O Ti João é o meu vizinho de baixo. É assim que o tratamos carinhosamente, eu e o meu amigo Tó, afinal também ele meu vizinho, mas lá mais acima.
O Ti João passava agora os seus sessenta e tal anos entre a casa, a pequena horta que ainda vai mantendo com o desvelo e o orgulho possíveis e o café onde cultiva alguns amigos.
O Ti João lá ia passando os dias calmo e sereno como calmos e serenos deveriam ser todos os tempos daqueles que já vão mais acima na montanha que é a vida. Mas, apesar da calma que teimosamente insistia em cultivar, o Ti João já se cansava muito. Demais para o que esperava ser o seu normal. E isso trazia-o há algum tempo já inquieto.
Um dia, há pouco tempo, um dia igual a tantos outros, cansado mas calmo, numa pergunta indiscreta ao médico a quem se queixava do coração pesado, ficou a saber o que temia mas não sabia. E do saber a Santa Marta foi um momento breve, de espera inquieta. E da espera ao bloco foi um saber e sentir nova válvula e melhor desobstrução de artérias de trânsito bem congestionado.
Um dia destes estive lá em casa. Sentado à janela do quarto, agarrava-se ao som e à luz lá de fora. Era o contacto com a rua que não queria perder, já que o corpo ainda sentia a fraqueza que lhe tolhia os movimentos.
Olhei-lhe o peito e gostei de ver a costura ainda com metade dos agrafos. Mas bem seca e limpa. E o sorriso que lhe descobri no rosto pareceu-me o meu há ano e meio.
Quando me despedi, ainda o ouvi dizer: “No Sábado, vou à horta ver como estão as verduras. A filhota leva-me no carro.”
E não é que me parecia que era uma criança bem feliz a falar, aquele que me acenava na despedida?
O Ti João passava agora os seus sessenta e tal anos entre a casa, a pequena horta que ainda vai mantendo com o desvelo e o orgulho possíveis e o café onde cultiva alguns amigos.
O Ti João lá ia passando os dias calmo e sereno como calmos e serenos deveriam ser todos os tempos daqueles que já vão mais acima na montanha que é a vida. Mas, apesar da calma que teimosamente insistia em cultivar, o Ti João já se cansava muito. Demais para o que esperava ser o seu normal. E isso trazia-o há algum tempo já inquieto.
Um dia, há pouco tempo, um dia igual a tantos outros, cansado mas calmo, numa pergunta indiscreta ao médico a quem se queixava do coração pesado, ficou a saber o que temia mas não sabia. E do saber a Santa Marta foi um momento breve, de espera inquieta. E da espera ao bloco foi um saber e sentir nova válvula e melhor desobstrução de artérias de trânsito bem congestionado.
Um dia destes estive lá em casa. Sentado à janela do quarto, agarrava-se ao som e à luz lá de fora. Era o contacto com a rua que não queria perder, já que o corpo ainda sentia a fraqueza que lhe tolhia os movimentos.
Olhei-lhe o peito e gostei de ver a costura ainda com metade dos agrafos. Mas bem seca e limpa. E o sorriso que lhe descobri no rosto pareceu-me o meu há ano e meio.
Quando me despedi, ainda o ouvi dizer: “No Sábado, vou à horta ver como estão as verduras. A filhota leva-me no carro.”
E não é que me parecia que era uma criança bem feliz a falar, aquele que me acenava na despedida?
1 comentário:
A doce e lenta morte... (?)
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