quarta-feira, dezembro 31, 2008
terça-feira, dezembro 30, 2008
Pensamentos subversivos (LXXVII)
O Senhor de Belém [não confundir com o Menino de Belém…] lá falou ontem. Mais uma vez. Disse dos seus motivos e falou com a seriedade que achou melhor para o momento.
Dos motivos e das razões que até lhe podem assistir, sejamos sinceros, não me apetece mesmo agora falar. Para o caso, ficamos assim.
O que importa por agora é que o Senhor de Belém, mais uma vez, veio dizer-nos que só conhece uma região desta nossa aldeia. Deste, sabe bem, ou julga saber bem, a matéria. Fala e opina com a convicção de tudo saber e de não lhe restarem pingos de dúvidas. De outras, de outra sobretudo, aí só sabe cumprir o silêncio. O silêncio táctico dos que não querem ver nem ouvir.
Por mim, dele não esperava, se calhar, coisa diferente. Já sabia o que por aí viria. E não me admirei mesmo nada. Está mesmo a cumprir o seu papel com toda a diligência. Por isso foi escolhido e para isso o elegeram.
E, já agora, que vem ao caso, apenas uma palavra para com algumas damas que se julgam ou julgaram de ferro e para com o seu séquito real: Há alturas na vida em que vale mesmo a pena lembrar as pregações de Frei Tomás.
Dos motivos e das razões que até lhe podem assistir, sejamos sinceros, não me apetece mesmo agora falar. Para o caso, ficamos assim.
O que importa por agora é que o Senhor de Belém, mais uma vez, veio dizer-nos que só conhece uma região desta nossa aldeia. Deste, sabe bem, ou julga saber bem, a matéria. Fala e opina com a convicção de tudo saber e de não lhe restarem pingos de dúvidas. De outras, de outra sobretudo, aí só sabe cumprir o silêncio. O silêncio táctico dos que não querem ver nem ouvir.
Por mim, dele não esperava, se calhar, coisa diferente. Já sabia o que por aí viria. E não me admirei mesmo nada. Está mesmo a cumprir o seu papel com toda a diligência. Por isso foi escolhido e para isso o elegeram.
E, já agora, que vem ao caso, apenas uma palavra para com algumas damas que se julgam ou julgaram de ferro e para com o seu séquito real: Há alturas na vida em que vale mesmo a pena lembrar as pregações de Frei Tomás.
domingo, dezembro 28, 2008
sábado, dezembro 27, 2008
Façam o favor de ler isto com muita atenção
«Leio uma notícia sobre a aula onde alunos do 11.º ano de escolaridade (tendo à volta de 16, 17 anos) apontaram uma pistola de plástico a uma professora: "Na origem deste caso (...) está um vídeo, com cerca de 30 segundos, filmado com um telemóvel, que mostra um grupo de alunos a ameaçar a professora de Psicologia com uma arma de plástico." Eu quero fazer uma rectificação: na origem deste caso não está vídeo nenhum, como na origem da queda das Torres Gémeas não estão os filmes, que todos vimos, dos aviões a embater nelas. Na origem deste caso estão alunos a apontar uma pistola de plástico a uma professora. Faço a rectificação também porque a presidente da Associação de Pais da Escola do Cerco, no Porto, achou necessário informar que não foram os alunos que colocaram o filme no YouTube, mas "alguém que não é amigo deles." Eu, se fosse da Associação de Pais daquela escola, focalizaria toda a minha atenção no facto maior, aquele que é "a origem deste caso": alunos de 16, 17 anos apontarem uma pistola de plástico a uma professora. Enquanto estes factos extraordinários forem lavados com água de malvas, continuaremos a ter estes factos extraordinários.»
Ferreira Fernandes
O FACTO E O QUE É IRRELEVANTE
Diário de Notícias, 27.12.2008
Ferreira Fernandes
O FACTO E O QUE É IRRELEVANTE
Diário de Notícias, 27.12.2008
sexta-feira, dezembro 26, 2008
Acrósticos [III]
Numa noite especial
Abriram-se um dia
Tempos de novos sentires
Até então escondidos
Lá bem no fundo de todos nós.
Abriram-se um dia
Tempos de novos sentires
Até então escondidos
Lá bem no fundo de todos nós.
quinta-feira, dezembro 25, 2008
quarta-feira, dezembro 24, 2008
terça-feira, dezembro 23, 2008
Do tempo
Natal
Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.
O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…
Miguel Torga
Tirado daqui
Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.
O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…
Miguel Torga
Tirado daqui
Bem pensado...
«(...) O problema é que, se Santana ganhar, será ele o vencedor; se Santana perder, a derrotada será Ferreira Leite. Toda a gente já percebeu que Santana nunca perde. Ou ganha, ou passa a andar por aí. Derrotas, não há notícia de ter sofrido.»
Ricardo Araújo Pereira
O menino guerreiro está a passar por aqui
Visão, 23.12.2008
Ricardo Araújo Pereira
O menino guerreiro está a passar por aqui
Visão, 23.12.2008
segunda-feira, dezembro 22, 2008
‘Estória’ de Natal
Era uma vez uma pedra. Uma simples e pequena pedra. No meio das muitas outras pedras que se abandonavam ali mesmo junto ao bosque que rodeava a terra dos homens, nada a distinguia das suas irmãs de natureza. Mais do que as diferenças, que muitas vezes as distinguiam umas das outras, esta simples e pequena pedra apenas sabia tornar-se igual a todas as outras que consigo ocupavam aquele lugar.
Era uma simples e pequena pedra. Que de pequenez se tornava quase sempre invisível aos olhos que ali buscavam sobretudo o bonito e o especial. Que de simplicidade se descobria e vestia no meio de complicadas teias de cor e variedade.
Mas também era uma vez um dia. E uma noite. E uma gente. Gente simples e possuindo a humildade da própria simplicidade.
E assim, era uma vez um homem e uma mulher. Um homem e uma mulher como tantos homens e tantas mulheres que cruzam quase todos os dias os nossos caminhos. Um homem e uma mulher que apenas sabem caminhar com a serenidade que sobressai dos seus olhares perscrutantes e desafiadores.
Era uma vez um homem e uma mulher. Que caminhavam a estrada poerenta dos lugares fora dos povoados. O homem amparava a mulher com o cuidado de quem sabe que está a cuidar da pópria vida. É que a mulher já tinha em si, há tempo quase completo, o fruto que no seu ventre um dia fora plantado.
E com tudo isto, era igualmente uma vez um tempo. Um tempo que estava a decorrer do próprio tempo. Era um tempo propício à descoberta da própria vida. Da vida que surge sempre nova e livre como o próprio tempo.
Era uma vez uma simples e pequena pedra.
Era uma vez um homem e uma mulher.
Era uma vez um tempo.
E foi nesse momento especial, de um tempo tão cheio de tempo, que um homem e uma mulher olharam uma pequena e simples pedra.
E foi nesse momento especial, se calhar numa noite cálida e com o céu a sorrir nas estrelas que brilhavam, parecia mesmo, até com mais intensidade, que um homem e uma mulher entraram numa gruta aberta na rocha do caminho, ali mesmo nos arredores de qualquer lugar.
E foi nessa gruta que nessa noite, um vagido foi escutado, dado junto do ventre da mulher que tinha a cabeça apoiada apenas numa pequena e simples pedra.
Era uma vez uma esperança. Para toda a gente, estou em crer.
Era uma simples e pequena pedra. Que de pequenez se tornava quase sempre invisível aos olhos que ali buscavam sobretudo o bonito e o especial. Que de simplicidade se descobria e vestia no meio de complicadas teias de cor e variedade.
Mas também era uma vez um dia. E uma noite. E uma gente. Gente simples e possuindo a humildade da própria simplicidade.
E assim, era uma vez um homem e uma mulher. Um homem e uma mulher como tantos homens e tantas mulheres que cruzam quase todos os dias os nossos caminhos. Um homem e uma mulher que apenas sabem caminhar com a serenidade que sobressai dos seus olhares perscrutantes e desafiadores.
Era uma vez um homem e uma mulher. Que caminhavam a estrada poerenta dos lugares fora dos povoados. O homem amparava a mulher com o cuidado de quem sabe que está a cuidar da pópria vida. É que a mulher já tinha em si, há tempo quase completo, o fruto que no seu ventre um dia fora plantado.
E com tudo isto, era igualmente uma vez um tempo. Um tempo que estava a decorrer do próprio tempo. Era um tempo propício à descoberta da própria vida. Da vida que surge sempre nova e livre como o próprio tempo.
Era uma vez uma simples e pequena pedra.
Era uma vez um homem e uma mulher.
Era uma vez um tempo.
E foi nesse momento especial, de um tempo tão cheio de tempo, que um homem e uma mulher olharam uma pequena e simples pedra.
E foi nesse momento especial, se calhar numa noite cálida e com o céu a sorrir nas estrelas que brilhavam, parecia mesmo, até com mais intensidade, que um homem e uma mulher entraram numa gruta aberta na rocha do caminho, ali mesmo nos arredores de qualquer lugar.
E foi nessa gruta que nessa noite, um vagido foi escutado, dado junto do ventre da mulher que tinha a cabeça apoiada apenas numa pequena e simples pedra.
Era uma vez uma esperança. Para toda a gente, estou em crer.
domingo, dezembro 21, 2008
Afinal, tão simples...
«(...) Agora que está aí o Natal, é ocasião para meditar no Deus que manifesta a sua benevolência e magnanimidade criadoras no rosto de uma criança. Jesus não veio senão revelar que Deus é amor, favorável a todos os homens e mulheres e querendo a sua realização plena. Perante um "deus" que os humilhasse e escravizasse, só haveria uma atitude digna: ser ateu.»
Anselmo Borges
'PROVAVELMENTE DEUS NÃO EXISTE'
Diário de Notícias, 20.12.2008
Anselmo Borges
'PROVAVELMENTE DEUS NÃO EXISTE'
Diário de Notícias, 20.12.2008
sábado, dezembro 20, 2008
Tempo [espaço] de tolerância
Três vozes
Ecoam
No silêncio
De um espaço
Aberto
E livre.
Três palavras
Irrompem
Na pedra
Polida
De um tempo
Intemporal
Três gestos
Iluminam
Rostos diferentes
Mas revelados
Irmãos
Em espírito.
Ecoam
No silêncio
De um espaço
Aberto
E livre.
Três palavras
Irrompem
Na pedra
Polida
De um tempo
Intemporal
Três gestos
Iluminam
Rostos diferentes
Mas revelados
Irmãos
Em espírito.
"NATAL, E NÃO DEZEMBRO"
“Entremos, apressados, friorentos
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rasto de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada."
In "As Lições do Fogo " de David Mourão Ferreira
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rasto de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada."
In "As Lições do Fogo " de David Mourão Ferreira
quinta-feira, dezembro 18, 2008
Provérbios
"Trate bem a Terra. Ela não foi doada a você por seus pais. Ela foi emprestada a você por seus filhos."
Provérbio Africano
Encontrado aqui
Provérbio Africano
Encontrado aqui
quarta-feira, dezembro 17, 2008
terça-feira, dezembro 16, 2008
Já está!
Ouvi agora. O homem vem aí. Do alto do seu "andar por aí", eis que finalmente lhe fizeram a vontade.
E sempre acabou por vir pela mão de quem um dia até disse que se lhe visse a cara andaria outro caminho.
Nada a fazer. É a nossa aldeia no seu melhor.
Se calhar, os deuses não poderiam estar mais loucos...
Se é o Senhor quem o diz...
«(...) Pedem-se e pediram-se sacrifícios para cumprir as metas do défice, impostas por Bruxelas. Mas, ao mesmo tempo, os multimilionários engordaram - os mesmos que agora emagreceram na roleta russa das economias de casino - e os responsáveis políticos (os mesmos, por quase toda a Europa) não pensam em mudar o paradigma ou não anunciam essa intenção e não explicam sequer aos eleitores comuns, os eternos sacrificados, como vão gastar o dinheiro que utilizam para salvar os bancos e as grandes empresas da falência, aparentemente deixando tudo na mesma? E querem depois o voto desses mesmos eleitores, sem os informar seriamente nem esclarecer? É demais! É sabido: quem semeia ventos colhe tempestades...(...)»
Mário Soares
A CRISE E OS MILHÕES
Diário de Notícias, 16.12.2008
Mário Soares
A CRISE E OS MILHÕES
Diário de Notícias, 16.12.2008
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Acrósticos [II]
Vem com a subtileza do orvalho
Ignorando os dias e as noites
Numa orgia de sentidos.
Honrado por muitos e muitos
Ostraciza-se noutros sem remorsos.
Ignorando os dias e as noites
Numa orgia de sentidos.
Honrado por muitos e muitos
Ostraciza-se noutros sem remorsos.
domingo, dezembro 14, 2008
Estou a ver que é mesmo isto que alguns vão começar por dizer...
Pois é, pois é. Mas primeiro, se calhar, o melhor é criar várias comissões, que se dividiriam em várias sub-comissões, que fariam inúmeros colóquios e seminários para se poder determinar com a maior concretização possível, que tipo de grandes fortunas é que existem, e que tipo de taxas é que seria justo aplicar. E, já agora, também, a partir de quanto é que uma fortuna pode ser considerada grande ou não. Tudo questões de imensa importância, e que não se pode definir com ligeireza. Por isso, medidas desta natureza, precisam de tempo para serem postas em prática. Muito mesmo, dada a complexidade.
Mas fica registado. Seria uma medida interesante...
Mas fica registado. Seria uma medida interesante...
sábado, dezembro 13, 2008
sexta-feira, dezembro 12, 2008
Avoamentos
Em tudo semelhante a meus semelhantes
Dei por mim a repensar o meu estado de ser.
Hora de procura sem conhecer a descoberta
Arrisco a aventura de desvendar o desconhecido
Com a única certeza das minhas dúvidas assumidas.
Este é o tempo de ousar o tempo
De percorrer o caminho sem retorno.
Este é o tempo de escolher o tempo
De procurar a sorte sem recear a má sorte.
Este é, afinal, e tão-somente, o nosso tempo.
Dei por mim a repensar o meu estado de ser.
Hora de procura sem conhecer a descoberta
Arrisco a aventura de desvendar o desconhecido
Com a única certeza das minhas dúvidas assumidas.
Este é o tempo de ousar o tempo
De percorrer o caminho sem retorno.
Este é o tempo de escolher o tempo
De procurar a sorte sem recear a má sorte.
Este é, afinal, e tão-somente, o nosso tempo.
quinta-feira, dezembro 11, 2008
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Quotidianos [VII]
Ali, naquele espaço onde o Pessoa nos observa com a serenidade do tempo e do bronze, olhou-me a numa voz tranquila e simples perguntou-me se gostava de poesia.
Se gostava de poesia…
Tão simples como isso.
E, com esta simplicidade quase espiritual deixou-me ali pregado ao chão, sem saber lá muito bem como reagir.
Se gostava de poesia…
Claro que não podia dizer que não. Seria uma violência à minha própria maneira de ser. Como posso eu dizer uma coisa que me está entranhada no sangue e me absorve, por vezes até ao desespero de temer perder as palavras?
Se gostava de poesia…
Ao dizer-lhe que sim, mostrou-me uma folha onde palavras bailavam em estrofes construídas, quase de certeza, com o calor de quem quer comunicar. Colocou-ma nas mãos com a gratuidade de quem oferece o que tem.
Se gostava de poesia…
E, por acaso, ou talvez não, até gostei do que estava a ler. Eram palavras simples, de gente simples. Eram palavras de gente que apenas queria ser escutada, para poder dizer que apenas queria poder viver. E que, por acaso, ou talvez não, até não sabia como poder viver.
Se gostava de poesia…
A verdade é que gosto. Mas a verdade é também que não gosto mesmo nada de que existam à nossa volta, no meio de nós, alguns, tão gente como nós, que precisem de vir perguntar a quem passa se gostava de poesia.
Esta é a poesia que não descobrimos, que não lemos. Esta é a poesia que não revelamos, que escondemos sob o nosso próprio chão. Esta é a poesia que não cantamos nem declamamos nos nossos saraus, às vezes até de solidariedade.
Mas esta é, estou certo, a poesia que devia tornar-se a nossa poesia.
Se gostava de poesia…
Tão simples como isso.
E, com esta simplicidade quase espiritual deixou-me ali pregado ao chão, sem saber lá muito bem como reagir.
Se gostava de poesia…
Claro que não podia dizer que não. Seria uma violência à minha própria maneira de ser. Como posso eu dizer uma coisa que me está entranhada no sangue e me absorve, por vezes até ao desespero de temer perder as palavras?
Se gostava de poesia…
Ao dizer-lhe que sim, mostrou-me uma folha onde palavras bailavam em estrofes construídas, quase de certeza, com o calor de quem quer comunicar. Colocou-ma nas mãos com a gratuidade de quem oferece o que tem.
Se gostava de poesia…
E, por acaso, ou talvez não, até gostei do que estava a ler. Eram palavras simples, de gente simples. Eram palavras de gente que apenas queria ser escutada, para poder dizer que apenas queria poder viver. E que, por acaso, ou talvez não, até não sabia como poder viver.
Se gostava de poesia…
A verdade é que gosto. Mas a verdade é também que não gosto mesmo nada de que existam à nossa volta, no meio de nós, alguns, tão gente como nós, que precisem de vir perguntar a quem passa se gostava de poesia.
Esta é a poesia que não descobrimos, que não lemos. Esta é a poesia que não revelamos, que escondemos sob o nosso próprio chão. Esta é a poesia que não cantamos nem declamamos nos nossos saraus, às vezes até de solidariedade.
Mas esta é, estou certo, a poesia que devia tornar-se a nossa poesia.
segunda-feira, dezembro 08, 2008
"Meditabundando"
"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver".
Amyr Klink
Citação daqui
Amyr Klink
Citação daqui
domingo, dezembro 07, 2008
Hoje, “subiu a montanha”...
Antonio Alçada Batista“Acho que nós temos que ter uma relação com a transcedência. Este mundo em que a gente vive transcende, não cabe dentro deste mundo. Tudo que é importante é misterioso. A vida é misteriosa, o amor é misterioso. A gente tem que ter um sistema de dialogar com o mistério – normalmente, são as religiões. As pessoas estão realmente ansiosas por coisas que abram caminhos.”
Fonte daqui
Imagem daqui
sábado, dezembro 06, 2008
Avoamentos
Com a pressa dos dias que vivemos
Ousamos o passo final
É urgente reinventar o olhar
E redescobrir horizontes perdidos
Ousamos o passo final
É urgente reinventar o olhar
E redescobrir horizontes perdidos
sexta-feira, dezembro 05, 2008
quinta-feira, dezembro 04, 2008
“HAIKU” [XXXV]
Paz e silêncio –
Vinda da chuva, a borboleta
Entra no meu quarto.
ENOMOTO SEIFU (1732-1815)
Vinda da chuva, a borboleta
Entra no meu quarto.
ENOMOTO SEIFU (1732-1815)
quarta-feira, dezembro 03, 2008
Devaneios
Encontrei os teus olhos no meio de mais de mil olhos que continuam permanentemente a passar nos caminhos que teimosamente vamos percorrendo. Nada melhor que os olhos para desvendar o interior que, muitas vezes, até queremos bem escondido.
Encontrei os teus olhos no meio do muito que à nossa volta nos vai tentando enebriar e confundir. E à nossa volta, as mais das vezes, apenas podemos ver o que querem que vejamos e não o que vale a pena olhar.
Encontrei os teus olhos no meio de tanta coisa que vai acontecendo e que não poucas vezes até nem damos por elas. Na verdade, se calhar, até nem damos mesmo por elas, por aquelas coisas que vão acontecendo, que vão até mudando muito do que por nós vai passando. Que até vão contundendo connosco, mas quase sempre esbarram no gelo da nossa insensibilidade.
Encontrei os teus olhos. Ponto final.
Encontrei os teus olhos no meio do muito que à nossa volta nos vai tentando enebriar e confundir. E à nossa volta, as mais das vezes, apenas podemos ver o que querem que vejamos e não o que vale a pena olhar.
Encontrei os teus olhos no meio de tanta coisa que vai acontecendo e que não poucas vezes até nem damos por elas. Na verdade, se calhar, até nem damos mesmo por elas, por aquelas coisas que vão acontecendo, que vão até mudando muito do que por nós vai passando. Que até vão contundendo connosco, mas quase sempre esbarram no gelo da nossa insensibilidade.
Encontrei os teus olhos. Ponto final.
terça-feira, dezembro 02, 2008
segunda-feira, dezembro 01, 2008
Avoamentos
Tenho na minha caneta
A tinta que escorre breve
E me preenche os papéis
Com que procuro afirmar
A minha essência de vida.
E a minha caneta, se calhar,
Mais não é que o instrumento
Com que me questiono
Em perenes inquietações.
A tinta que escorre breve
E me preenche os papéis
Com que procuro afirmar
A minha essência de vida.
E a minha caneta, se calhar,
Mais não é que o instrumento
Com que me questiono
Em perenes inquietações.
domingo, novembro 30, 2008
Faz hoje 73 anos que “subiu a montanha”...
“Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.”
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro
Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925
(In Wikipedia)
Imagem daqui
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.”
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro
Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925
(In Wikipedia)
Imagem daqui
sábado, novembro 29, 2008
Pensamentos subversivos (LXXVI)
Não querem lá ver que, se calhar, eu tenho andado toda a vida (e já não é pequena...) bem enganado? Parece que em vez de ter nascido em Portugal, afinal, o que aconteceu foi que acabei de nascer mais precisamente em BPP [vulgo: Banco Privado Português].
Ou, talvez, já agora, também em BPN...
Ou, talvez, já agora, também em BPN...
sexta-feira, novembro 28, 2008
quinta-feira, novembro 27, 2008
terça-feira, novembro 25, 2008
Interpelações
Veio e falou.
Na sua voz habitava a angústia
De um caso sem solução.
Olhou para todos nós
Com laivos de bondade
E tristeza.
Falou calma e claramente,
Com voz serena,
Trazendo em si
O destino do próprio homem.
Todos o ouviram.
Quem se levantou e lhe deu a mão?
Nem eu…
Na sua voz habitava a angústia
De um caso sem solução.
Olhou para todos nós
Com laivos de bondade
E tristeza.
Falou calma e claramente,
Com voz serena,
Trazendo em si
O destino do próprio homem.
Todos o ouviram.
Quem se levantou e lhe deu a mão?
Nem eu…
segunda-feira, novembro 24, 2008
sábado, novembro 22, 2008
quinta-feira, novembro 20, 2008
Dúvidas subversivas (XXXVII)
Sinceramente, palavrinha, palavrinha, que sempre gostava de saber o que é que um grupo de simpáticos rapazes foram, ontem, fazer até terras de Santa Maria…
terça-feira, novembro 18, 2008
segunda-feira, novembro 17, 2008
Dixit
«(...) O sinal que o Estado dá, ao nacionalizar o banco [BPN] e garantir o dinheiro daqueles que lá o puseram, é de que, afinal, não havia risco nenhum. Quem perde? Simples: o contribuinte que vai pagar e o investidor prudente que, por não acreditar na espécie de 'bacalhau a pataco' que Oliveira Costa vendeu, pôs o dinheiro noutros bancos, embora a render menos. (...)»
Henrique Monteiro
O Estado complacente, injusto e compadre
Expresso [on-line], 17.11.2008
Henrique Monteiro
O Estado complacente, injusto e compadre
Expresso [on-line], 17.11.2008
sábado, novembro 15, 2008
Uma palavra
Uma palavra
Uma palavra apenas no silêncio cúmplice
Dos dias que nos acontecem
Uma palavra
Uma palavra apenas no ruído da agitação
Das noites que nos adormecem
Uma palavra
Uma palavra apenas na viagem permanente
Dos tempos que não escolhemos
Uma palavra apenas no silêncio cúmplice
Dos dias que nos acontecem
Uma palavra
Uma palavra apenas no ruído da agitação
Das noites que nos adormecem
Uma palavra
Uma palavra apenas na viagem permanente
Dos tempos que não escolhemos
sexta-feira, novembro 14, 2008
“HAIKU” [XXXIV]
Lama a escorrer
Desde a encosta do monte –
Um rebento de bambu!
SHIBA SONOME (1664-1726)
Desde a encosta do monte –
Um rebento de bambu!
SHIBA SONOME (1664-1726)
quinta-feira, novembro 13, 2008
Outros olhares
Francisco de GOYA Y LUCIENTES
The Fall (La Caída)
1786-87, Oil on canvas
Private collection
Imagem daqui
The Fall (La Caída)
1786-87, Oil on canvas
Private collection
Imagem daqui
terça-feira, novembro 11, 2008
Dia de S. Martinho
Hoje é dia de S. Martinho. Por acaso, é também o dia de aniversário do meu amigo Alfredo. Faz anos num dia especial. A ele ergo o meu copo de água-pé, a nossa bebida de hoje. Que conte muitos mais que os cinquentitas e tal que hoje completa. E com todos aqueles a quem quer bem, é óbvio.
Hoje é dia de S. Martinho. Conta a lenda que um certo dia, nas suas andanças, ao Santo lhe surgiu no caminho um mendigo. Que lhe estendeu o braço numa prece de ajuda. Não tendo mais que o que trazia consigo, e como o tempo agreste se manifestava com intensidade naquele sofredor da vida, apenas soube partilhar com ele o pouco que levava. E partilhou a sua própria capa. É que frio a dividir por dois é somente meio-frio, pensou, se calhar.
Hoje é dia de S. Martinho. Para além de dia de alegria e de descoberta do vinho novo, traz-nos também o gesto de um homem de antanho, chamado Martinho. Gesto solidário, porque de solidária se faz a partilha.
Hoje é dia de S. Martinho. Talvez devessemos também hoje ousar olhar para nós próprios. Talvez devesemos também hoje ousar deixarmo-nos encontrar pelos viajantes das estradas da vida. Se calhar, acabaríamos por descobrir que, por muito que falemos, nos nossos tempos, de solidariedades, de voluntariados, de fraternidades, acabamos, as mais das vezes, por apenas falarmos dos nossos próprios umbigos. Para não dizer que, se calhar, de solidariedade, de fraternidade, muito pouco tem o nosso voluntariado.
Hoje é dia de S. Martinho.
Parabéns ao meu amigo Alfredo. E longa vida aos Martinhos que por aí nos vão acompanhando num bom copo de água-pé!
Hoje é dia de S. Martinho. Conta a lenda que um certo dia, nas suas andanças, ao Santo lhe surgiu no caminho um mendigo. Que lhe estendeu o braço numa prece de ajuda. Não tendo mais que o que trazia consigo, e como o tempo agreste se manifestava com intensidade naquele sofredor da vida, apenas soube partilhar com ele o pouco que levava. E partilhou a sua própria capa. É que frio a dividir por dois é somente meio-frio, pensou, se calhar.
Hoje é dia de S. Martinho. Para além de dia de alegria e de descoberta do vinho novo, traz-nos também o gesto de um homem de antanho, chamado Martinho. Gesto solidário, porque de solidária se faz a partilha.
Hoje é dia de S. Martinho. Talvez devessemos também hoje ousar olhar para nós próprios. Talvez devesemos também hoje ousar deixarmo-nos encontrar pelos viajantes das estradas da vida. Se calhar, acabaríamos por descobrir que, por muito que falemos, nos nossos tempos, de solidariedades, de voluntariados, de fraternidades, acabamos, as mais das vezes, por apenas falarmos dos nossos próprios umbigos. Para não dizer que, se calhar, de solidariedade, de fraternidade, muito pouco tem o nosso voluntariado.
Hoje é dia de S. Martinho.
Parabéns ao meu amigo Alfredo. E longa vida aos Martinhos que por aí nos vão acompanhando num bom copo de água-pé!
domingo, novembro 09, 2008
Outros olhares
Manuel Jardim
Retrato de Mulher (ou "Le Déjeuner")
c. 1910, óleo sobre tela
Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, Portugal
Imagem daqui
Retrato de Mulher (ou "Le Déjeuner")
c. 1910, óleo sobre tela
Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, Portugal
Imagem daqui
sábado, novembro 08, 2008
Parabéns Pedro
O meu afilhado Pedro, o mais novo dos meus sobrinhos, fez hoje 6 anos.
E hoje, quando lá estava, quando nos juntámos todos para lhe cantarmos os parabéns com que normalmente brindamos os nossos aniversariantes mais queridos, dei por mim a lembrar-me duma coisa curiosa que me invadiu o pensamento há já algum tempo.
Foi há cinco anos, estávamos em finais de Agosto, quando o meu irmão e a minha cunhada resolveram levar o Pedro à Pia Baptismal. E lá estávamos, eu e a Lena, a testemunhar tudo isso e a garantir-lhes que cá estaríamos para o que desse e viesse. Afinal, era, e é, estou certo, esse, o nosso papel de padrinhos.
E nesse final de estival mês, lembro-me de ter escrito estas palavras, que reflectem bem o que tambem hoje senti:
“Nesta relação familiar – e, parece-me, muito mais que familiar – há uma enorme simbologia neste acontecimento. Ficou feita a síntese da nossa família actual, da nossa geração. Uniu-se o tio mais velho com o sobrinho mais novo. O ontem com o amanhã. E como me parece que não irão haver mais tios (estou cada vez mais convencido é que irão haver cada vez menos…), nem mais sobrinhos, a acreditar no que se ouve, fechou-se em bom estilo este ciclo.”
E hoje, quando lá estava, quando nos juntámos todos para lhe cantarmos os parabéns com que normalmente brindamos os nossos aniversariantes mais queridos, dei por mim a lembrar-me duma coisa curiosa que me invadiu o pensamento há já algum tempo.
Foi há cinco anos, estávamos em finais de Agosto, quando o meu irmão e a minha cunhada resolveram levar o Pedro à Pia Baptismal. E lá estávamos, eu e a Lena, a testemunhar tudo isso e a garantir-lhes que cá estaríamos para o que desse e viesse. Afinal, era, e é, estou certo, esse, o nosso papel de padrinhos.
E nesse final de estival mês, lembro-me de ter escrito estas palavras, que reflectem bem o que tambem hoje senti:
“Nesta relação familiar – e, parece-me, muito mais que familiar – há uma enorme simbologia neste acontecimento. Ficou feita a síntese da nossa família actual, da nossa geração. Uniu-se o tio mais velho com o sobrinho mais novo. O ontem com o amanhã. E como me parece que não irão haver mais tios (estou cada vez mais convencido é que irão haver cada vez menos…), nem mais sobrinhos, a acreditar no que se ouve, fechou-se em bom estilo este ciclo.”
quarta-feira, novembro 05, 2008
Já agora, uma palavra sobre a América
E Barack Obama lá ganhou. Como era esperado. Como eu esperava.
Ainda bem. E dá-me vontade, até, de dizer, que ainda bem que o bom senso imperou.
Na verdade, a América é uma coisa bem grande. Tem de tudo, é óbvio. Tem o muito bom e tem também o muito menos bom. Tem o nada e tem o tudo, se calhar.
Nos últimos tempos tem tido até o George. O W., evidentemente. Aquele que, se não fosse tão perigoso, até tinha sido um bom alimento para a nossa boa disposição.
Mas agora, segundo parece, os tempos são de mudança. Como dizia o novo ocupante de uma casa que é branca.
Mas é bom não esquecer um dado adquirido desde sempre: não tenhamos dúvidas que a América irá de certeza continuar a ser a América. Com tudo o que isso irá implicar em todos e em tudo.
Esperemos é que os tempos que aí vêm sejam tempos novos, de verdade. Eu, pelo menos, quero acreditar que sim.
E já agora, que o 'Grande Manitu' esteja connosco.
Ainda bem. E dá-me vontade, até, de dizer, que ainda bem que o bom senso imperou.
Na verdade, a América é uma coisa bem grande. Tem de tudo, é óbvio. Tem o muito bom e tem também o muito menos bom. Tem o nada e tem o tudo, se calhar.
Nos últimos tempos tem tido até o George. O W., evidentemente. Aquele que, se não fosse tão perigoso, até tinha sido um bom alimento para a nossa boa disposição.
Mas agora, segundo parece, os tempos são de mudança. Como dizia o novo ocupante de uma casa que é branca.
Mas é bom não esquecer um dado adquirido desde sempre: não tenhamos dúvidas que a América irá de certeza continuar a ser a América. Com tudo o que isso irá implicar em todos e em tudo.
Esperemos é que os tempos que aí vêm sejam tempos novos, de verdade. Eu, pelo menos, quero acreditar que sim.
E já agora, que o 'Grande Manitu' esteja connosco.
terça-feira, novembro 04, 2008
Quotidianos [VI]
No banco de jardim, os dois amigos apenas estavam. Como quem já sabe o que é de saber, cada um olhava o outro com olhos amigos. Lado a lado, somente se deixavam estar, com o silêncio cúmplice de quem saboreia a fraternidade.
No banco de jardim, de uma praça qualquer, de um cidade qualquer, apenas os dois amigos conjugavam o verbo estar. Apenas os dois amigos importam. O espaço só é importante porque é o espaço onde o encontro se realiza. O espaço só é espaço porque é ali que se alberga o calor de bem querer. O ali só é visível porque lá é que eles estão.
No banco de jardim, os dois amigos olham-se com a tranquilidade do tempo. Para eles não há a pressa. Como não pode existir a ânsia do antes, nem a angústia do depois. Para eles o momento só pode ser a eternidade do ser.
Ao banco de jardim, os dois amigos chegam. Quase todos os dias das suas vidas já com alguma poeira do tempo que os vai acompanhando.
Do banco de jardim, os dois amigos partem. Também quase todos os dias, os dias que ali os acompanham.
E assim, também hoje, depois de ali terem chegado, depois de somente se terem deixado ali estar com a paciência de apenas se saberem encontrar, os dois amigos levantaram-se e partiram. Cada um à sua vida. Um, o João, apoiado na sua bengala, talvez o seu único amparo. O outro, o Átila, o rafeiro alentejano, sem coleira e sem dono.
No banco de jardim, de uma praça qualquer, de um cidade qualquer, apenas os dois amigos conjugavam o verbo estar. Apenas os dois amigos importam. O espaço só é importante porque é o espaço onde o encontro se realiza. O espaço só é espaço porque é ali que se alberga o calor de bem querer. O ali só é visível porque lá é que eles estão.
No banco de jardim, os dois amigos olham-se com a tranquilidade do tempo. Para eles não há a pressa. Como não pode existir a ânsia do antes, nem a angústia do depois. Para eles o momento só pode ser a eternidade do ser.
Ao banco de jardim, os dois amigos chegam. Quase todos os dias das suas vidas já com alguma poeira do tempo que os vai acompanhando.
Do banco de jardim, os dois amigos partem. Também quase todos os dias, os dias que ali os acompanham.
E assim, também hoje, depois de ali terem chegado, depois de somente se terem deixado ali estar com a paciência de apenas se saberem encontrar, os dois amigos levantaram-se e partiram. Cada um à sua vida. Um, o João, apoiado na sua bengala, talvez o seu único amparo. O outro, o Átila, o rafeiro alentejano, sem coleira e sem dono.
segunda-feira, novembro 03, 2008
Crónica de nada (2)
Falar de nada não é tão simples como talvez pareça. Sobretudo nos tempos que correm.
E estes nossos tempos são, afinal, tempos de tudo. Não de nada. Os nossos dias são de excesso, não de raridades. As nossas horas são de presença, não de ausência.
E estes nossos tempos abafam por completo o nosso espaço, que pensamos ainda ser nosso e aberto.
Falar de nada, nos dias que correm, nada mais é, se calhar, que falar do que não queremos mesmo falar. Porque, se calhar, não somos sequer capazes de olhar para nós próprios, sem nos vermos completamente cheios de qualquer coisa.
E estes nossos tempos são, afinal, tempos de tudo. Não de nada. Os nossos dias são de excesso, não de raridades. As nossas horas são de presença, não de ausência.
E estes nossos tempos abafam por completo o nosso espaço, que pensamos ainda ser nosso e aberto.
Falar de nada, nos dias que correm, nada mais é, se calhar, que falar do que não queremos mesmo falar. Porque, se calhar, não somos sequer capazes de olhar para nós próprios, sem nos vermos completamente cheios de qualquer coisa.
domingo, novembro 02, 2008
sábado, novembro 01, 2008
quinta-feira, outubro 30, 2008
Jornadas entardecidas
Quase sempre deixamos que o caminho
Se perca na distância
E tardamos na jornada
Quase sempre permitimos a confusão
Na clareza que se espera
E tardamos na jornada
Quase semre nos ficamos e tornamos
Mudos, surdos e cegos
E tardamos na jornada
Quase sempre acabamos assim
Entardecidos na rota desconhecida
E tardamos na jornada
Quase sempre nos tardamos
Na vontade de chegar no tempo
E a jornada cumpre-se, mesmo assim
Se perca na distância
E tardamos na jornada
Quase sempre permitimos a confusão
Na clareza que se espera
E tardamos na jornada
Quase semre nos ficamos e tornamos
Mudos, surdos e cegos
E tardamos na jornada
Quase sempre acabamos assim
Entardecidos na rota desconhecida
E tardamos na jornada
Quase sempre nos tardamos
Na vontade de chegar no tempo
E a jornada cumpre-se, mesmo assim
quarta-feira, outubro 29, 2008
terça-feira, outubro 28, 2008
Crónica de nada
Há dias assim. Começamos as nossas andanças sem outro rumo que o não saber por onde ir. É como olhar em frente e somente se aperceber que apenas o vazio se realça.
Abrimos os olhos e nada enxergamos. Também mais parece que não queremos mesmo ver para além do que não se vê. E quando, por acaso, acabamos por descobrir que ainda somos capazes de ver alguma coisa, fechamos os olhos com a convicção que o que se vê não tem nada a ver connosco próprios.
Há dias assim. Em que apenas vamos descobrindo que de pequenos nadas se vão fazendo as nossas horas, os nossos dias.
Há dias assim. Em que apenas nos descobrimos no nada das coisas que acabam fatalmente por não acontecer.
Abrimos os olhos e nada enxergamos. Também mais parece que não queremos mesmo ver para além do que não se vê. E quando, por acaso, acabamos por descobrir que ainda somos capazes de ver alguma coisa, fechamos os olhos com a convicção que o que se vê não tem nada a ver connosco próprios.
Há dias assim. Em que apenas vamos descobrindo que de pequenos nadas se vão fazendo as nossas horas, os nossos dias.
Há dias assim. Em que apenas nos descobrimos no nada das coisas que acabam fatalmente por não acontecer.
segunda-feira, outubro 27, 2008
Revelações
Por mais que o queiramos esconder
Há sempre um sentimento latente
Que se liberta e autonomiza
E quando menos damos por isso
Quando já nem queremos mesmo saber
O inesperado revela-se à nossa frente
Há sempre um sentimento latente
Que se liberta e autonomiza
E quando menos damos por isso
Quando já nem queremos mesmo saber
O inesperado revela-se à nossa frente
domingo, outubro 26, 2008
“HAIKU” [XXXIII]
Um monte nevado
E outro monte sem neve
Parecem à mesma altura.
INAHATA TEIKO (n. 1931)
E outro monte sem neve
Parecem à mesma altura.
INAHATA TEIKO (n. 1931)
sábado, outubro 25, 2008
terça-feira, outubro 21, 2008
domingo, outubro 19, 2008
sábado, outubro 18, 2008
sexta-feira, outubro 17, 2008
quinta-feira, outubro 16, 2008
Inquietações
Quando as palavras se tomam em demasia
Quase sempre ficam os conceitos por dizer
Nem sempre o falar, como falam os faladores
Significa conversar
Quase sempre ficam os conceitos por dizer
Nem sempre o falar, como falam os faladores
Significa conversar
quarta-feira, outubro 15, 2008
Momentos íntimos
Se muitas vezes somos confrontados no espelho da vida
Dúvidas constantes
Descobrimos que o nosso tempo é o tempo da certeza da espera
Dúvidas constantes
Descobrimos que o nosso tempo é o tempo da certeza da espera
terça-feira, outubro 14, 2008
segunda-feira, outubro 13, 2008
“HAIKU” [XXXII]
Cigarras da tarde –
Rostos que passam e cruzam
Sem dizer palavra.
ISHIBASHI HIDENO (1909-1947)
Rostos que passam e cruzam
Sem dizer palavra.
ISHIBASHI HIDENO (1909-1947)
sábado, outubro 11, 2008
Divagações [5]
Nas ondas do mar
Vagueiam os meus anseios
Nas ondas do mar
Confundem-se os meus sentimentos
Nas ondas do mar
Revelam-se os meus sonhos
Vagueiam os meus anseios
Nas ondas do mar
Confundem-se os meus sentimentos
Nas ondas do mar
Revelam-se os meus sonhos
quinta-feira, outubro 09, 2008
Cantiga para um herói apressado
Mesmo antes de chegar se ouvem
As trombetas a anunciar o já desvendado
Chega sempre em alaridos cacofónicos
Que duram apenas a brevidade da poeira
Nas chegadas rápidas e sonoras
Antecipa com mestria a partida súbita
A sua hora é a hora da pressa
O seu tempo a azáfama de não estar
A sua coroa é a do espectáculo permanente
Que se esfuma na história que não aprende
As trombetas a anunciar o já desvendado
Chega sempre em alaridos cacofónicos
Que duram apenas a brevidade da poeira
Nas chegadas rápidas e sonoras
Antecipa com mestria a partida súbita
A sua hora é a hora da pressa
O seu tempo a azáfama de não estar
A sua coroa é a do espectáculo permanente
Que se esfuma na história que não aprende
terça-feira, outubro 07, 2008
Momentos íntimos
Estranhos sentimentos me trouxeram quando chegaram
Perfeitos desconhecidos
Na minha cidade abalaram certezas talvez impostas
Perfeitos desconhecidos
Na minha cidade abalaram certezas talvez impostas
segunda-feira, setembro 29, 2008
Dixit
«Os fiéis do Deus-mercado parecem ter descoberto de repente as virtudes do Estado Social, devidamente adaptado aos valores da religião do lucro a qualquer preço, e que, em vez de apoiar os pobres, subsidia os ricos. (...)
No Estado Providência neoliberal, quem paga quer as crises quer as soluções das crises do mercado são sempre os contribuintes. Lá como cá, chamam eles a isso (meter os lucros ao bolso e cobrar ao Estado as perdas) "auto-regulação" do mercado.»
Manuel António Pina
'Auto-regulação', dizem eles
Jornal de Notícias, 29.09.2008
No Estado Providência neoliberal, quem paga quer as crises quer as soluções das crises do mercado são sempre os contribuintes. Lá como cá, chamam eles a isso (meter os lucros ao bolso e cobrar ao Estado as perdas) "auto-regulação" do mercado.»
Manuel António Pina
'Auto-regulação', dizem eles
Jornal de Notícias, 29.09.2008
domingo, setembro 28, 2008
quinta-feira, setembro 25, 2008
Na "mouche"
«(...) E, já agora, partam-se os lápis (sem controlo parental, um lápis pode desenhar coisas que eu sei lá...)»
Ferreira FernandesSEM CONTROLO PARENTAL, UM LÁPIS É PERIGOSO
Diário de Notícias, 25.09.2008
quarta-feira, setembro 24, 2008
“HAIKU” [XXXI]
As flores do arroz –
Que elas sejam para o Buddha
Minha humilde oferta.
KAWAI CHIGETZU (1634?-1718)
Que elas sejam para o Buddha
Minha humilde oferta.
KAWAI CHIGETZU (1634?-1718)
segunda-feira, setembro 22, 2008
Dixit
«(...) Deus é tão horrível que, se Ele viesse a este mundo, as coisas iam correr mal de certeza. É verdade que os gregos, romanos e outros imaginaram como seriam as visitas dos deuses, mas eles perceberam tudo ao contrário, descrevendo a cena como um patrão a visitar a propriedade. O que aconteceria realmente seria que, depois de um momento de euforia no reconhecimento, começariam as reinvindicações, as discussões, os ataques. Não! Se Deus nos visitasse, o mais certo era Ele acabar morto da forma mais cruel que se conseguisse encontrar. (...)»
João César das Neves
DEVE SER HORRÍVEL SER DEUS
Diário de Notícias, 22.09.2008
João César das Neves
DEVE SER HORRÍVEL SER DEUS
Diário de Notícias, 22.09.2008
domingo, setembro 21, 2008
sábado, setembro 20, 2008
Acrósticos [I]
Já cheguei aqui e aqui me encontro
Onde parto sempre e breve regresso
Sem outro saber que o não saber
E sem descobrir o mistério escondido
Marcado com o sinal da vida
Abalado quase sempre que chego
Reabro as portas que me impõem
Indo ao encontro de outros gestos
Até que a memória se faça futuro
Onde parto sempre e breve regresso
Sem outro saber que o não saber
E sem descobrir o mistério escondido
Marcado com o sinal da vida
Abalado quase sempre que chego
Reabro as portas que me impõem
Indo ao encontro de outros gestos
Até que a memória se faça futuro
quinta-feira, setembro 18, 2008
terça-feira, setembro 16, 2008
Provérbios
Se para conhecer o estado de vigília bastasse sentar-se de cócoras, todas as rãs seriam Buda.
Antigo Provérbio Chinês
segunda-feira, setembro 15, 2008
Dixit
«(...) Sete anos depois, não sabemos a que ponto recuou o terrorismo. Mas sabemos que houve mais atentados e que eles não terminaram. Que a estupidez não compensa, comprova-o Bush. Que o medo também não, vê-se na Europa. Talvez por isso, nós, europeus, olhemos para as eleições americanas como se elas fossem deste lado do mar.»
Henrique Monteiro
A origem do mal (e a origem do medo)
Expresso [on-line], 15.09.2008
Henrique Monteiro
A origem do mal (e a origem do medo)
Expresso [on-line], 15.09.2008
domingo, setembro 14, 2008
quarta-feira, setembro 10, 2008
Os meus olhos
Os meus olhos apenas conseguem
Descobrir que no meio das formas nebulosas
Há ainda alguns raios esquivos
E esquecidos
Os meus olhos apenas se permitem
Procurar por entre a névoa que se formou
Algumas clareiras desertas, áridas
E abandonadas
Os meus olhos apenas conhecem
Os olhares dos que se deixam revelar
Desvendando a luz que ilumina
E esclarece
Os meus olhos apenas sabem
Olhar o longe que não se distingue
E apreendem que o hoje é o ontem
E também o amanhã
Os meus olhos apenas se abrem
Ao encontro do escondido, do incógnito
E no desejo de ver sem saber olhar
Apenas olham sem ver
Descobrir que no meio das formas nebulosas
Há ainda alguns raios esquivos
E esquecidos
Os meus olhos apenas se permitem
Procurar por entre a névoa que se formou
Algumas clareiras desertas, áridas
E abandonadas
Os meus olhos apenas conhecem
Os olhares dos que se deixam revelar
Desvendando a luz que ilumina
E esclarece
Os meus olhos apenas sabem
Olhar o longe que não se distingue
E apreendem que o hoje é o ontem
E também o amanhã
Os meus olhos apenas se abrem
Ao encontro do escondido, do incógnito
E no desejo de ver sem saber olhar
Apenas olham sem ver
domingo, setembro 07, 2008
Vamos lá a ver se nos entendemos: será sério e honesto atribuir a culpa aos médicos?
Há médicos que ganham 2500 euros numa urgência de 24 horas num hospital público, quando contratados por empresas privadas. Alguns pertencem ao quadro da unidade de saúde, onde fazem o “banco” através da empresa.
Público, 07.09.2008 [Sublinhado meu]
Público, 07.09.2008 [Sublinhado meu]
sexta-feira, setembro 05, 2008
Cantiga de amigo
Ao olhar o distante do olhar
Do meu amigo
Descubro apenas a incerteza
Ao olhar a ausência no olhar
Do meu amigo
Encontro tão-somente o vazio
Ao olhar a inquietação no olhar
Do meu amigo
Sinto apenas a porta do temor
Ao olhar o profundo do olhar
Do meu amigo
Recebo, afinal, o meu amigo
Do meu amigo
Descubro apenas a incerteza
Ao olhar a ausência no olhar
Do meu amigo
Encontro tão-somente o vazio
Ao olhar a inquietação no olhar
Do meu amigo
Sinto apenas a porta do temor
Ao olhar o profundo do olhar
Do meu amigo
Recebo, afinal, o meu amigo
quinta-feira, setembro 04, 2008
Bem dito!
Já estão na China os 35 atletas da missão portuguesa aos Jogos Paralímpicos. Os Jogos começam no próximo sábado. Para redimir as megalómanas ambições patrióticas, tão desenquadradas da realidade e, por isso mesmo, tão abaladas com as modestas participações da selecção de futebol no Euro e dos nossos atletas olímpicos nos Jogos de Pequim, exige-se agora aos paralímpicos que nos vinguem perante a comunidade desportiva mundial.
E perante nós próprios. Está, mais uma vez, o disparate montado. E não podia ser mais lamentável o slogan escolhido para a campanha oficial de apoio à comitiva paralímpica: "É nisto que somos bons." O "somos bons", enfim, já não é grande coisa, mas o "nisto" é intolerável. "Nisto"? Mas "nisto", o quê? Pois é, precisamente, nisto que somos maus.
Leonor Pinhão
"Nisto", o quê?
Correio da Manhã, 04.09.2008
E perante nós próprios. Está, mais uma vez, o disparate montado. E não podia ser mais lamentável o slogan escolhido para a campanha oficial de apoio à comitiva paralímpica: "É nisto que somos bons." O "somos bons", enfim, já não é grande coisa, mas o "nisto" é intolerável. "Nisto"? Mas "nisto", o quê? Pois é, precisamente, nisto que somos maus.
Leonor Pinhão
"Nisto", o quê?
Correio da Manhã, 04.09.2008
terça-feira, setembro 02, 2008
segunda-feira, setembro 01, 2008
Dixit
«(…) Se olharmos, sem preconceitos, para o que se passa à nossa volta, mesmo quando ninguém fala de assaltos a bancos, de "carjacking" ou de outros crimes violentos, verificamos que a cultura portuguesa é desculpabilizadora. A polícia desculpa, os magistrados desculpam, o poder político desculpa. (…)»
Henrique Monteiro
Insegurança, impunidade e balda
Expresso [on-line], 01.09.2008
Henrique Monteiro
Insegurança, impunidade e balda
Expresso [on-line], 01.09.2008
domingo, agosto 31, 2008
sábado, agosto 30, 2008
Dixit
«(...) Mas quem não renunciou a todos os princípios e sabe que o objectivo do espírito olímpico é "pôr o desporto ao serviço do desenvolvimento do ser humano, com vista a promover uma sociedade pacífica dedicada à preservação da dignidade humana", apontou para a "cortina de fumo olímpica" e o "virtuoso baile de máscaras". O Herald Tribune intitulou um editorial: "O grande perdedor em Pequim: os direitos humanos." (...)»
Anselmo Borges
OS JOGOS OLÍMPICOS: LIBERDADE E RELIGIÃO
Diário de Notícias, 30.08.2008
Anselmo Borges
OS JOGOS OLÍMPICOS: LIBERDADE E RELIGIÃO
Diário de Notícias, 30.08.2008
Provérbios
Não digo que dessa água não beberei, porque isso nem eu sei.
In Tomás Lourenço, Provérbios Pós-Modernos, Âncora Editora
In Tomás Lourenço, Provérbios Pós-Modernos, Âncora Editora
sexta-feira, agosto 29, 2008
Dúvidas subversivas (XXXVI)
Será que depois de instalados os chips nas nossas viaturas, vão deixar de se ouvir e de ver os casos de carjacking nas notícias que se ouvem e vêem hoje nos media?
quinta-feira, agosto 28, 2008
Pensamentos subversivos (LXXIV)
Palavra de honra que não queria dizer nada, mas a cada dia que passa, e a cada coisa [destas, por exemplo] que se vai vendo, cada vez mais me vou convencendo que eles, esses mesmos, afinal apenas continuam a ter mão bem dura e pesada para os mais fracos dos mais fracos. Porque o que se vai percebendo cada vez mais é que os outros, esses mesmos, cada vez se vão tratando com mãos bem macias, leves, suaves e, quiçá, por vezes até, bem carinhosas.
Ora porra para tudo isto!
Ora porra para tudo isto!
quarta-feira, agosto 27, 2008
terça-feira, agosto 26, 2008
domingo, agosto 24, 2008
sexta-feira, agosto 22, 2008
Há olhares
Há olhares
Que mais não são que apenas reflexos
Dos interiores da nossa existência
Há olhares
Que mais não são que apenas sinais
Do que mais escondido procuramos reter
Há olhares
Que mais não são que apenas gritos
Que ressoam das nossas incapacidades
Há olhares
Que mais não são que apenas nuvens
Que mitigam as nossas dores e inquietações
E há olhares
Que mais não são, afinal, que apenas armas
Que atingem quase sempre as nossas certezas
Que mais não são que apenas reflexos
Dos interiores da nossa existência
Há olhares
Que mais não são que apenas sinais
Do que mais escondido procuramos reter
Há olhares
Que mais não são que apenas gritos
Que ressoam das nossas incapacidades
Há olhares
Que mais não são que apenas nuvens
Que mitigam as nossas dores e inquietações
E há olhares
Que mais não são, afinal, que apenas armas
Que atingem quase sempre as nossas certezas
quinta-feira, agosto 21, 2008
quarta-feira, agosto 20, 2008
Dixit
«(...) O presidente do Comité Olímpico diz que o COP prepara "os atletas desportivamente, não culturalmente. A educação não é connosco". Bingo…! Percebe-se agora por que as coisas nos estão a correr mal em Pequim. (...)»
Camilo Lourenço
Os Mamedes e a gestão olímpica
Jornal de Negócios, 20.08.2008
Camilo Lourenço
Os Mamedes e a gestão olímpica
Jornal de Negócios, 20.08.2008
terça-feira, agosto 19, 2008
segunda-feira, agosto 18, 2008
Um pedacinho de vida
Trabalhei limpando casas,
Colhi frutos, vindimei, ...
Com alegria, voando nas asas,
De um sonho que sonhei.
A fantasia foi concluída.
Mas talvez por falta de sorte,
Depois de lutar pela vida,
Tive de lutar contra a morte.
No momento da partida,
Implorei com humildade.
Um pedacinho de vida,
Uma nova oportunidade!
Para distribuir felicidade,
A Deus pedi, a sorrir.
Por quem não tinha idade,
De ver sua mãe partir.
Estas quadras que faço,
São como um hino à vida.
Nelas ponho um pedaço,
De quando a julguei perdida.
A vida pode ser bela,
Na sua simplicidade, ...
Se passarmos por ela,
Vivendo com dignidade, ...
Helena Eusébio Santos
In Biblioteca de Óbidos’2003
Poesia Popular Obidense
Colhi frutos, vindimei, ...
Com alegria, voando nas asas,
De um sonho que sonhei.
A fantasia foi concluída.
Mas talvez por falta de sorte,
Depois de lutar pela vida,
Tive de lutar contra a morte.
No momento da partida,
Implorei com humildade.
Um pedacinho de vida,
Uma nova oportunidade!
Para distribuir felicidade,
A Deus pedi, a sorrir.
Por quem não tinha idade,
De ver sua mãe partir.
Estas quadras que faço,
São como um hino à vida.
Nelas ponho um pedaço,
De quando a julguei perdida.
A vida pode ser bela,
Na sua simplicidade, ...
Se passarmos por ela,
Vivendo com dignidade, ...
Helena Eusébio Santos
In Biblioteca de Óbidos’2003
Poesia Popular Obidense
domingo, agosto 17, 2008
sábado, agosto 16, 2008
Pensamentos subversivos (LXXIII)
Cá para mim, parece-me que anda por aí muita gente a confundir as coisas. [Ou, se calhar até não, o que será bem pior.]
E cada vez mais me vai parecendo que com esta nossa mania de termos de ser umas cabecinhas bem-pensantes, umas mentalidades mais do politicamente correcto do que da realidade existente, ainda vamos acabar por descobrir um dia que isto vai tudo por água abaixo.
Ou, se calhar, afinal de contas, andamos mas é todos a dormir. E nem sequer nos damos ao trabalho de pensar que, se calhar, até há gente que não dorme. E, se calhar, até é a única verdade de tudo o que acabei de escrever...
E cada vez mais me vai parecendo que com esta nossa mania de termos de ser umas cabecinhas bem-pensantes, umas mentalidades mais do politicamente correcto do que da realidade existente, ainda vamos acabar por descobrir um dia que isto vai tudo por água abaixo.
Ou, se calhar, afinal de contas, andamos mas é todos a dormir. E nem sequer nos damos ao trabalho de pensar que, se calhar, até há gente que não dorme. E, se calhar, até é a única verdade de tudo o que acabei de escrever...
quarta-feira, agosto 13, 2008
Vá lá, vá lá, que ainda há gente que lá vai dizendo o que falta dizer…
- E NINGUÉM DISSE: 'PARA ONDE ME LEVASTE, RAPAZ?‘ – Ferreira Fernandes – Diário de Notícias
. - Anda Tudo Doido ou Quê? – M Bento – Terra Encantada
terça-feira, agosto 12, 2008
segunda-feira, agosto 11, 2008
Olho os meus dias
Olho os meus dias como se olham as nuvens
E os meus olhos como que vão aprendendo
O sabor da liberdade que o vento lhes permite.
Olho os meus dias como se olham as ondas
E os meus olhos como que vão descobrindo
A força fecunda da profunda imensidão.
Olho os meus dias como se olha o horizonte
E os meus olhos como que vão pressentindo
A serena perenidade da própria vida.
E os meus olhos como que vão aprendendo
O sabor da liberdade que o vento lhes permite.
Olho os meus dias como se olham as ondas
E os meus olhos como que vão descobrindo
A força fecunda da profunda imensidão.
Olho os meus dias como se olha o horizonte
E os meus olhos como que vão pressentindo
A serena perenidade da própria vida.
domingo, agosto 10, 2008
Provérbios Pós-Modernos
Roda quadrada já é um espanto, mas a triangular dá menos um solavanco.
In Tomás Lourenço, Provérbios Pós-Modernos, Âncora Editora
In Tomás Lourenço, Provérbios Pós-Modernos, Âncora Editora
sábado, agosto 09, 2008
sexta-feira, agosto 08, 2008
Quotidianos [V]
Tinham fechado a Rua Principal, porque uma das condutas de água que lhe inundava o interior tinha-se rompido. A água, assim liberta, tinha começado por invadir os passeios de ambos os lados e ameaçava alguns pisos térreos das casas que a ladeavam.
Quando fecharam as torneiras de segurança, a montante, ficou o alagado em que se tinha transformado a Rua Principal. E onde, como sempre nestes casos, algumas crianças aproveitavam para recreios, mais ou menos molhados.
Com tudo isto, a viagem tinha-se demorado e já não tinha a certeza de que valeria a pena chegar onde deveria chegar. Porque as esperas, quando demoradas, deixam de ser esperas. E não é o mesmo estar à espera, estando, que esperar, indo.
Quando se libertou da fila enorme que, com a calma dos conformados, aguardava a liberdade do caminho, teve um pressentimento que o inquietou. O tempo já não era o tempo da viagem. Era o tempo da demora.
Respirou fundo e acelerou, com o sentimento estranho do destino incerto. À sua frente, ainda muito tempo até que o momento esperado se manifestasse.
Lá à frente, bem lá à frente, numa mesa de uma pequena esplanada bem aquecida pelo Sol, ela lia um livro, com o coração à espera. Porque a espera, por vezes, precisa de se perder noutros momentos, noutros locais, mesmo que imaginados.
Desculpa, foi o que conseguiu articular, enquanto se deixava afundar na cadeira que o esperava à frente dela. Que o olhou com aquele olhar que só aqueles que conhecem a palavra gostar podem compreender. E partilhar. Olhar partilhado na vontade de um beijo com sabor a reencontro.
E quando é assim, a demora da espera encontra tempo no tempo de bem-querer. E quando é assim, a espera descobre-se no chegar, para se aventurar no partir da viagem que só conhece o desconhecido.
Quando fecharam as torneiras de segurança, a montante, ficou o alagado em que se tinha transformado a Rua Principal. E onde, como sempre nestes casos, algumas crianças aproveitavam para recreios, mais ou menos molhados.
Com tudo isto, a viagem tinha-se demorado e já não tinha a certeza de que valeria a pena chegar onde deveria chegar. Porque as esperas, quando demoradas, deixam de ser esperas. E não é o mesmo estar à espera, estando, que esperar, indo.
Quando se libertou da fila enorme que, com a calma dos conformados, aguardava a liberdade do caminho, teve um pressentimento que o inquietou. O tempo já não era o tempo da viagem. Era o tempo da demora.
Respirou fundo e acelerou, com o sentimento estranho do destino incerto. À sua frente, ainda muito tempo até que o momento esperado se manifestasse.
Lá à frente, bem lá à frente, numa mesa de uma pequena esplanada bem aquecida pelo Sol, ela lia um livro, com o coração à espera. Porque a espera, por vezes, precisa de se perder noutros momentos, noutros locais, mesmo que imaginados.
Desculpa, foi o que conseguiu articular, enquanto se deixava afundar na cadeira que o esperava à frente dela. Que o olhou com aquele olhar que só aqueles que conhecem a palavra gostar podem compreender. E partilhar. Olhar partilhado na vontade de um beijo com sabor a reencontro.
E quando é assim, a demora da espera encontra tempo no tempo de bem-querer. E quando é assim, a espera descobre-se no chegar, para se aventurar no partir da viagem que só conhece o desconhecido.
quinta-feira, agosto 07, 2008
Outros olhares
DELACROIX, Eugène
The Barque of Dante
1822, Oil on canvas, 189 x 246 cm
Musée du Louvre, Paris
Imagem daqui
The Barque of Dante
1822, Oil on canvas, 189 x 246 cm
Musée du Louvre, Paris
Imagem daqui
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