Saiu de casa com a sensação de que o dia haveria de lhe trazer algumas surpresas. Era dia 30 deste mês, o último a que cabia consultar a conta bancária para ver se o ordenado lá havia sido depositado. Para mais, também era dia, afinal o último de cada mês, que tinha que ter a conta mais ou menos preenchida, pois o recibo da renda de casa lá caía inexoravelmente.
Imaginou a bica, tomada em pensamento, com um colega que com ela partilhava a carruagem de metro e aguentou a viagem em diálogo de colega.
Antes de subir ao segundo andar, onde todos os dias cumpria as ordens que lhe competiam numa azáfama de papéis a transportar, sentiu um calafrio no coração ao olhar o pequeno papel que acabava de sair da caixa de Multibanco, com o saldo da sua conta. Repetiu a operação, agora pedindo os movimentos dos últimos dias, mas lá não constava o que já desesperava encontrar. Neste último dia do mês, dia em que devia receber o ordenado com que quase conseguia não pagar a renda da casa, o pequeno papel apenas lhe revelava o branco da ausência devida.
Jacinta, a jovem mãe solteira, que apenas consigo própria podia contar nos dias que vivia com a filha, acabava de descobrir que tinha um longo dia à sua frente. Longo, difícil e dorido, é certo. E o primeiro telefonema que recebeu, chamada privada no telemóvel, ainda sem capacidade de gerar ele próprio chamadas, foi precisamente do banco, a questionar o negativo da conta, com a renda do empréstimo por cumprir. Ao chegar à secretária, que a esperava diariamente com a paciência da imobilidade, apenas foi capaz de se ouvir: “mas como é que vou resolver isto, hoje?”
Ia ser um longo dia, isso Jacinta sabia bem. Como outros que tentava esquecer. E, nesta manhã, de um dia que iria ser, certamente, bem longo, não era de Clara, a filha, que Jacinta agora se lembrava. O que Jacinta agora se lembrava era do contrato precário que ainda ninguém tinha tido a coragem de transformar, com toda a justiça, em situação normal de trabalho. E que por isso mesmo, às vezes, permitia que a paga pelo seu esforço, pelo seu trabalho, se atrasasse sem se saber lá muito bem porquê.
E, já agora, Jacinta sabia muito bem que, se calhar, quem não tinha feito tudo ao seu alcance para que a normalidade fosse o caso, tinha a sua normalidade perfeitamente resolvida. E, bem demais, se calhar.
Imaginou a bica, tomada em pensamento, com um colega que com ela partilhava a carruagem de metro e aguentou a viagem em diálogo de colega.
Antes de subir ao segundo andar, onde todos os dias cumpria as ordens que lhe competiam numa azáfama de papéis a transportar, sentiu um calafrio no coração ao olhar o pequeno papel que acabava de sair da caixa de Multibanco, com o saldo da sua conta. Repetiu a operação, agora pedindo os movimentos dos últimos dias, mas lá não constava o que já desesperava encontrar. Neste último dia do mês, dia em que devia receber o ordenado com que quase conseguia não pagar a renda da casa, o pequeno papel apenas lhe revelava o branco da ausência devida.
Jacinta, a jovem mãe solteira, que apenas consigo própria podia contar nos dias que vivia com a filha, acabava de descobrir que tinha um longo dia à sua frente. Longo, difícil e dorido, é certo. E o primeiro telefonema que recebeu, chamada privada no telemóvel, ainda sem capacidade de gerar ele próprio chamadas, foi precisamente do banco, a questionar o negativo da conta, com a renda do empréstimo por cumprir. Ao chegar à secretária, que a esperava diariamente com a paciência da imobilidade, apenas foi capaz de se ouvir: “mas como é que vou resolver isto, hoje?”
Ia ser um longo dia, isso Jacinta sabia bem. Como outros que tentava esquecer. E, nesta manhã, de um dia que iria ser, certamente, bem longo, não era de Clara, a filha, que Jacinta agora se lembrava. O que Jacinta agora se lembrava era do contrato precário que ainda ninguém tinha tido a coragem de transformar, com toda a justiça, em situação normal de trabalho. E que por isso mesmo, às vezes, permitia que a paga pelo seu esforço, pelo seu trabalho, se atrasasse sem se saber lá muito bem porquê.
E, já agora, Jacinta sabia muito bem que, se calhar, quem não tinha feito tudo ao seu alcance para que a normalidade fosse o caso, tinha a sua normalidade perfeitamente resolvida. E, bem demais, se calhar.
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