O Amarelo está lá em baixo, pensou quando sentiu um novo cheiro vindo da rua. Era ele, de facto. Aquele gato irritante que de vez em quando aparecia aqui, e que o irritava até ao tutano. Cada vez que ele aparecia, a rua desertificava-se. O Amarelo era o “padrinho”, o líder, o “protector” da zona. Pelo menos era o que ele gritava permanentemente em altos miados. Para isso, deambulava pelo “seu” território com ostentação. De pelo eriçado, ameaçador e intimidatório, provocava muitas vezes não poucas contendas com os gatos residentes.
Pulguinha, viu-o chegar. Onde se encontrava, no telhado da pequena casa de arrumações da moradia em frente da casa dos seus donos, sentia-se minimamente protegido. Os ramos da buganvília e da roseira que evoluíam pelo telhado, formando pequenos espaços no seu interior, protegiam-no, pelo menos, temporariamente, de investidas de fora. Mas a sua posição não era bem cómoda. Nem duraria muito. E o Amarelo, bem vistas as coisas, era maior que ele. E com mais músculos. Pelo menos mais treinados, seguramente.
Entre ele e o portão verde e grande da casa dos seus donos, o Amarelo tingia de medo a cor negra do alcatrão da Rua. O portão, em ferro, de dois batentes que se uniam ao meio, estava quase sempre fechado, até porque os seus donos não costumavam arrumar o carro na garagem. Mas, embora fechado, o espaço que havia entre o chão e a barra que o apoiava, era suficiente para que ele pudesse passar. Pelo menos era, desde sempre, a sua porta privativa.
Soergueu a cabeça e olhou para lá da rua, com os olhos semicerrados. Lá estava o portão. Lá longe, no longe da presença do Amarelo. Um salto, uma corrida breve e um mergulho súbito, pensou. Levantou-se e olhou longamente a sombra que o inquietava. O Amarelo farejava o que restava do rasto da Pakera, a elegante e sensual gata da vizinha do lado.
É agora, decidiu-se. Encolheu-se o mais que podia e, esticando com violência as pernas, deu um salto e, numa inspiração apenas, olhou o portão à sua frente. Agachou-se, expirando o ar todo que ainda havia dentro de si, e mergulhou subitamente por debaixo do portão. Num momento, numa eternidade, ainda pensou que não conseguia, ao sentir-se preso. Num esforço final, a barriga e as costas a arderem do aperto do ferro e do cimento do chão, libertou-se e sentiu o portão atrás de si. Livre. Estava em casa. Lá fora, do outro lado das grades do portão, o Amarelo olhava-o, ainda de orelhas espetadas. Pareceu-lhe que sorria.
Safa, pensou, já não estou para estas coisas. Nem o coração já aguenta. A partir de hoje vou entrar em dieta. Se não, ainda entro noutras dietas.
Pulguinha, viu-o chegar. Onde se encontrava, no telhado da pequena casa de arrumações da moradia em frente da casa dos seus donos, sentia-se minimamente protegido. Os ramos da buganvília e da roseira que evoluíam pelo telhado, formando pequenos espaços no seu interior, protegiam-no, pelo menos, temporariamente, de investidas de fora. Mas a sua posição não era bem cómoda. Nem duraria muito. E o Amarelo, bem vistas as coisas, era maior que ele. E com mais músculos. Pelo menos mais treinados, seguramente.
Entre ele e o portão verde e grande da casa dos seus donos, o Amarelo tingia de medo a cor negra do alcatrão da Rua. O portão, em ferro, de dois batentes que se uniam ao meio, estava quase sempre fechado, até porque os seus donos não costumavam arrumar o carro na garagem. Mas, embora fechado, o espaço que havia entre o chão e a barra que o apoiava, era suficiente para que ele pudesse passar. Pelo menos era, desde sempre, a sua porta privativa.
Soergueu a cabeça e olhou para lá da rua, com os olhos semicerrados. Lá estava o portão. Lá longe, no longe da presença do Amarelo. Um salto, uma corrida breve e um mergulho súbito, pensou. Levantou-se e olhou longamente a sombra que o inquietava. O Amarelo farejava o que restava do rasto da Pakera, a elegante e sensual gata da vizinha do lado.
É agora, decidiu-se. Encolheu-se o mais que podia e, esticando com violência as pernas, deu um salto e, numa inspiração apenas, olhou o portão à sua frente. Agachou-se, expirando o ar todo que ainda havia dentro de si, e mergulhou subitamente por debaixo do portão. Num momento, numa eternidade, ainda pensou que não conseguia, ao sentir-se preso. Num esforço final, a barriga e as costas a arderem do aperto do ferro e do cimento do chão, libertou-se e sentiu o portão atrás de si. Livre. Estava em casa. Lá fora, do outro lado das grades do portão, o Amarelo olhava-o, ainda de orelhas espetadas. Pareceu-lhe que sorria.
Safa, pensou, já não estou para estas coisas. Nem o coração já aguenta. A partir de hoje vou entrar em dieta. Se não, ainda entro noutras dietas.
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