quarta-feira, agosto 09, 2006

E porque não pegar nele e ler?



A Caverna
José Saramago
Ed. Caminho,
2ª Edição, Dezembro 2000






Primeiro romance pós-Nobel, esta obra completa a trilogia iniciada com “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995) e “Todos os Nomes” (1998). Aqui, José Saramago mostra-nos muito da sua visão do mundo e do homem, sobretudo retratando nua e cruamente a sociedade actual. Como afirmou à revista “Visão” (26.10.2000), “o que me preocupa neste momento é saber: que diabo de gente somos nós?” Creio bem que Saramago vive a premência (levada, diria mesmo, à exaustão) daquela velha questão que tem vindo a manter-se presente ao longo dos tempos: o Homem, no fim de contas, que(m) é? Veio donde? Corre para onde? Onde está, parece-me que talvez ele o saiba muito bem.

Este livro, “A Caverna” nada mais é que uma história de gente simples. “O homem que conduz a camioneta chama-se Cipriano Algor, é oleiro de profissão e tem sessenta e quatro anos (…) O homem que está sentado ao lado dele é o genro, chama-se Marçal Gacho, e ainda não chegou aos trinta. (…) A filha de Cipriano Algor, que se chama Marta (…) só goza da presença do marido em casa e na cama seis noites e três dias em cada mês. Na noite antes desta ficou grávida, mas ainda não o sabe.” (Pg. 1 e 2)

Ora bem: um oleiro, um guarda, duas mulheres e um cão. Pessoas como qualquer um de nós. Que sabem que “numa escada, aqueles que não descem, sobem, e aqueles que não sobem, descem”. (Pg. 324) E o Centro, universo que engole metódica e inexoravelmente a naturalidade da vida, onde a imitação relega o original para a futilidade da inexistência.

Esta obra tem naturalmente a ver com a caverna da alegoria platónica, o lugar onde as pessoas estão sentadas, olhando em frente, para uma parede onde passam sombras, julgando que essas sombras são a realidade.

“Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros,
São iguais a nós.”
Platão, República, Livro VII

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