terça-feira, outubro 30, 2007

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«(...) Mas qual foi o momento mais alto do jogo? O golo? Não, não o golo. Nada foi mais belo do que o que aconteceu logo após o apito final: o paraguaio Cardozo a cair de joelhos no relvado, cabeça junto às pernas, numa misteriosa ladainha consigo próprio que as câmaras captaram. De que falava ele senão desses instantes de rara grandeza que acontecem nos estádios de futebol, quando a persistência dá enfim frutos e o sofrimento de um avançado sem golos se evapora com um toque subtil na bola. Naquele frágil ajoelhar a massa associativa viu simultaneamente todo o empenho, frustração e alegria de um jogador que demora a impor-se, mas cuja dedicação à camisola não voltará a ser posta em causa. Aquele minuto de oração fez mais pela carreira de Cardozo no Benfica do que um hat trick ao Porto. Tão depressa, não ouvirá assobios. Caído na relva, ele entrou no coração da Luz.»
João Miguel Tavares
COMO UM AJOELHAR NA RELVA PODE VALER MAIS DO QUE GOLOS
Diário de Notícias, 30.10.2007

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