domingo, julho 01, 2007

Silêncios

«(…) Mariazinha defende-se com o silêncio. O silêncio é um risco mínimo, mas em si também é um risco. Secretamente, Mariazinha teme que o seu silêncio possa vir a ser mal interpretado. "Em que é que estás tu a pensar?", disse-lhe um dia o chefe, sobrolho carregado, de processo disciplinar em punho para o outro gajo do lado que tinha afixado um papel jocoso no elevador. É verdade que há pessoas que, só de lhes olhar para a cara, percebe-se perfeitamente em no que estão a pensar. E podem estar a ter maus pensamentos. Pensamentos jocosos. Pensamentos ofensivos. Mariazinha reza para que a sua cara não tenha ar de quem se prepara para "quebrar o dever de lealdade à hierarquia" ou para pensar "algo menos próprio" sobre o chefe ou, quiçá, o ministro da tutela. Reza para que a expressão seja, se não socrática, pelo menos neutra.»

Ana Sá Lopes
“O SILÊNCIO O SILÊNCIO O SILÊNCIO O SILÊNCIO O SILÊNCIO O SILÊNCIO”
Diário de Notícias, DN Gente, 30.06.2007

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