quinta-feira, setembro 08, 2005

Escritos das férias

Polémicas da crise

Uma das grandes discussões que grassam ainda entre nós todos (para além das autárquicas e presidenciais), tem sido a questão dos investimentos estruturais do Governo, neste caso, o novo aeroporto e a linha de alta velocidade (TGV). Muito se tem dito nos últimos tempos, quer a favor, quer contra. Sobretudo (nalguns lados) contra.

É que, nos últimos tempos, alguns há que tudo têm aproveitado para contestarem e porem em causa a decisão governamental. Nos jornais, mas sobretudo na blogosfera, tem sido um corrupio no sentido de minorarem, apoucarem, menosprezarem a decisão tomada. Com grandes análises, enormes argumentos, muitas e eloquentíssimas palavras, enfim, com toda uma retórica, no mínimo surpreendente. Ou não. E com isto tudo, os epítetos que têm sido colados a José Sócrates e seus ministros têm crescido a um ritmo bem interessante.

Como se a ideia de se avançar com a construção do novo aeroporto e da construção da linha de alta velocidade (TGV) só tivesse surgido este ano. Como se isto fosse uma criação apenas e tão-somente deste Governo. Como se já não se tivesse discutido e encarado este assunto há mais tempo. Que me lembre, já oiço falar nestes temas pelo menos desde os Governos de Cavaco Silva. Bem, no caso do novo aeroporto, parece-me que há bem mais tempo. (É bom não termos memória curta.)

Por isso, quer-me cá parecer a mim, para já, que toda esta sanha que se está a verificar por parte destes iluminados do não, tem muito mais a ver com o facto de parecer ser agora uma forte possibilidade a concretização destes projectos. Enfim, meus caros, é da vida! Que outros o não tivessem querido ou podido fazer, não é culpa deste Governo. É que, afinal parece que se vai fazer qualquer coisa. Em terra de “zero fazer”, sei bem que isto é complicado. Chateia, até.

E já agora, gostaria de saber onde estavam esses iluminados noutras ocasiões. É que nunca ouvi, nem vi, como hoje, esta onda de inquietação, de indignação, de perturbação, mesmo. Onde andavam (e que resultado tiveram), portanto, esses iluminados, quando, por exemplo, se lançou e construiu o Centro Cultural de Belém? Onde estavam quando se lançou e se realizou a EXPO-98? O Euro 2004? E, se calhar, há mais. E nem me quero referir ao Alqueva (até por decoro, se me permitem), porque afinal e embora os “Velhos do Restelo”, o que se verificou foi que aí se pecou pelo tardar da sua realização. Aí, perdeu-se, no fim de contas, tempo demais. (Creio bem que a pedir grandes discussões públicas, grandes debates, inúmeros estudos, porventura referendos, eu sei lá…)

E para que conste, dizem que estes projectos vão custar a cada português qualquer coisa como, mais ou menos, 1.500,00€. (E se for, vá lá, vá lá…) Mas como se dizia há dias no Público, o que era bom questionar, afinal, era que, em 2020, quanto é que cada português gastaria (ou perderia) por não se terem realizado estes projectos.

Por mim, que não sou especialista nestas coisas, quer-me cá parecer que prefiro muito mais correr os riscos inerentes a este desenvolvimento, mesmo que em tempos de “vacas magras”, do que perder o comboio da história. É que, tempos de crise, de “vacas magras”, não podem significar imobilismo, desenvolvimento zero, medo do futuro.

É em tempo de dificuldades que se vê quem são os corajosos.

(Vila Nova de Mil Fontes, 18 de Agosto de 2005)

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