segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Entrudo


Ó entrudo Ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
as mocinhas ao solheiro

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é qu'eu estou bem
Que no monte é qu'eu estou bem

Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é qu'eu estou bem

Estas casa são caiadas
Estas casa são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira

Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira

José Afonso

Permitam-me o entusiasmo...












Eu estive lá e o coração aguentou!



sábado, fevereiro 25, 2006

Regresso

Era noite quando abandonámos
A cidade que era já uma história
Nas nossas vidas vagabundas
Cidade que não era a nossa
Cidade que não escolhemos
– Nem nos escolheu –
Cidade que não nos acolheu
Era noite quando descalços
Sacudimos aquele pó bolorento
Das nossas sandálias velhas e amigas

(Teorema, Dezembro 2003)

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Porque amanhã é Sábado

Eugénia Tabosa
Liberdade
Óleo sobre tela, 1966

Outras leituras

Gostei do que li aqui. E concordo. Completamente.

E não resisto a citar o final do texto de Pedro Rolo Duarte (DN, 22.02.06): “Eu já desconfiava, mas agora tenho a certeza: o escândalo, tal e qual o conhecemos, chegou ao fim. Agora vivemos na normalidade democrática. Tão normal e tão democrática que somos realmente todos iguais. Impunes. E a fazer pela vida. Cada um como pode, claro...”

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Sinais dos tempos

Há escolas do primeiro ciclo a serem encerradas, ou com processos de encerramento em curso. Por não terem, dizem, alunos em número que as justifiquem.

É um sinal dos tempos.
É um sinal de que alguma coisa não vai bem.
É um sinal do deserto em que muitas zonas se estão a tornar.
É um sinal também do silêncio e do abandono, por muitos, das suas origens.

Não quero aqui dizer o meu lamento pelo encerramento desses locais de educação e ensino, deixar a minha perplexidade pelo fim desses espaços, manifestar a minha tristeza e, quase, a minha revolta, por esse sinal.

O que me incomoda aqui é que não vejo, da parte de quem tem essa missão, sinais claros de que está consciente do que importa neste caso. Não vejo, da parte de quem tem essa missão, vontade de mudar os ventos do tempo. De combater o deserto em que estão a tornar-se muitas das zonas do nosso “interior” comum.

Como dizia Henrique Monteiro (Expresso, 18.02.06), “há muito país para lá da faixa litoral”.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Eis-me aqui (2)

Eis-me aqui perante
O que resta da minha capacidade
De olhar o longe
E o distante do tempo

Eis-me aqui perante
O que sei de mim e do meu
Saber o que resta do caminho
Mesmo se do destino
Apenas souber que não sei

Eis-me aqui perante
O que desconheço da história
Que de mim se soube
O que não descubro nas palavras
Que ainda ficaram por dizer

Eis-me aqui sempre
Desconhecido e descoberto

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Adeus Wilson

O Wilson foi-se embora. Partiu. Deixou-nos.

O Wilson foi-se embora como tinha chegado. Há cerca de sete meses. Em silêncio. No silêncio dos que da vida apenas conhecem o estarem. No silêncio em que se ouve apenas o bater do coração.

Há cerca de sete meses, o Wilson chegou a casa dos seus pais. Vinha com a alegria feita esperança de dádiva divina.

Mas a juventude dos seus pais, nos seus trinta e muito poucos anos, depressa descobriu que o silêncio da chegada mais não era do que o silêncio da vida que não podia manifestar-se em plenitude.

Mas a juventude dos seus pais revelou-se grande na força gerada no combate desigual e, fatalmente, inglório.

Mas a juventude dos seus pais manifestou-se bem madura na coragem, na perseverança, na teimosia, na vontade de lutar. Mesmo que da luta apenas resultasse a vontade de lutar.

Hoje não é tempo de perguntar o que é que o Wilson veio cá fazer neste tão curto espaço de tempo. Não é tempo de perguntar porque nos veio visitar e depois tão depressa partir. Visita súbita e furtiva. Hoje não é tempo de porquês. Esses, hoje, não são importantes. Pelo menos para mim.

Hoje é tempo de dizer ao Wilson que, apesar da brevidade da sua visita, gostei mesmo de o ter conhecido. Que, apesar de apenas nos termos encontrado no silêncio da dor da dúvida, valeu a pena tê-lo encontrado no meu caminho pela vida.

Hoje é tempo de olhar os meus primos, os pais do Wilson, e com eles estar. Com eles continuar a arriscar a vida, mesmo que dela às vezes, como aconteceu também com o meu irmão António, apenas nos fique o sabor amargo da derrota. E do desânimo.

O Wilson foi-se embora. Partiu. Deixou-nos. Para onde foi, não o sei. Nem, se calhar, é importante, agora.

Hoje, perante o branco do seu esquife, apenas quero dizer ao meu pequeno primo Wilson, utilizando as palavras do meu irmão Nelo: “Até um dia priminho!”

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Envelopes

Diz o Expresso (18.02.06) que o inquérito ao caso do “Envelope 9” mantém sob investigação, além do jornal “24 Horas”, a conduta dos magistrados do Ministério Público (MP), dos agentes da Polícia Judiciária e dos funcionários da PT.

Com o que se passou na passada semana, quer-me cá parecer que uns já foram mandar calar outros. Já podemos todos ficar descansados. Como diria o outro, tudo continua dentro da normalidade.

Volto a repetir: Souto Moura, o Senhor Procurador-geral da República, não tem culpa nenhuma no que se está a passar. Ele está a fazer exactamente o seu papel. Se calhar, serão outros que não estão a cumprir o seu.

domingo, fevereiro 19, 2006

Eis-me aqui

Eis-me aqui
De pé perante a vida

Onde estou, onde vou
Onde fico, onde chego
Encontro sempre
O sabor e o sentir
Do tempo que não retenho

Quando estou, estou
Não parto nem fico
Ausente e escondido

Quando sou, sou
Não invento nem recrio
Sentimentos de fuga e perda

Eis-me aqui
De pé perante a vida

De pé perante mim

sábado, fevereiro 18, 2006

Porque amanhã é Domingo

Matias Gonzalez Chavajay
“Baile de Conquista, Sololá”

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Porque amanhã é Sábado...

Cézanne, Paul
Montagnes en Provence (Mountains in Provence)
National Gallery, London

Densidade

Na minha cabeça
O nevoeiro
Impera.

Tenho ânsia de correr
E os meus pés
Tornaram-se como chumbo
Solidificado.

Exijo na minha cabeça
As cores que me roubaram.
Não respeito regras
Dogmas Leis Normas.

Vivo da arbitrariedade
E consumo-me em fumos
Que se evaporam.

Sou réstia
E sou sobra do lixo
Deste planeta que amo
E detesto.

Grito e apago-me.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Mistérios

Já agora, e na sequência da entrada anterior, sugiro uma ida aqui e aqui (Câmara Corporativa), onde se alude, a propósito, a Grandes Mistérios do Universo.

Surrealismo

Surrealismo mesmo. Sem dúvida alguma. Só pode ser. Toda a gente, de bom senso, diga-se, o diz.

O que se passou ontem na sede do jornal 24 Horas foi digno de um filme menor. Daqueles que estão condenados ao esquecimento. Ao desprezo das mentes sãs.

O que se passou ontem no jornal 24 Horas só pode ser considerado como um caso surrealista. Para estudo. Do que não pode acontecer.

E já agora, é curioso que o que se passou na sede do Jornal 24 Horas, não se passou por exemplo nas sedes de outros órgãos de comunicação social que tiveram manchetes do mesmo timbre.

E é também curioso que isto se tenha passado agora.

E já agora, é curioso que o Presidente da República, tão solícito a tecer considerações sobre tudo e sobre todos (que até recebe, pelo menos alguns, órgãos sindicais em luta), venha agora a dizer que não tem comentários a fazer.

Não, de facto, o Senhor Dr. Souto Moura, Procurador-geral da República, não tem culpa do que se está a passar. Ele está a fazer exactamente o seu papel.

Se calhar, serão outros que não estão a cumprir o seu.

Terra Encantada

O blogue do meu irmão Proteu mudou de nome. Rebaptizado, enfim. Em Terra encantada. Afinal, na terra que ele gostaria de encontrar, local onde gostaria de se espraiar de vida por viver. Terra Encantada que, se calhar, ainda do encanto lhe falta a terra.

Em
Proteu, fica-nos o site, página onde ele navega através de si próprio. Com mais tempo. Com mais tranquilidade e serenidade. Mas mais arguto e incisivo.

Que a Terra Encantada seja o espaço que ele sonha, tendo Proteu a comandá-la.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O Protesto

Chegou como qualquer um que vinha ao que vinha. Não se distinguia de quem por ali andava, ou mesmo de quem apenas por ali passava. No rosto, no aspecto, na figura, a mesma expressão comum naquela noite que, afinal, não tinha arrefecido assim tanto.

Apenas um senão o diferenciava dos outros. Apenas um pormenor o individualizava do colectivo sem forma específica. Uma caixa de papelão que trazia debaixo do braço. Lá dentro espreitavam algumas folhas de papel A4, escritas apenas de um dos lados.

Quando as pessoas começaram a chegar a este espaço que de cultura tinha o nome, as folhas começaram a sair lá da caixa de papelão que estava debaixo do braço de quem não se distinguia particularmente dos outros ali a cirandar. E lá foram sendo distribuídas por entre a perplexidade de quem as recebia.

Nada tinham a ver, as folhas que estavam na caixa de papelão, com o que ali se passava. Mas tinham a ver com a vida de quem as distribuía. Quase maquinalmente. Das muitas vezes com que repetia o gesto de comunicar.

Não sei se alguém reteve o lá escrito. Alguns chegaram mesmo a ler a folha toda. Os que leram, leram afinal um protesto de alguém que se sentia injustiçado. E que, se calhar, apenas sonhava um mundo mais justo.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Dia dos namorados (Também)

À Amélia, companheira das coisas da vida


Sim, meu amor,
Beijo-te as mãos que me acariciaram
Quando, fatigado, desgastado,
Me estirei sobre a cama
Onde surgiu aquele que nos continua.

Sim, meu amor,
Obrigado por este ano
Pleno de paz e de alegria.

(Teorema, Dezembro 2003)

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Sou

Mortal do infinito sou
E caminho na Via Lactea.
Conduzo o planeta luminoso
Onde nasci e me fizeram crescer.
As estrelas são o meu roteiro
E brilham-me nos olhos abertos
Cometas radiantes de longas caudas.

Sou o eterno do espaço finito
E mergulho nas galáxias mais longínquas.
Pairo no vácuo ao sabor do tempo
E do silêncio componho a minha música.
Ao meu lado caminha o vazio
E espera-me lá longe a noite perene.

Destruidor da idéia me chamaram
E imolado me quiseram oferecer.
Sou prisioneiro de espaços abertos
E libertário de mim somente.
Abriram-me a cabeça e esgotaram-na.
Deixaram-me somente na viagem
A imagem do teu rosto Liberdade.

(Teorema, Dezembro 2003)

domingo, fevereiro 12, 2006

Citação do dia

Francisco Metrass (1825-1861)
Só Deus

Museu do Chiado, Lisboa, Portugal

“Não se pode não ter medo quando se inspira o medo”
Epicuro
"Máximas"


sábado, fevereiro 11, 2006

Divagações de um curioso

As crenças – sobretudo as crenças que nos levam à aceitação ou não aceitação do sobrenatural – sempre têm trazido a polémica ao seio da família humana. E, muitas vezes, bem mais que a polémica, sejamos claros.

Acreditar, não acreditar, duvidar, desconhecer, tem sido mote para a divisão dos homens, dos grupos, das famílias, das sociedades.

Confunde-me que o crer – e o não crer – ainda possa ser obstáculo a que se tenha de escolher entre um lado e o outro das várias barricadas em que a vida nos é tão fértil. Somos todos – homens e mulheres como eu – assim tão diferentes perante a vida e a história?

Não me venham com histórias, nem me embalem em retóricas, arte do contraditório, sofismas ou, perdoem-me, discussões estéreis e inúteis controvérsias.

Começo a sentir que não passa tudo duma grande panaceia. Nada mais que discutir (perdoem-me, mais uma vez) o sexo dos anjos.

Estou a falar, é claro, de homens livres, sem preconceitos, cultos, inteligentes, sérios, honrados e de bons costumes

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Bertolt Brecht



Bertolt Brecht
Dramaturgo alemão, nasce em 1898 (10 de Fevereiro), em Augsburgo.



Precisamos De Você

Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos – aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.

Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.

Confere tudo ponto
por ponto – afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia.

Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por que?
Você faz parte de tudo.

Aprende, não perde nada
das discussões, do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.

Você não será ouvinte
diante da discussão,
não será cogumelo
de sombras e bastidores,
não será cenário
para nossa ação.

(B. Brecht)

Tempos difíceis estes

Hieronymus Bosch
Juízo Final

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Questão d’Águas

Eu bem me parecia que era capaz de andar por aí mosca…
E depois de ver
isto, ainda mais me convenci de que a “mosca” andava mesmo à volta da coisa.

Apito Dourado

Com a devida vénia, e porque me parece que vale a pena “olhar” estas palavras, com atenção, aqui fica um excerto do Editorial, de hoje, do Diário de Notícias:

“O mais relevante deste caso, porém, não tem a ver com futebol. Espera-se que ele venha a ter um efeito preventivo na verdade desportiva, porque simbolicamente acabou o mito da intocabilidade de certos interesses, e, se assim for, muito ganhará o futebol em matéria de credibilidade. Mas fora das quatro linhas jogaram-se outros jogos, que não estarão reproduzidos nos autos mas deixaram sinais importantes sobre a sociedade portuguesa. Desde logo, ao nível da Polícia Judiciária. A acusação hoje conhecida vem confirmar, no essencial, os indícios que motivaram as medidas de coacção aplicadas em 2004, no início da investigação. Significa isto um óbvio e importante triunfo dos investigadores do caso e, em particular, dos dois altos quadros da PJ que foram afastados e ofendidos na praça pública por um então responsável desta instituição, e do juiz Artur Oliveira, que à época dirigia a PJ do Porto e saiu em condições que também estão por esclarecer. Teófilo Santiago e Massano de Carvalho, dois investigadores de brilhante carreira na PJ, viram reposta alguma justiça em relação ao trabalho desenvolvido e provado o erro dos que pugnaram pelo seu afastamento, dado em forma de brinde pelo então director-geral da PJ, Adelino Salvado.”

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Liberdades Indignadas

Muito se tem falado, escrito, gritado, gesticulado, incendiado, protestado, sobre uns desenhos que surgiram na imprensa europeia há tempos. Muito se tem falado e escrito, de facto. Mas também já a morte fez a sua habitual aparição.

Cá para mim, parece-me que, independentemente de outros considerandos ou de outras hipóteses de explicação, se calhar, o que poderemos dizer é: Liberdade de Expressão por um lado e direito à indignação por outro.

Parece-me que o que estará em causa mesmo é como realizar, como concretizar, estes conceitos, estes direitos fundamentais que, afinal, se calhar, todos seremos capazes de subscrever.

No Ocidente, a sensação que se tem é que a resposta (aos “cartoons”, mas se calhar também a muitos outros gestos, actos ou palavras) por quem se sentiu ofendido, foi uma resposta despropositada.

Mas, se calhar, a sociedade de hoje, é ela mesma, uma sociedade cada vez mais despropositada.

Por isso, a grande dificuldade de concretizar o diálogo entre estas duas realidades, que se confinam a ocidente e a oriente deste espaço comum que chamamos a nossa casa universal.

E, sem querer entrar em cabalas fantasistas, apetece-me também colocar uma questão, por vezes bem escamoteada: a quem é que interessa este agudizar de conflitos que se manifestam um pouco por todo o lado? Diria mesmo que é estranho que ainda em rescaldo de Iraques, nos adventos de Irãos, nas democracias das Palestinas, surgisse também agora um conflito de cariz bem mais singular.

Se calhar, os Senhores do Mundo são, de facto, os Senhores da Guerra e do Caos.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Saúde económica (ou uma questão de prioridades)

Preocupa-me (pelo menos faz-me pensar) que o Diário de Notícias (06.02.2006), tenha “Lombalgias custam a Portugal dois mil milhões de euros por ano”, como título de uma notícia. Em vez de “a dor deveria ser encarada como uma questão central na política de Saúde”. E que até poderia ter como subtítulo "a tão propalada necessidade de humanização dos cuidados de saúde prestados ao cidadão passa, em larga medida, pela redução do sofrimento desnecessário".

Como dizia
aqui, é mesmo uma questão de prioridades.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Liberdades politicamente correctas

Nem sempre estou de acordo com o que diz e escreve Miguel Sousa Tavares. Então “clubisticamente”, nem vale a pena falar. Mas quando estou, estou. E não me custa nada dizê-lo.

Vem isto a propósito da crónica “O Cerco”, que nos deixou no Expresso (04.02.06). Que merece ser lida com atenção. E com olhos de saber ver.

Desabafando que “já faltou mais para que um dia destes tenha que passar à clandestinidade ou, no mínimo, tenha de me enfiar em casa a viver os meus vícios secretos”, vem MST lembrar-nos algo que vamos impunemente deixando ir crescendo. A sociedade esterilizada (dizem que a do futuro). De tudo. Até dos sentimentos. (Se calhar, um dia destes, até de nós próprios.)

Como ele, também estou em crer que liberdade politicamente correcta é uma coisa que não existe. Por absurdo. É que a liberdade não pode ter nada a ver com o politicamente correcto. De facto, o ser politicamente correcto, já está a condicionar-nos. Até, a fazer o bem, por vezes.

Se calhar, o melhor era não pensar em caricaturas e pensar, sim, no que estará por detrás de tudo isso.

domingo, fevereiro 05, 2006

Pescador

Beata fumegante e esquecida
Em lábios salgados.
Nos olhos negros e quedos
Esconde-se
A água imensa
Feita luta de cada dia.
Dos dedos calosos e ásperos
Saltam prenhes de vida
Fios suaves
De teares ardilosos.

E quando o dia se fica
E o farol rasga a noite
Ei-los que acordam
Esquecendo dores
De ontem e de amanhã
Até que do mar
O regresso se torne impossível.

(Teorema, Dezembro 2003)

sábado, fevereiro 04, 2006

Há dias assim

Há dias assim. Há dias em que acordamos e dá-nos uma forte vontade de mudar qualquer coisa. Sem motivo nenhum, diga-se. Apenas pelo prazer de fazer algo de novo. É daquelas coisas que não se explicam, não se definem, não se racionalizam. Enfim, faz-se porque... sim.
Desde o início deste blogue que tenho assinado as minhas postagens com três letras apenas: ZMB. São tão somente iniciais de nomes meus. Não me perguntem porquê, porque a resposta é impossível. Há coisas que nem os deuses sabem.
Hoje acordei e resolvi - vejam bem: resolvi! É obra! - passar a assinar as minhas entradas (postagens) neste espaço com o nome pelo qual os meus amigos me chamam. Apeteceu-me, pronto. É um direito (mania, diria) meu.
E já agora, um bom Domingo para todos.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Os teus olhos

Os teus olhos dizem-me a alegria
Dos dias que vives e esperas.

Tens olhos de mar de vento
Tens mãos abertas de dedos suaves.

Os teus olhos sorriem-me
E convidam à festa que preparaste.

Tens pés que percorrem estradas
Tão cheias de gente esquecida.

Os teus olhos riem e dizem
A alegria de estares connosco.

Os meus retêm olhos alegres
E choram de amor inundado.

As correntes na Blogosfera

O amigo Kamikaze, do Banzai, na sua benevolente e criativa maneira de ser, arriscou com a maior das amabilidades, convidar este humilde mortal para participar num jogo “blogosferiano”, do género corrente.

Cada “blogosferico” participante arrisca elencar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.

Ora bem, no que me toca:

1. Gosto de me levantar. Todos os dias, claro. De manhã, de preferência (embora não faça grande questão do momento específico).

2. Gosto de me deitar tarde. Nem que para isso tenha de inventar mil e uma coisas para ocupar essa parte do tempo. Mesmo que tenha de deixar cair a cabeça no sofá e, por isso, arrisque uma séria dor de costas (no mínimo).

3. Gosto de “olhar televisão”. Literalmente. Mais do que ver (e ouvir), gosto de passear os meus olhos pelo ecrã. Mesmo que às vezes nem saiba o que está a passar. E, já agora, gosto de disputar o campeonato do “zaping”.

4. Gosto de comer. Melhor, adoro comer. Melhor ainda, sonho com a comida, como a preparar, novos pratos, novos sabores, sei lá. Mesmo se com isso provoque apoplexias a várias pessoas, desde a minha mulher, ao meu médico de clínica geral, ou ao meu cardiologista.

5. Gosto, afinal, das coisas boas e belas da vida. Gosto de me extasiar com as “maravilhas” que os deuses nos oferecem. E algumas são demais…


Cá por mim, escolho convidar para continuarem esta diversão:

- Proteu
-
Pensamentos de Bolso
-
Pornograffiti
- Conversas à Mesa do Café
-
Essa já é velha...

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Ensino e Educação: uma prioridade?

Num destes dias, num dos telejornais das nossas televisões, foi notícia o encerramento, ou o processo de encerramento, pelo país fora, de algumas escolas do 1º ciclo do ensino básico.

Não sou especialista nestas áreas. Do ensino, apenas conheço o tempo que vivi a frequentar o ensino oficial. Da educação, apenas sorvi o ter vivido com a família. Quer o tempo que passei em casa dos meus pais, quer o tempo que tenho vivido com a minha mulher e os meus filhos. O que, diga-se em abono da verdade, tem sido uma experiência gratificante. Forte e sadia.

Mas não sendo eu especialista, não deixo de me questionar sobre as medidas que vão sendo tomadas pelos nossos governantes. Pelos actuais, neste caso.

Tenho para mim que na vida devemos encontrar as prioridades que são verdadeiramente prioritárias. Para uma boa e de qualidade existência. Só assim se poderá seguir um rumo que consiga responder às exigências dos tempos actuais. Que são, como todos o reconhecerão, tempos de crise. É que também tenho para mim que há coisas que são importantes e outras coisas que são mais secundárias.

Ora neste caso, e só para ficar por aqui, quer-me cá parecer a mim que o Ensino e a Educação são, de facto, uma das coisas importantes. E, portanto e naturalmente, uma das prioridades.

Será assim que os nossos governantes o estarão a entender? Cá por mim, que não sou especialista, tenho sérias dúvidas.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Citação do dia

Deixarás de temer quando deixares de ter esperança
Autor: Séneca
Fonte: "Cartas a Lucílio"

Sejamos claros! É bom não confundir as coisas

É evidente que com a entrada que coloquei ontem, sobre as eleições realizadas na Palestina, o que quero dizer é tão-somente o que disse.

É evidente que o terrorismo (nas suas variadas formas de existência), a violência, a intolerância, o radicalismo, o fanatismo, a morte, em suma, são realidades que devem – que têm obrigatoriamente – ser condenadas. Por todos. Com veemência. De alma e coração.

A bem, é óbvio, de uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais solidária, mais humana, afinal.