«(…) Observamos que, civilização a civilização, século a século (embora em ritmos diversos) a ditadura gera o mercado que gera a democracia. Para quem cresceu sob a batuta do "orgulhosamente sós", do "pobrezinhos e honrados" ou, depois, sob a banda dos amanhãs que cantariam, lá no interior das estepes e atrás do Muro do Berlim, é refrescante ver o modo linear como, ao longo da História, o desenvolvimento mercantil - ou seja, o capitalismo, que nos foi apresentado, no pré como no pós-25 de Abril, como um Belzebu fumegante - acompanhou o crescimento da ciência, da cultura e dos direitos humanos. O curto capítulo final sobre Portugal é, a esse respeito, devastador: demonstra-nos por que razão o nosso país, tendo tudo na mão, perdeu a oportunidade de se tornar, no século XVI, a potência dominante da Europa. Attali aponta três razões, mas a palavra-chave de todas elas é "imobilismo". E sublinha que "o país nunca conseguiu formar, promover nem acolher uma classe criativa", ou seja, gente com engenho, arte e iniciativa, preferindo encher-se de "teólogos, militares, senhores feudais, artistas comanditados pelo poder, e administradores (...)". Isto no século XVI. Pois.»
Inês Pedrosa
Regresso ao futuro
Expresso, 29.12.2007
Inês Pedrosa
Regresso ao futuro
Expresso, 29.12.2007
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