sexta-feira, abril 28, 2006

Timor-Leste: A dor continua

Fiquei triste ao ler isto, isto e isto. Estive em Timor-Leste já por duas vezes. Lá longe, onde o mar se esquece no tempo, me apaixonei por aquele povo que, ao longo de muitos anos sofreu na pele uma ocupação selvagem. E durante muito tempo, também eu chorava com a dor dos meus irmãos timorenses.

Por isso, fiquei triste. Porque cá para mim, Timor já sofreu demais…

Privilégios...

Como o Paulo Gorjão, do Bloguitica, também eu apenas posso dizer: “Já cá faltava esta.”

Vital Moreira (
Causa Nossa) pode dizer muitas coisas, pode até ter razão em muitas outras. Mas não deveria falar por falar. É que já agora, porque é que não vai ver, a norte do Mondego, como é que são as portagens das pontes (e só no Porto há várias).

Privilégios lisboetas!... De facto, deve estar a brincar connosco…

Gente de Paz (IV)

Há gente
Gente pequena
Quase sem forças para avançar
Mas que continua
E leva consigo
A alegria de se saber
Gente de Paz

quinta-feira, abril 27, 2006

Gente de Paz (III)

Há gente que se mostra
Em salões de escribas e fariseus
E cumpre aquilo que está na lei e se contenta

Há gente séria e sensata
Que sabe o que se passa e faz discursos
E por vezes manda e governa e faz leis e descansa

Há gente que fala de paz
E por isso se arma até aos dentes
Demonstrando a sua força e se acha justo

E há gente que se esconde
No meio de doentes de tristes de desiludidos
E vai mais além das normas porque se sente inquieto

E há gente nova e irreverente
Que se mexe e remexe e não usa palavras
Porque não tem tempo a perder e tem muito por andar

E há gente que fala de guerra
Da guerra do Amor que urge vencer
E se acha sem forças mas continua sem saber o depois

quarta-feira, abril 26, 2006

Foi o Presidente da República que o disse?

“Não é moralmente legítimo pedir mais sacrifícios a quem viveu uma vida inteira de privação”
Do discurso do Presidente da República, Prof. Cavaco Silva
Assembleia da República
25 de Abril de 2006

Rescisões na função pública?

Embora não concorde com tudo o que o homem disse aqui, nomeadamente na parte em que se refere aos “transportes de Lisboa e do Porto, bem como a rede de ensino pública pré-escolar e os equipamentos públicos de apoio à terceira idade “, em que defende a sua passagem para o sector privado, até achei piada ao que diz sobre a função pública.

Rescisões amigáveis? Vamos lá: sempre gostaria de saber o seu entendimento por inteiro. É que talvez o convidasse a patrocinar o meu processo. Gostei. O homem promete.

Quer-me cá parecer que o Sócrates pode continuar a ficar descansado…

terça-feira, abril 25, 2006

25 de Abril


Embora muitos já tenham esquecido;
Embora muitos já tenham perdido o sentido;
Embora muitos já não estejam com vontade;
Embora muitos o não tivessem conhecido;
Embora muitos já não saibam o seu nome;

E mesmo embora alguns até já tenham chegado
à fase da própria negação;

Cá por mim quero gritar bem alto
que valeu a pena aquela madrugada com outro sabor.
Que valeu a pena aquele dia
que de novo nos fez experimentar o que não sabíamos.

Apesar de tudo.
Apesar de todos os erros cometidos
(e que continuaremos a cometer).
Apesar dos nossos enganos e desilusões.
Apesar de nós próprios, até.

Por isso sabe bem re-descobrir e tornar a sentir
o sabor, o calor, a alegria do 25 de Abril de 1974.


(Já agora: que bem que me soube o Zeca, ontem trazido até nós – embora a horas tardias – pela RTP1)

segunda-feira, abril 24, 2006

Gente de Paz (II)

Há gente que dorme
Em camas largas e brancas
E que sonha alvoradas de sossego

Há gente que acorda
E tem o seu café com leite fumegante
E o pão barrado de quente

Há gente que passeia
Por largas alamedas trabalhadas
E se senta em esplanadas polidas

Mas há gente que acorda
E não sabe como vai poder
Olhar os seus com olhos sem leite

Mas há gente que não dorme
Porque o tecto que o devia proteger
Foi um sonho que não passou de miragem

Mas há gente que não ri
E deixa escapar uma lágrima
Sobre a criança faminta e cheia de frio

Mas há gente que se cansa
Da sua luta de dias incertos
E desespera de raiva incontrolada

Mas há gente que se esgota
Por caminhos esquecidos e marginais
E desabafa a revolta em espuma de sangue

De acordo e sem comentários

“O mesmo governo que me quer tratar como proscrito por ser fumador, não me venha vender um casino como investimento de interesse público.”
Miguel Sousa Tavares
Expresso
, 22 de Abril de 2006

sábado, abril 22, 2006

Gente de Paz (I)

A Paz aconteceu
Porque alguém sonha novas manhãs

O sonho é sempre a loucura
Daqueles que assumem em si
A palavra Fraternidade

A Paz é possível
Mesmo se o homem possuir
Ânsias de poder ou de glória
E se esquecer
Que a vida depende do seu viver

Tempos houve
Que estragaram a minha rosa
Agarraram-na
Espezinharam-na
Arrancaram-na
E lançaram-na no meio de cardos

Mas quando a descobria
Já descolorida
Suja
Dorida
As minhas mãos eram suaves
Nas suas pétalas

E então ela abria-se
E renascia
No jardim do meu coração

sexta-feira, abril 21, 2006

Juro que eu não queria dizer nada!

Por norma não gosto de “bater no ceguinho”.

Mas, depois de ler isto e isto, lá que eles se põem a jeito, lá isso põem. E depois queixam-se…

quinta-feira, abril 20, 2006

Par(a)lamentos

Palavra de honra que fiquei com um sorriso nos lábios ao ler no Correio da Manhã, de hoje, esta pérola: “O líder da bancada parlamentar do PS, Alberto Martins, propôs ontem a redução de três para duas o número de sessões plenárias por semana. A proposta surgiu após a polémica ‘gazeta’ parlamentar do passado dia 12, onde 107 deputados falharam a votação no Plenário. A publicação dos nomes dos faltosos no ‘site’ do Parlamento fez ainda despontar ontem o mal-estar entre os deputados e o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama”.

Já agora, como comentário, segundo o
Diário de Notícias, também de hoje, na sua rubrica de Opinião, “a edição desta semana da Quadratura do Círculo produziu retratos cruéis dos parlamentares portugueses. Na maior parte, "são pessoas que nunca, num país civilizado, deveriam ser deputados", disse Pacheco Pereira. "Um líder de bancada parlamentar", confidenciou Lobo Xavier, "só tem confiança em 20% do seu pessoal, ou seja, naqueles que têm um mínimo de qualidade." A questão de fundo "é o facto de o sistema político ter um modo de funcionamento completamente ultrapassado", suavizou Jorge Coelho”.

Palavra de honra que ainda me resta um sorriso nos lábios…

Contradição

De súbito a contradição.

Não nego a razão
Mas desracionalizei-me
No deserto.
E construí
Uma cidade de impulsos
Onde não se teoriza
Mas se sente.

E contudo eu
Nós…

quarta-feira, abril 19, 2006

In memoriam

Foi há 500 anos. Em Lisboa, o fanatismo obscurantista de uns tantos que então julgavam ser os detentores da verdade única sobre todas as coisas, resolveram extirpar todos os que não correspondiam ao modelo aceite. Entre dois mil a quatro mil morreram, então. Eram judeus que nesta Cidade de Lisboa procuravam cumprir o seu direito à cidadania.

A memória é sempre a memória. Para todos, sem exclusões. Há quem a queira praticar e respeitar e há quem dela se afaste. Mas a memória é sempre a memória.

A injustiça é sempre a injustiça. Ao Norte e ao Sul, a Oriente e a Ocidente, a injustiça é, foi e será sempre injustiça. Não há injustiça justa e injustiça injusta.

Hoje, neste caso, estou com a
Rua da Judiaria, no respeito pelo seu direito à memória.

terça-feira, abril 18, 2006

Enganos e enganos

“O tablóide britânico The Sun anuncia hoje que nenhum dos polícias envolvidos no tiroteio no metro de Londres que levou à morte do brasileiro Jean Charles de Menezes vai ser acusado e levado a tribunal”, conforme se pode ler no Expresso On-Line.

Segundo o mesmo, “foram cometidos erros, mas eles não correspondem a um comportamento delituoso”. E mais: “Não se pode esperar, realisticamente, que sejam levados a tribunal”.

Na verdade, para alguns, os “enganos”, os “erros”, mesmo se deles resultar a perda de vidas humanas, são, afinal, meros acasos, no quotidiano da vida. É pena.

Já agora, gostaria de saber onde andam as muito habituais “consciências iluminadas” que passam a vida a debitar, às vezes até à histeria, discursos e orações em defesa da vida?…

Os representantes a que temos direito

Lê-se hoje, no Correio da Manhã, que “João Rebelo, deputado do CDS-PP, é um dos 107 parlamentares que faltaram à votação na sessão plenária da passada quarta-feira. Sem meias palavras assumiu ontem ao CM que não vai apresentar justificação. “Faltei por motivos pessoais que não se enquadram nas possibilidades previstas pelo regimento”, declarou.” Vá lá, vá lá. Haja alguém que fale uma linguagem normal. Que se assuma e não se esconda em privilégios conseguidos à custa dos outros. Honra lhe seja feita!

Já agora, segundo o
Diário de Notícias, “O PS deverá decidir hoje algumas iniciativas no sentido de alterar o sistema de controlo das faltas dos deputados, na reunião da direcção da bancada parlamentar.” Cá para mim, vindo de quem vem (dos próprios deputados, eles mesmos) mais parece que tudo não passarão de desculpas de mau pagador. De consciências mal sossegadas, que de sossego apenas desejam que não se fale delas.

Curiosamente, para o PSD, "os deputados têm de ser adultos no cumprimentos dos seus deveres, mas a avaliação cabe ao eleitorado. Assim, e para o futuro, a receita é "ter mais algum cuidado" na gestão das presenças, mas sem recurso a "soluções contra-natura".

Enfim, quer me cá parecer que o melhor é nem dizer nada. É que o prémio que ganharam todos estes ilustres membros do segundo órgão de soberania foi o apenas terem começado a semana hoje, Terça-feira. Nós, restantes mortais, começámos ontem…

No fundo, se calhar, todos nós até temos um pouquinho de culpa. Afinal, não teremos sido nós quem escolheu este Parlamento? E deixemo-nos de desculpas farisaicas do género “Eu cá não tive culpa. Nem votei sequer.” Esses, se calhar, nem respeito merecem…

segunda-feira, abril 17, 2006

Foi bom

E pronto! Cá estamos de novo.
Mas lá que soube bem, lá isso soube.
Aqui andei – e quanto o precisava fazer. Mas também corri. Duzentos metros, mais ou menos, que isto de esforços pesados já não é para mim. Mas deu para perceber as saudades das corridas e dos jogos em que a velocidade também conta.
Aqui li e reflecti – e bem necessitado estava. Sobre tudo. Sobre mim, sobretudo.
Aqui vivi a família. Às vezes só nos apercebemos destes “pormenores” quando sentimos a falta. A falta desse “pormenor”. Mas, já agora, e cá por mim, diria antes: desse “pormaior”.
Ámen!

quinta-feira, abril 13, 2006

Páscoa Feliz

Salvador Dalí
Cristo Crucificado
Pintura (1904-1989)

Semana Santa (II)

El Greco
Cristo en la Cruz
1590
La Pinacoteca de la Pontificia Universidad Católica Madre y Maestra

quarta-feira, abril 12, 2006

Semana Santa

Eu, pecador, me confesso.
Que o que sou
Nada mais é que o homem
Errante nesta terra bravia e selvagem.
Que o que sou
Nada mais é que o desejo
De ser outro, afinal, mas igual no ser.

Eu, pecador, me confesso.
Mas, onde se descobre o meu pecado,
Talvez esteja, afinal, o mesmo ser
Capaz de querer a tranquila razão
Onde a razão tempestuosa se manifesta.

Eu, pecador, me confesso.
Mas ao confessar o meu pecado
Nada mais faço e quero
Que poder afirmar para todo o sempre
Que humano me fizeram
E humano me continuo a descobrir.

terça-feira, abril 11, 2006

É da época

Não sei porquê, mas nesta semana vieram-me à memória outros tempos, outros locais, outras gentes. Mas sempre os tempos, os locais, as gentes que ficaram bem gravadas no mais dentro de mim próprio. E que, com as suas (nossas) vivências deixaram marcas bem profundas na minha história, na minha maneira de ser, na forma como tenho encarado as coisas da vida.

Como bem me lembro das aprendizagens, da vivacidade, das descobertas, das correrias das ruas dos Olivais. E também dos amores e dos desamores, das alegrias e das tristezas, dos combates, das lutas e das reconciliações. As saudades que já senti, meu Deus!

E que dizer dos princípios, dos inícios, dos primeiros passos dos campos, verdes ainda, de Chelas. Os braços abertos, sem mais que sentimento como posse, as palavras primeiras que como inéditas se transformaram em projecto, pensado e tentado. E os encontros ao redor de uma chávena de chá, que animavam o nosso estar e permanecer. As saudades que eu já senti, meu Deus!

Não sei porquê, mas nesta semana vieram-me à memória outros tempos, outros locais, outras gentes. Talvez seja do espírito desta semana.

segunda-feira, abril 10, 2006

Busco a Luz

Ruas desertas
Cidades áridas
Esquecido o homem

Eu sou o último
Dos que esperam.
Sou o que resta
Dos que retidos
Ficaram aqui

Busco a luz
Por entre trevas
Anónimas
Estrela paralisada
Por gestos inúteis.

Procuro a saída
Por entre portas fechadas
Que tento abrir
E descubro
A tua palavra
Retida em bocas
Paralíticas de medo.

(Teorema, Dezembro 2003)

sexta-feira, abril 07, 2006

Bom Fim-de-Semana

Mariano Moré
Mercado de Quirós

Ti João

O Ti João é o meu vizinho de baixo. É assim que o tratamos carinhosamente, eu e o meu amigo Tó, afinal também ele meu vizinho, mas lá mais acima.

O Ti João passava agora os seus sessenta e tal anos entre a casa, a pequena horta que ainda vai mantendo com o desvelo e o orgulho possíveis e o café onde cultiva alguns amigos.

O Ti João lá ia passando os dias calmo e sereno como calmos e serenos deveriam ser todos os tempos daqueles que já vão mais acima na montanha que é a vida. Mas, apesar da calma que teimosamente insistia em cultivar, o Ti João já se cansava muito. Demais para o que esperava ser o seu normal. E isso trazia-o há algum tempo já inquieto.

Um dia, há pouco tempo, um dia igual a tantos outros, cansado mas calmo, numa pergunta indiscreta ao médico a quem se queixava do coração pesado, ficou a saber o que temia mas não sabia. E do saber a Santa Marta foi um momento breve, de espera inquieta. E da espera ao bloco foi um saber e sentir nova válvula e melhor desobstrução de artérias de trânsito bem congestionado.

Um dia destes estive lá em casa. Sentado à janela do quarto, agarrava-se ao som e à luz lá de fora. Era o contacto com a rua que não queria perder, já que o corpo ainda sentia a fraqueza que lhe tolhia os movimentos.

Olhei-lhe o peito e gostei de ver a costura ainda com metade dos agrafos. Mas bem seca e limpa. E o sorriso que lhe descobri no rosto pareceu-me o meu há ano e meio.

Quando me despedi, ainda o ouvi dizer: “No Sábado, vou à horta ver como estão as verduras. A filhota leva-me no carro.”

E não é que me parecia que era uma criança bem feliz a falar, aquele que me acenava na despedida?

quinta-feira, abril 06, 2006

Até os deuses ficaram tristes

Foto: www.clubenavalpovoense.com


Estou triste. Hoje acordei como me deitei. Com um travo amargo na boca. Apetecia-me tanto ter tido ontem uma alegriazita e, afinal, os deuses esqueceram-se de mim.

Aliás basta ver o dia de hoje para percebermos que também os deuses ficaram tristes e ainda estão a chorar.

quarta-feira, abril 05, 2006

E porque não... acreditar?

Palavra de honra, se não gostaria de ter, hoje, uma alegriazinha.
E se acontecesse lá para as 21.45 horas, então era mesmo um delírio.

Mas lá que gostaria de ter uma alegriazinha, hoje...

Uma pequena linha

Era uma vez uma pequena linha
Que se empinava sorrateiramente
Por cima de um papel ainda virgem

E essa linha sabia bem
O quanto o vazio do papel
Poderia ser o vazio
Da sua própria vida

terça-feira, abril 04, 2006

Há festas e festas

Uma festa só é festa
Se soubermos conjugar
O verbo partilhar

Uma festa só é festa
Se soubermos percorrer
A estrada da alegria

Uma festa só é festa
Quando somos

segunda-feira, abril 03, 2006

Fama a quanto obrigas

Muito se tem ultimamente falado, sobretudo na comunicação social, sobre a polémica que tem envolvido Margarida Rebelo Pinto, a sua editora e João Pedro George e o seu livro “Couves & Alforrecas, Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto”.

Cá por mim: a quem estiver interessado, nomeadamente à editora de MRP, e já agora à própria também, quero comunicar que tenciono escrever um livro sobre a forma de escrever de alguns escritores, nomeadamente MRP, que terá o título “Brócolos & Carapaus”.

Será uma crítica literária à escrita de alguns escritores, nomeadamente MRP, e começará a ser escrito quando a editora de MRP avançar com uma providência cautelar.

É que, simples e mero mortal, também eu tenho direito à publicidade mais eficaz.