segunda-feira, junho 30, 2008

Um certo João

João vive a vida com a naturalidade daqueles que acabam por saber que a vida acaba quase sempre por ser apenas mais um dia em cima de um outro. Para ele, as horas, os dias, os meses, quiçá os anos, são apenas gotas que inundam o mar da vida.

João olha as coisas da vida como se delas apenas soubesse que ali estão. E mais não consegue entender, até porque acha que o tempo que vai gastando é afinal o tempo que tem à sua frente. Por enquanto. E isso, em vez de o perturbar, para não dizer outra coisa, parece mais que o fascina, como se deixa fascinar pelo Sol que se põe, ou pela nuvem que desenha imagens lá bem em cima.

Porque sempre quis viver a vida vivendo, João sempre se foi deixando envolver nos vários, quase muitos, projectos e ideias que permanentemente lhe iam sendo desvendados. Sempre acompanhado por outros que, como ele, gostavam de viver a vida assim, ousavam permanentemente a esperança sem desfalecimento. E acreditavam piamente que haveria de chegar um dia em que de seu haviam de chamar.

Mas como nestas coisas do tempo, o tempo não tem tempo, o próprio tempo vai caminhando a viagem intemporal. E quando se dá por ele, descobre-se que afinal o tempo não é mais que passado. Não é mais que presente. E mais não é que futuro.

Depois de ter começado mil e uma coisa, depois de ter interrompido mais de mil e uma coisa, depois até de ter recomeçado outras mais de mil e uma coisa, um dia, João deu por si como se estivesse no início de tudo. Depois de mais de mil e um recomeços, sem ter chegado a saborear sequer qualquer coisa que de concreto o deixasse ufano e orgulhoso, João apenas conseguiu descobrir que se calhar afinal a vida acaba quase sempre por ser apenas mais um dia em cima de um outro.

Ele que até passa a vida a dizer ser um sortudo da vida. Porque conhece a casa onde vive e a gente com quem partilha o tempo que teima em temperar os dias, os meses, os anos.

Por mim, estou em crer que um dia, João acabará mesmo por adormecer finalmente na praia.

Dixit

«(…) Creio que cada vez são mais os excluídos e menos os incluídos, se não se reformularem os mecanismos de diálogo e de concertação. Como fazê-lo? Eis um desafio. Mas não serão, certamente, aqueles que já estão instalados a dar o primeiro passo. Para esses, sejam sindicatos sejam patrões, o sistema é perfeito: o Governo finge que eles são importantes e eles fingem que estão com o Governo.»
Henrique Monteiro
Para que serve a Concertação Social?
Expresso, 30.06.2008

sexta-feira, junho 27, 2008

quinta-feira, junho 26, 2008

Pancada primeira

Uma pancada se ouviu
Sonora e áspera
Na dissonância desregrada.

Uma pancada estridente
Na porta coberta e segura
Ousou acordar o nosso silêncio.

Uma pancada seca e grave
Arrancou das nossas gargantas
Um grito de força e querer.

terça-feira, junho 24, 2008

Até que enfim, alguém diz o que tem que ser dito

«(…) Eu gosto de acreditar que há momentos em que uma nova geração de adeptos deixa de ter paciência para os conflitos de sempre, para as guerrinhas de sempre, para as queixinhas de sempre. Eu sou do Benfica, eu adoro o Benfica, mas já não tenho mais pachorra para a velha guerra com o Porto, que dura há 20 anos. Já não tenho pachorra para as ironias de Pinto da Costa. Já não tenho pachorra para as indignações de Luís Filipe Vieira. Meus amigos: eu gosto é de bola. Se o Porto roubou, que seja punido. Mas a primeira preocupação do Benfica tem de ser as vitórias que realmente interessam - aquelas que se conseguem em 90 minutos, em cima de um relvado. Portanto, meu querido Benfica, é como se costuma dizer nas peladinhas entre amigos: cala-te e joga.»
João Miguel Tavares
MEU QUERIDO BENFICA: PORQUE NÃO TE CALAS?
Diário de Notícias, 24.06.2008

segunda-feira, junho 23, 2008

Momentos íntimos

A maior parte das vezes
O difícil não são
Os muitos passos necessários
À caminhada a fazer.
Difícil, difícil,
Acaba quase sempre por ser
O primeiro passo a dar.

domingo, junho 22, 2008

Outros olhares

Pedro Rafael Gonzalez Chavajay
El Pan Nuestro (Our Own Bread)
Imagem daqui

Momento breve

Para além das horas
Dos dias
Dos meses
E dos anos
Há também no tempo
Um momento
Tão breve
E tão ténue
Que nos desafia
Nos questiona
Nos perturba
E nos inquieta.

É o momento
De olharmos de frente
O nosso próprio olhar.

É que à nossa frente
As mais das vezes
Apenas sabemos
O que não sabemos.
Apenas olhamos
O que não se pode ver.

sábado, junho 21, 2008

quinta-feira, junho 19, 2008

Momentos íntimos

Não te vi chegar.
Nem era preciso
Saber que estavas.
Aqui, onde me descubro
Apenas te senti
E encontrei.

quarta-feira, junho 18, 2008

A ler

ONDE PÁRA A ESQUERDA?Baptista-Bastos – [Diário de Notícias]

Divagações [3]

Tenho na minha caneta
A tinta que escorre breve
E me preenche os papéis
Com que procuro afirmar
A minha essência de vida.

segunda-feira, junho 16, 2008

Pensamentos subversivos (LXIX)

Não. Não vou falar do treinador da nossa selecção nacional de futebol. Nem do jogo de ontem.

DI: É evidente que o que mais quero é que os nossos ganhem o Europeu!

domingo, junho 15, 2008

Outras Leituras [perdidas no tempo]

Açorda à portuguesa

Pão de trigo, sem ter sombra de joio;
Azeite do melhor, de Santarém;
Alho do mais pequeno, e do saloio,
Ponha em lume brandinho e mexa bem;

Sal que não seja inglês – porque é remédio.
Toda a criança assim alimentada
É capaz de deitar abaixo um prédio
Quatro meses depois de desmamada.

Com este bom pitéu, sem refogados,
Invenção puramente lusitana,
Os ilustres varões assinalados
Passaram ‘inda além da Taprobana.

Fortes p’la açorda, demos nós aos mouros,
Como se sabe, uma fatal derrota;
E abiscoitámos majestosos louros
Para os nobres troféus de Aljubarrota.

In A Cosinheira das Cosinheiras,
Por Rosa Maria
Empresa Literária Universal, Lisboa, [Século passado]

sexta-feira, junho 13, 2008

Outros olhares

Imagens africanas (Zaire) de Stº António datas do séc XIX
Museu fur Volkerkunde de Berlim
Imagem daqui

terça-feira, junho 10, 2008

Os meus olhares


A ler

Mas qual, Senhor, mas qual?

“Hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”
Público, 09.06.2008

segunda-feira, junho 09, 2008

Outras leituras

«(…) De facto, para que serve uma "off-shore"? Para esconder dinheiro - nada mais. E porque se quer esconder dinheiro? Por más ou menos boas razões. As más são para ajudar governantes corruptos a roubar os respectivos países ou branquear lucros de actividades criminosas, tais como droga, contrabando de armas, de meninas do Leste ou compras e vendas de jogadores de futebol por valores diferentes dos declarados. A razão menos boa é, singelamente, para fugir ao Fisco. Parece que os muito ricos sofrem de uma síndroma incurável, que é uma natural repulsa em compartilhar parte da sua fortuna com o Estado, por via fiscal. E o Estado, compreensivo, aceita a sua repulsa de acordo com o princípio patriótico de que mais vale um rico que foge ao Fisco do que um rico que foge ao país. O "off-shore" da Madeira foi criado em obediência a esta fatalidade: "Se o não fizermos, eles põem o dinheiro no Luxemburgo ou nas ilhas Caimão". Eis porque é uma hipocrisia o Ministério Público andar agora desconfiado do "off-shore" da Madeira. Desconfiado de quê - de que ele serve para o que serve? (…)»
Miguel Sousa Tavares
Heróis do ar
Expresso, 09.06.2008

domingo, junho 08, 2008

Questões pertinentes

Será justa, será legítima, uma sociedade em que a coisa mais intocável, se não «sagrada», é a margem de lucro?
José Carlos de Vasconcelos
Não fechar portas
Visão, 05.06.2008

sábado, junho 07, 2008

sexta-feira, junho 06, 2008

Os 'enganos' do nosso tempo

Vale bem a pena ler o artigo de opinião que Boaventura de Sousa Santos nos ofereceu, ontem, na revista Visão [ainda não o descobri ‘linkado’], assim chamado: “A cultura do ludíbrio”.

Termina assim:

“Para disfarçar o problema moral, os cúmplices da guerra e da destruição têm recorrido a tudo. Um comentador de direita socorreu-se recentemente da mais desconcertante justificação da guerra: se não havia ADMs [armas de destruição maciça], havia pelo menos a convicção de que elas existiam. Ora o livro de McClellan acaba de lhe retirar este argumento. De qual se socorrerá agora?
O trágico é que a ‘máquina’ de propaganda continua montada e está agora dirigida ao Irão. O seu funcionamento será mais difícil e sê-lo-á tanto mais quanto melhores condições tiverem os jornalistas para cumprir o seu Código Deontológico.”

quinta-feira, junho 05, 2008

quarta-feira, junho 04, 2008

A ler

terça-feira, junho 03, 2008

Boa questão

E quem paga tudo isto?
Quais são as consequências práticas para um serviço do Estado ou para um ministério que aplica os dinheiros públicos à margem da lei? Como é possível que existam 1700 milhões de euros em irregularidades na Conta Geral do Estado?

Miguel Alexandre Ganhão
Correio da Manhã, 03.06.2008

segunda-feira, junho 02, 2008

domingo, junho 01, 2008

Dia Mundial da Criança [Era bom que se pensasse nisto!]

«Muitas crianças da grande Lisboa não comem jantar completo
Geralmente sentem-se felizes, gostam da escola e do bairro onde vivem. Mas quase metade (45,8 por cento) das cinco mil crianças inquiridas em sete concelhos da Grande Lisboa dizem que sentem que a família tem dificuldades financeiras.
Apesar de serem raras as que afirmam que não têm comida em casa quando têm fome (2,4 por cento), só uma pequena parcela (12 por cento) costuma fazer uma refeição completa de sopa, prato e fruta ao jantar. O que, segundo um grupo de investigadores, indicia “potenciais problemas ao nível da dieta alimentar”.
Chama-se "Um olhar sobre a pobreza infantil – Análise das condições de vida das crianças" e é um estudo de Amélia Bastos, Graça Leão Fernandes e José Passos, do Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, e de Maria João Malho, do Instituto de Apoio à Criança.»
Público, 01.06.2008

Os meus olhares [Rock in Rio]