisa normal no meu amigo Zé. Os seus rendimentos permitem-lhe estes sonhos realizados.
Tem sorte, o meu amigo Zé. Por mim, privilegiado funcionário público, que aqui anda ao serviço do Estado (esse papão), há coisa de 34 anos, dos 52 que levo de existência, cá ficarei, numa das praias da minha zona, a gozar os dias de férias que me cabem. É que o que entra cá em casa vai dando, mas não para esse tudo.
Tem sorte o meu amigo Zé. E, se calhar, até lhe invejo esses dias africanos, a correr atrás de animais que conheço, apenas de zoo. Mas só lhe invejo isso.
Tem sorte o meu amigo Zé. Mas tem todo o direito a ter e a exercer essa sorte. Nada se pode dizer sobre isso. É um cidadão, como qualquer um de nós, livre de viver a vida como o entender. Desde que em conformidade com as normas e as regras que a sociedade impõe. É, aliás, o que se exige a qualquer cidadão.

Mas não. Não foi o meu amigo Zé quem foi de férias. Soubemo-lo na Comunicação Social. Simples e claro. Com direito a reportagem e tudo.
O Primeiro-ministro, José Sócrates, foi de férias, com a família, para uns dias de sossego, em terras do Quénia. Vai participar num Safari, dizem. Vai, aliás exercer um direito que, efectivamente e rigorosamente, é seu. Nada a dizer sobre isso, pois.
Só que, e é aqui que quero chegar, há qualquer coisa que me parece importante referir. Há qualquer coisa que me faz uma certa confusão.
Para já, devo dizer que nada há que se aponte a José Sócrates no que se refere a questões de legalidade dos seus actos. O cidadão José Sócrates pode perfeitamente ir passar as suas férias onde muito bem lhe apeteça. E ninguém tem rigorosamente nada a ver com isso. Questão arrumada, assim.
Mas o cidadão José Sócrates é o Primeiro-ministro de Portugal. É o Primeiro-ministro de um Governo que está a impor, com toda a legitimidade democrática, diga-se, uma política de contenção, de rigor, de poupança, de redução da despesa pública (com tudo o que isso implica, desde os aumentos de impostos, à redução do poder de compra dos cidadãos, por exemplo). Nos tempos que correm, de facto, ou tomamos medidas capazes de nos trazerem melhor futuro, ou mais negro ele será. E com isto, não estou, nem a justificar, nem a criticar as medidas encetadas pelo Governo. Outras oportunidades virão, para isso.
Por isso, eu, se fosse Primeiro-ministro de um Governo que estivesse a pedir aos seus cidadãos para apertarem – e bem – o cinto, porque os tempos são de vacas magras (quase esqueléticas), não sairia de cá. Tirava uns dias de férias, porque o descanso é bem necessário a quem trabalha, mas não sairia de cá. Existem por cá muitos locais apropriados. Não por uma questão de legalismos. Não por uma questão de miserabilismos. Mas por uma questão de convicção. De coerência. De ética, se calhar. Até para dar o exemplo.
Era o que eu gostaria de ver o meu camarada e Primeiro-ministro, José Sócrates, fazer.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Renascer

Maria Thereza Neves
Labirinto, 1999, Óleo s/ tela


Ontem os meus olhos fechavam-se ainda
E não permitiam o sabor da cor, da imagem.
Como criança pequena de anos curtos
Tropeçava nos meus próprios pés incertos.
E o caminho tornava-se tactear inseguro
Em horizontes negros de vazio de ser.

Ontem os meus olhos cegos e parados
Traziam-me o receio do desconhecido.
E o escuro era vida de inquietude.

Então o silêncio envolveu-me e abraçou-me
Provocando tempestades de questões por evocar.
E o silêncio foi tempo de inquietude.

Hoje os meus olhos tentam abrir-se
Procurando marés de imagens plenas de cor
Rasgando horizontes que teimamos certos.

Ao longe bem no longe bem definido
Uma chama estremece sem se apagar
Ardendo perene sem combustão provocada.

Hoje os meus olhos vão apre(e)ndendo
Uma luz que sinto mas não sei
Ainda…

terça-feira, agosto 02, 2005

Regionalismos (ou não)

Esta questão do TGV e do Aeroporto da Ota, que tanta discussão tem estado a dar, tem andado a formigueirar-me os ossos. Para além de que, os que mais se têm esganiçado contra estes dois investimentos, às vezes até para além do percebível (é que algumas das razões invocadas, valha-nos Deus…), serem todos da mesma área ideológica (apesar de uma ou outra rara excepção, por motivos óbvios). E só isso já bastaria para me pôr de sobreaviso o formigueiro.
Como noutros, neste caso há argumentos e argumentos. Que nos convençam ou não, alguns, é outro assunto. Mas existem e devem, pelo menos ser respeitados.
Mas há argumentos que, sinceramente, só na cabeça de alguns.
Por agora, fixo-me apenas num: “lá tem todo o país de ser obrigado a pagar mais uma grande obra para Lisboa” – no caso o novo Aeroporto (só para Lisboa?).
Para já: Quando dizem “todo o país” estão com toda a certeza a querer dizer “o norte”. É a velha, e já muito esfarrapada, questão.
Eu, sulista, “moiro” e sei lá que mais, até gosto de todo o país onde fui nado e criado. De Portugal inteiro. Do Algarve a Trás-os-Montes. Do Alentejo às Beiras. Da terra do ferro velho, no Ribatejo, onde pela primeira vez vi a luz da lua. Até mesmo de Lisboa. Até mesmo do Porto. (Bem, enfim, há lá um enclave, que…)
Mas já começo a estar farto dos complexos, das paranóias bacocas, dos fantasmas, dos traumas de alguns iluminados da nossa praça.
Com que então, não deve ser “todo o país” (cá está!) a pagar por obra apenas para alguns? Tudo bem.
Vejamos apenas uma realidade: Porque raios é que eu e os cá de baixo, os do Sul, teremos então de pagar as pontes que circundam o Porto? E são em maior número que as que circundam Lisboa. Cá, os privilegiados, pagam, e bem, as duas únicas pontes que atravessam o Tejo, na cidade de Lisboa.
E não me venham, agora, falar na questão “utilizador – pagador”. Já temos que chegue.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Marcelo: O Sofista Cavaquista

Já me vêm, de algum tempo a esta parte, causando algum formigueiro as homilias dominicais do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Como tal, cá vai:

Parece já terem começado os primeiros tempos de antena das Presidenciais. Basta sintonizar a RTP, Canal 1, aos Domingos, depois do Telejornal. E ver e ouvir o apoiante nº 1 (defensor-mor, condestável da candidatura, garante da pureza ideológica) de Cavaco Silva, o putativo (ainda) candidato a Belém.
Qual D. Sebastião, ainda escondido no nevoeiro Boliqueimo, o Prof. Cavaco vai sendo mote, musa e demanda deste paladino, autêntico arauto de façanhas tamanhas, cantadas até à exaustão.
Da sua cátedra televisiva, Marcelo vai, de facto, tentando manter acesa a chama que Cavaco teima em não alimentar. E tudo serve o propósito manifestado. Até, e infelizmente, se calhar contra a sua vontade, com o beneplácito da sua entrevistadora. (Ana Sousa Dias, grande comunicadora, por exemplo no “Por outro lado”, mereceria, sinceramente, muito, mas muito melhor sorte.)
De facto, tudo é claro e simples. Marcelo Rebelo de Sousa, o Professor, não esconde nada. Nisto, é honesto, honra lhe seja feita. O seu propósito primário, já não é o de comentador da vida política. O seu principal desiderato, agora, é a candidatura do Professor de Boliqueime a Belém.Já agora, e numa tentativa de maior democratização da sua postura, como televisão pública, sugeria à RTP que convidasse igualmente outras figuras que representassem outras áreas políticas. (Já agora, e por exemplo, às terças-feiras, poderíamos ter a aguerrida Odete, a defender a candidatura (quase certa) de Carvalhas, às quartas-feiras, teríamos o Grande Educador Rosas a pugnar pela bloquista candidatura e às quintas-feiras, contaríamos com o turístico Telmo em centristas debates. É que às segundas-feiras, já temos o sempre indisponível Vitorino, a apoiar o camarada Mário.
Era lindo de ver. Pelo menos divertiriamo-nos muito mais.