Ficou-me na memória o teu bigode
Pequeno e ralo do tempo já gasto.
E as carícias!... Saudades de criança.
Os teus olhos vivos e inquietos
Que me fitavam manhosos e alegres
Faziam-me tremer e rir ao mesmo tempo.
As tuas mãos eram carreiros
Abertos na terra pelo arado fecundo.
E os teus dedos eram suaves como a lua.
Ficaram gravadas no tempo a lembrar
As tuas calças ruças de águas muitas.
E o teu colete cinzento que nunca se fechava.
Por vezes ao acordar estremunhado com o galo irritante
Estremecia com a figura gigantesca de sombra
Que o teu corpo franzino projectava na porta.
Surgias na casa com a alvorada
De enchada na mão e trapalhão no andar.
E no ar ficava o cheiro inebriante do mata-bicho.
Acompanhavas-me pela estrada grande
No teu passo lento e arrastado.
E eu sentia-me seguro na tua sabedoria.
Um dia cansaste-te e partiste.
Não mais aquele falar engasgado
Nem aquela casa que me acolhia.
(Teorema, Dezembro 2003)
sábado, janeiro 07, 2006
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1 comentário:
Meu caro Kamikaze:
As entradas aqui são sempre livres, como livres, certamente, são os que por aqui deambulam. É, estou convencido, o teu caso.
Depois, não é imerecido, não!
Um abraço
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