segunda-feira, outubro 10, 2005

O Baú da memória (Coisas antigas)

Não sei porquê, hoje, lembrei-me deste poema, que escrevi há tempos…

Cantarei o meu povo!
Mesmo que o dia que surgiu desapareça
E seja substituído
Por uma longa e escura noite.

Cantarei o meu povo!
Embora a alegria que me invadira
Tenha caído no poço negro e profundo
Da desilusão que me abraçou.

Cantarei o meu povo!
Mesmo que a esperança tardia
Que me tinha prendido
Tenha sido transformada
Numa entorpecente mágoa.

Cantarei o meu povo!
Porque sem ele não vivo,
Não existo, não respiro, desespero.
A ele fui ligado por um acto
Tão belo, tão vital: nasci.

Cantarei o meu povo!
Porque me canto.
(Lisboa, 1980)

(In “Caminhando”, Suplemento de “A Chama”, Olivais Sul, 1983)

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