sexta-feira, agosto 25, 2006

Vou estar fora uns dias. De certeza que me irão saber bem. Até lá.

Abel Manta, 1888-1992
Jogo de Damas
óleo sobre tela
Museu do Chiado, Lisboa, Portugal
http://www.ci.uc.pt/artes/6spp/frames.html

O Futebol “a sério”

Começa hoje o Campeonato da Liga Portuguesa de Futebol 2006/2007, a dita “BWIN LIGA“. Começa hoje a sério, com o primeiro jogo, Porto – Leiria.

Cá para mim, parece-me mais que começa mas é a brincar. Pelos primeiros passos que se estão a dar (caso Mateus, por exemplo), dá-me a sensação que, afinal de contas, tudo vai continuar na “Santa Paz do Senhor”.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Reflexões em dia de Centro Comercial

Nos princípios dos tempos, os nossos primeiros comiam com as mãos. Depois, vieram os talheres e com a etiqueta, conforme alguns dizem, civilizámo-nos. Hoje, nos tempos hodiernos, como dizemos comummente, modernizámo-nos: voltámos à mesa e usamos de novo as mãos.
Pelo menos nisto, regressámos às origens.

terça-feira, agosto 22, 2006

O Jardim exótico

De Alberto João já nem vale a pena dizer nada. Por isso não vale a pena dizer que antes de chamar alguns nomes aos outros, deveria olhar para dentro do seu reino. Talvez uma única vez que fosse pudesse ficar calado. Todos ficaríamos muito mais felizes e tranquilos, estou certo. Mas, se calhar, talvez não nos divertíssemos tanto…

Jogadas de antecipação

Embora raramente esteja de acordo com eles, tenho de reconhecer que estão atentos. E sabem retirar algumas ilações. Às vezes. Como está a acontecer agora em Setúbal.

E porque não pegar nele e ler?


O Último Catão
Matilde Asensi
Dom Quixote
Outubro 2005




“Na Cidade do Vaticano, encerrada entre códices no seu gabinete do Arquivo Secreto, a irmã Ottavia Salina, paleógrafa de prestígio internacional, recebe a tarefa de decifrar as estranhas tatuagens aparecidas no cadáver de um etíope: sete letras gregas e sete cruzes. Junto ao corpo foram encontrados três pedaços de madeira aparentemente sem valor. Todas as suspeitas apontam para que as relíquias pertençam, na realidade, à Vera Cruz, a verdadeira Cruz de Cristo.”

Uma paleógrafa, um arqueólogo de Alexandria e um Capitão da Guarda Suíça do Vaticano embarcam numa aventura que os leva a realizar sete provas, baseadas nos sete pecados capitais, tendo como objectivo a procura do último Catão, afinal, o líder da Irmandade dos “Staurofilakes” (Guardiães da Cruz). E tudo isto, tendo como pano de fundo “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri (por acaso, também óptima oportunidade para o ler), no caso, a “viagem” de Dante pelo Purgatório, sempre acompanhado e conduzido por Virgílio.

Há coisas, que até podem nem ser verdade. Ou pelo menos, não serem totalmente verdadeiras. Mas lá que são grandes histórias, lá isso são.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Saborear o tempo (ou: o Sagrado Feminino)

A RTT2 tem destas coisas. Continua a ser ainda o espaço onde nos podemos maravilhar, de vez em quando. Como aconteceu, por exemplo, no passado Sábado.

Um concerto de música celta. A música que nos faz encontrar a raiz do que somos.

Naquela hora de magia, cinco deusas levaram-nos à comunhão que só os que oram conseguem. Ao estado de alma que só descobrem os que são capazes de se maravilhar.

Nestes momentos não existe gente a combater outra gente. Não há regiões martirizadas. Nem caminhos de calvário. Nem famílias órfãs de tempo e de espaço.

Nestes momentos a realidade é ultrapassada pela subjectividade, pelo sonho. O tempo cede lugar à intemporalidade.

Nestes momentos, os deuses dão lugar às deusas. E quando isso acontece, o que fica é o regaço tranquilo e sereno que só uma mãe pode oferecer.

Falta-nos, de facto, tempo para saborear e para nos deixarmos maravilhar.


CELTIC WOMAN
RTP2, 19 de Agosto de 2006
(Chloe, Lisa, Deirdre, Orla e a violinista Mairead fazem parte de um grupo de vozes criado pelo compositor e músico David Downes, antigo director musical dos Riverdance)

sexta-feira, agosto 18, 2006

Inquietações

Caminhava como quem carregasse às costas a própria cidade onde deambulava.
O seu caminhar tropeçava a cada passo, como se de pedras, cascalho e vidro, fosse revestido o trilho onde se movia.
A cabeça pendia-lhe, antecedendo passos curtos e cansados. Dos cabelos, apenas a memória do branco da idade.
Numa das mãos, secas como ramos quase sem seiva, um saco de plástico, dos muitos que se esgotam nos supermercados, seguro com a força do medo e do sentimento de parca posse.

Na grande cidade, perdidos no tempo e no espaço, irmanámo-nos na diferença com que alguns nos querem confundir.
Na grande cidade, perdido ele de esperança rarefeita. E perdido eu de apatia geral.
Talvez um dia, porque não?

quinta-feira, agosto 17, 2006

Saborear o tempo

NELY AFFONSO RODEGHIERO
Fraternidade
Óleo sobre tela
http://www.ucpel.tche.br/site/web/bolsaarte/anteriores1.php3?codigo=7


Como é bom o sabor e o calor
Da amizade que se descobre
Livre de cadeias de ideias e juízos.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Tenho para mim que uma sociedade é tanto mais justa quanto mais iguais são os deveres e os direitos de cada um

Tempos de sabores

É bom o ar que se respira quando nos encontramos todos à volta de uma saborosa mesa. E nem é preciso muita imaginação para se encontrar um motivo congregador. Por exemplo, basta um qualquer da família fazer anos. Neste caso, um sobrinho deu-nos o motivo apropriado.

É bom o ar que se respira quando nos encontramos todos à volta de uma amena cavaqueira. E nem é preciso provocar tema de falatório – muito menos elaborar ordem de trabalhos. Basta estarmos para que as palavras se revelem unindo os tempos dispersos e compondo harmonias e desarmonias de músicas re-aprendidas.

É bom o ar que se respira quando nos encontramos. Grandes e pequenos, novos e menos novos, silenciosos e tonitruantes, serenos e entusiasmados. Porque quando estamos em mesas fraternas e partilhadas o ser sobrepõe-se sempre ao ter. Sem outro sentir que não o pulsar da própria vida.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Ameaças hodiernas

É de leitura obrigatória o editorial de hoje, de António José Teixeira, no DN.

Ele há coisas…


Aqui há uns tempos houve festa de arromba cá no burgo devido a um honroso quarto lugar da equipa de todos nós num campeonato do mundo. Como houve aquando dum segundo lugar num campeonato europeu. Houve festa de arromba, e muito bem. Os feitos ilustres são sempre de realçar e comemorar.

Agora, num campeonato europeu, um atleta da equipa de todos nós arrebatou o primeiro lugar em duas das provas desse campeonato. Feito ilustre, ninguém duvidará, estou certo.

Mas, onde a festa de arromba cá no burgo?

quarta-feira, agosto 09, 2006

E porque não pegar nele e ler?



A Caverna
José Saramago
Ed. Caminho,
2ª Edição, Dezembro 2000






Primeiro romance pós-Nobel, esta obra completa a trilogia iniciada com “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995) e “Todos os Nomes” (1998). Aqui, José Saramago mostra-nos muito da sua visão do mundo e do homem, sobretudo retratando nua e cruamente a sociedade actual. Como afirmou à revista “Visão” (26.10.2000), “o que me preocupa neste momento é saber: que diabo de gente somos nós?” Creio bem que Saramago vive a premência (levada, diria mesmo, à exaustão) daquela velha questão que tem vindo a manter-se presente ao longo dos tempos: o Homem, no fim de contas, que(m) é? Veio donde? Corre para onde? Onde está, parece-me que talvez ele o saiba muito bem.

Este livro, “A Caverna” nada mais é que uma história de gente simples. “O homem que conduz a camioneta chama-se Cipriano Algor, é oleiro de profissão e tem sessenta e quatro anos (…) O homem que está sentado ao lado dele é o genro, chama-se Marçal Gacho, e ainda não chegou aos trinta. (…) A filha de Cipriano Algor, que se chama Marta (…) só goza da presença do marido em casa e na cama seis noites e três dias em cada mês. Na noite antes desta ficou grávida, mas ainda não o sabe.” (Pg. 1 e 2)

Ora bem: um oleiro, um guarda, duas mulheres e um cão. Pessoas como qualquer um de nós. Que sabem que “numa escada, aqueles que não descem, sobem, e aqueles que não sobem, descem”. (Pg. 324) E o Centro, universo que engole metódica e inexoravelmente a naturalidade da vida, onde a imitação relega o original para a futilidade da inexistência.

Esta obra tem naturalmente a ver com a caverna da alegoria platónica, o lugar onde as pessoas estão sentadas, olhando em frente, para uma parede onde passam sombras, julgando que essas sombras são a realidade.

“Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros,
São iguais a nós.”
Platão, República, Livro VII

terça-feira, agosto 08, 2006

Queria tanto voar

Queria tanto voar.
Ergo-me, lentamente, da erva fresca
Onde me estirara cansado.
Ao abrir os olhos
Surgiu-me o céu, já avermelhado,
Onde o Sol desaparecia, ainda.

Por cima de mim passou uma andorinha
Talvez migrando, já,
Batendo compassadamente as asas.

E recordei os tempos em que, criança,
Também batia os braços
Como que querendo subir, subir.
Queria tanto voar.

Por detrás de mim, um pinheiro
Dava-me o encosto amigo
Que meu corpo procurava.
Lá no alto, adivinhava uma pinha
Por entre os raios vermelhos
Que rasgavam a copa frondosa.

Apoiado nos cotovelos
Enchi bem a boca de ar,
Carregado de perfumes violentos.
Arfava. O peito subia e descia
Como se de um esforço enorme
Se estivesse queixando.

Fechei os olhos e tentei subir
Para de cima admirar
O Paraíso, onde o torpor me invade.

Queria tanto voar.

(Dezembro, 1979)

segunda-feira, agosto 07, 2006

Confusões protocolares

Vamos lá a ver se a gente se entende. Diz o Correio da Manhã que “Sem quaisquer complexos e com uma atitude tipicamente cristã, o cardeal d.(*) José Saraiva Martins presidiu ontem em Guimarães a uma série de cerimónias religiosas no âmbito das festas da cidade em honra de S. Gualter, demonstrando que a Igreja Católica está preparada para “dar a outra face” quando se sente lesada.”

E mais: “Apesar das polémicas contidas e do mal-estar provocado pela nova lei do Protocolo de Estado, que retirou à Igreja Católica lugar de relevo nas cerimónias oficiais, o prefeito(*) da Congregação do Vaticano para as Causas dos Santos manteve a seu lado o ministro(*) do Trabalho e Segurança Social, Vieira da Silva, que participou na missa e na procissão gualterianas, assim como na bênção da primeira pedra do futuro colégio de Nossa Senhora da Conceição.”

Que o ilustre dignitário da Igreja Católica, no caso o Cardeal D. José Saraiva Martins, é possuidor de uma atitude tipicamente cristã e não tem complexos, não me resta a mínima dúvida. Tenho, aliás, por ele, como me ensinaram um dia, o mesmo respeito que Paulo tinha para com Pedro.

Mas, caramba, vamos lá a ver: trata-se de uma série de cerimónias religiosas. E a presença do Ministro do Trabalho e Segurança Social não veio retirar a qualidade das cerimónias. O protocolo que as regia era o religioso, estou certo. E, nisto, sem crises, quer para o Estado, quer para a Igreja Católica. Não me parece vir daí mal algum ao mundo.

Pior será confundirmos tudo. Pior será querermos aproveitar “tudo” para fazermos vincar as nossas teses. E vermos “alhos” onde apenas estão “bugalhos”. Para não dizer outra coisa, quer dizer, para não dizer que este é um “assunto” encomendado. Às vezes, seria melhor fazermos bem os trabalhos de casa.

Por mim, que não sei se terei uma atitude tipicamente cristã e, se calhar, com alguns complexos, apenas murmuro para os meus botões: “perdoai-lhes Senhor, que não sabem o que fazem”. Nem o que dizem, digo eu.

(*) Já agora, parece-me que não custava nada escrever com maiúscula estas palavras

sexta-feira, agosto 04, 2006

Já agora, podiam-me explicar isto, p.f.?

Eu cá não sei se a OPA da Sonaecom sobre a PT é uma coisa boa ou não. Cá para mim, que não tenho acções da Sonae ou da PT, o que conta é a factura dos serviços que estas empresas me prestam.

Por isso, depois de se assistir a toda esta
disputa pública, o que me fica é isto: afinal, quem é que depois disto tudo vai acabar por pagar toda esta factura?

Canção de nostalgia

Chegaste.
Vieste com o teu sorriso cristalino
Trazendo-me um raio de Sol
Na noite que me acontecia.

Sentaste-te na mesa redonda
Onde escrevia as cartas de trabalho
Para alguém que não conheço.

Trouxeste o céu estrelado
Que se adivinhava nos teus cabelos
Loiros de ouro.

(… …)

Falaste com aquela voz
Que não desejo mais ouvir.
Aquela voz fria… Vazia.

Chegaste.
Trouxeste a primavera o arco-íris.
Inebriaste-me na dança que conhecia
E levaste-me ao centro da sala
Num remoinho de corpos suados.

Depois…
Partiste.

(Dezembro, 1979)

quinta-feira, agosto 03, 2006

Uma questão de força e rigor

O que eu gostava mesmo, era que o actual Governo tivesse, pelo menos, a mesma força e rigor nas variadas iniciativas que leva a cabo.

Quer dizer, quando muda uma lei (seja a da reforma, seja a dos subsistemas de segurança social, seja a do fim de certos privilégios), o Governo do nosso ilustre Senhor Engenheiro José Sócrates deveria ter uma única forma e medida de a aplicar. Não deveria ter uma medida para uns e outra para outros.

Quer dizer, para chamar os ditos cujos pelos próprios nomes, quando se altera uma determinada lei, a sua aplicação não pode ser imediata para uns e “a posterior” para outros. Nem pode nuns casos “cortar” a esmo, sem olhar a quem, e noutros, ficar tudo em “meias tintas”.

Como neste caso. Porque é que às vezes se fica a meio das coisas? Medo de quem?

Tempus Horribilis

Numa guerra, em qualquer guerra, há sempre os dois lados do conflito. O horror, a destruição, o medo, a morte não estão apenas num dos lados. São comuns a todos os intervenientes.

De um lado e doutro, apenas os olhos vazios de ausência.
De um lado e doutro, apenas os olhos parados no longe do tempo.
De um lado e doutro, apenas o silêncio a quebrar a rotina dos dias.
De um lado e doutro, apenas o medo a comandar o nosso destino comum.

Porque numa guerra, em qualquer guerra, não há vencedores nem vencidos. Apenas fica o amargo sabor da negação da vida. Apenas fica a dor de sabermos que o fim está ali mesmo à mercê de qualquer um. De nós próprios, até.

quarta-feira, agosto 02, 2006

A Justiça a que temos direito

Ás vezes pode já ser tarde de mais

(Adenda à entrada anterior)

Não querem lá ver que o homem afinal lá conseguiu perceber o que toda a gente já tinha conseguido perceber há muito tempo?...

O meu SLB e a minha saúde

Curiosamente, quando pensava ver uma partida de futebol, ontem, mais parecia que se encontrava, em Atenas, um grupo de alegres e tranquilos lusos turistas, em ameno passeio por terras de helénica história.

A sério, a sério, depois de ter assistido a alguns minutos (por defesa de saúde própria, mental sobretudo) dos jogos deste início de época, a mim quer-me cá parecer que, afinal, o que o meu SLB mais deseja é participar tão-somente na Copa UEFA, em vez de deambular pela “mítica” Liga dos Campeões.

Cá por mim, cada vez mais me parece que vou continuar a não ter autorização médica (nem da minha mulher) para assistir aos jogos do Glorioso.

terça-feira, agosto 01, 2006

De novo Sibilon

Sem tempo para escutar as vozes que não se calavam, parti ao encontro do meu destino. Ténue era a linha que me separava do normal caminhar que mantinha em actividade esta terra ainda leve de tempo. E o caminho lá estava. Ali mesmo, à minha frente. Sem pressa na partida e sem ânsia no chegar. Caminho apenas. Para me levar ao encontro do que me espera. Se calhar, ainda longe. Não o sei – quem saberá? Não é isso o que importa.

Sem tempo para escutar as vozes que ainda se ouvem dentro de mim, parti sem destino e sem saber. Ténue era a linha que me separava do que não podia perder. E o caminho lá estava. Ali mesmo, à minha frente. Calmo e tranquilo, como calmos e tranquilos são os que sabem que o tempo tem o sabor da própria vida.

Sem tempo para escutar as vozes. Que ainda se ouvem, porventura. Sem tempo, afinal, para me descobrir despojado do que resta de mim.

Porque Sibilon é o ocaso
De um tempo que não desejei
De um espaço que não preenchi.