Daqui a três semanas, entra em vigor a tão falada lei sobre o tabaco em restaurantes, hotéis e similares. Há coisas na lei que são simplesmente um castigo imposto aos fumadores, não ditado por qualquer preocupação de protecção aos não-fumadores, como a proibição absoluta de poder haver um espaço reservado para os fumadores nos hospitais, comboios ou transportes marítimos. Quanto aos restaurantes e afins, a liberdade de escolha dos próprios foi substituída por um sistema de condicionantes tais que parece que a generalidade dos estabelecimentos concluiu ser mais simples e mais barato nada fazer e proibir o fumo. É uma história bem portuguesa: os proprietários dos restaurantes tiveram meses para discutir a lei, um ano para se prepararem para ela e só agora, à bica do prazo, é que se lembraram de a avaliar para concluir que nada há a fazer. E, assim, temos mais uma lei que, carregada de equitativas intenções, acaba por se revelar totalmente unilateral: quem fuma deixa de poder frequentar restaurantes, como se tivesse peçonha, ou então vem à rua a meio da refeição, confraternizar com os arrumadores e expor-se à curiosidade pública como elemento anti-social. E assim entramos na modernidade. Só não sei é porque continuam os transportes públicos a lançar fumo para a cara dos passantes como nenhum outro veículo, as suiniculturas continuam impunemente a envenenar os rios e a indústria alegremente a rebentar com todos os limites de emissão de gases que acordámos em Quioto, já lá vão dez anos.
Miguel Sousa Tavares
Expresso, 08.12.2007
Miguel Sousa Tavares
Expresso, 08.12.2007
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