João olha as coisas da vida como se delas apenas soubesse que ali estão. E mais não consegue entender, até porque acha que o tempo que vai gastando é afinal o tempo que tem à sua frente. Por enquanto. E isso, em vez de o perturbar, para não dizer outra coisa, parece mais que o fascina, como se deixa fascinar pelo Sol que se põe, ou pela nuvem que desenha imagens lá bem em cima.
Porque sempre quis viver a vida vivendo, João sempre se foi deixando envolver nos vários, quase muitos, projectos e ideias que permanentemente lhe iam sendo desvendados. Sempre acompanhado por outros que, como ele, gostavam de viver a vida assim, ousavam permanentemente a esperança sem desfalecimento. E acreditavam piamente que haveria de chegar um dia em que de seu haviam de chamar.
Mas como nestas coisas do tempo, o tempo não tem tempo, o próprio tempo vai caminhando a viagem intemporal. E quando se dá por ele, descobre-se que afinal o tempo não é mais que passado. Não é mais que presente. E mais não é que futuro.
Depois de ter começado mil e uma coisa, depois de ter interrompido mais de mil e uma coisa, depois até de ter recomeçado outras mais de mil e uma coisa, um dia, João deu por si como se estivesse no início de tudo. Depois de mais de mil e um recomeços, sem ter chegado a saborear sequer qualquer coisa que de concreto o deixasse ufano e orgulhoso, João apenas conseguiu descobrir que se calhar afinal a vida acaba quase sempre por ser apenas mais um dia em cima de um outro.
Ele que até passa a vida a dizer ser um sortudo da vida. Porque conhece a casa onde vive e a gente com quem partilha o tempo que teima em temperar os dias, os meses, os anos.
Por mim, estou em crer que um dia, João acabará mesmo por adormecer finalmente na praia.