sexta-feira, março 31, 2006

Sexta-feira. Boa!

FRANCISCO RODRIGUEZ
EL DESCANSO
112 X 60,5 cm

Passo a Passo

Passo a passo
Pedra a pedra
Percorremos a calçada
Do trajecto a seguir

Espaço a espaço
Rua a rua
Andamos a cidade
Da vida que sonhámos

E corremos
Os caminhos isolados
Da terra que nos viu
Nascer
E seguimos
As estradas poeirentas
Dos destinos que nos
Esperam

Caminhámos
Noite a noite
As estrelas bem alto
Guiando nossos pés

Caminhámos
Noite a noite
A lua prateada no céu
Sorrindo quando nos olhámos

(Teorema, Dezembro 2003)

quinta-feira, março 30, 2006

Paridade – Igualdade – Quotas (2)

É verdade: Em relação à postagem anterior, falta-me apenas dizer que muito da posição que assumo tem a ver com o contacto, com o convívio, com a partilha de vida, com a relação que mantenho com uma Grande Senhora que mora comigo (ou eu com ela, é uma dúvida permanente). E que, em conjunto, de igual para igual, procuramos olhar a vida à nossa volta com olhos de gente. De gente que se quer bem. Iguais na diferença, diferentes na igualdade.

Paridade – Igualdade – Quotas

Como anuncia hoje o Público, “a Assembleia da República debate hoje, na generalidade, um projecto de lei da paridade, que estabelece a obrigatoriedade de as listas de candidatos às eleições legislativas, autárquicas e europeias integrarem, no mínimo, um terço de mulheres ou homens. A proposta, de iniciativa do PS, deverá contar com a aprovação da bancada do BE e com a rejeição dos restantes partidos da oposição”.

Para já, e no que me toca, de quotas, apenas as que me comprometo a pagar nas instituições ou clubes a que me apeteceu associar. Desta, não sou aficcionado, nem me parece que venham a resolver o verdadeiro problema. Quer queiramos quer não.

Para já, nem sequer admito que me chamem nomes. Porque, para que não restem dúvidas, dentro das diversidades inerentes ao próprio ser, é minha convicção que homens e mulheres são parceiros iguais na história comum da humanidade. E pronto. Quanto a isto estamos conversados.

Quanto ao resto, bem, eu sei que quem decide quase tudo, nos variados sectores da sociedade (política, empresas, etc…) são, por norma, os homens. Porque, quase sempre, são eles que fatalmente lá estão, ou lá vão ficando. E, muitas vezes, infelizmente, não por critérios de qualidade, de competência. Muitas vezes, até, invocando a tradição. Como se não soubéssemos todos que a nossa tradição é, afinal, a de uma sociedade patriarcal, fundada na supremacia do homem (aqui no sentido restrito da palavra) sobre todas as coisas.

E, sem hipocrisias, basta olhar de frente sobre algumas realidades concretas da nossa história comum, nomeadamente o sector político e o sector religioso. Creio que não vale a pena dizer mais.

Mas, de facto, não creio que o sistema das quotas seja o “milagre” para restabelecer a ordem e a justiça nesta matéria. Porque, e esta é uma maior perversidade, quer-me cá parecer que o que afinal se procura é fazer por decreto o que não se consegue pela inteligência, pela vontade, pela livre escolha.

E nesta posição estou com
Manuela Ferreira Leite e com Odete Santos, por exemplo. E não me parece que ela seja uma mulher amordaçada, oprimida, inculta e ignorante. Muito pelo contrário.

É que às vezes, à força de tanto querermos ser democráticos, chegamos à democracia de papel. À força de tanto querermos ser igualitários, assumimos a igualdade sem vontade livre. À força de tanto querermos ser tolerantes, tornamo-nos quase intolerantes. No fundo, é a escravidão dos livres, a igualdade dos diferentes, a intolerância dos tolerantes.

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Mas, que me perdoem a mordacidade: Se calhar no PS já se começa a pensar que os homens estão a definhar e por isso já estarão a garantir, para o futuro, a sua permanência nos vários órgãos do poder. Quer sejam competentes quer não. É que não se pode esquecer o maior número de mulheres nas nossas sociedades. E isto, qualquer dia, pode mesmo mudar.

quarta-feira, março 29, 2006

Três anos depois (2)

Como eu dizia aqui, lá vão três anos sobre a intervenção no Iraque. Ou para sermos mais rigorosos, sobre a guerra no Iraque. É tempo mais do que suficiente para se começarem a ir conhecendo alguns dados sobre esse acontecimento.

Curioso, no mínimo e para não dizer mais, o que veio a público agora, nomeadamente no
Expresso (27 de Março de 2006), sobre os motivos e as razões que levaram George W.Bush a lançar a ofensiva sobre aquele país.

Sabemos hoje, via New York Times, “que o Presidente norte-americano, George W. Bush, informou o primeiro-ministro britânico em 2003 que estava decidido a invadir o Iraque mesmo sem uma resolução da ONU e sem que alguma arma de destruição maciça tivesse sido encontrada”.

E sabe-se mais: “George W.Bush referiu, consequentemente, a possibilidade de provocar um confronto, sacrificando, por exemplo um avião de vigilância norte-americano, pintado com as cores da ONU, na esperança de provocar a guerra”.

Passados três anos, cá vamos continuando a não saber muito bem o que dizer sobre tudo isto tudo. Ou, se calhar, a saber muito bem o que dizer. Cá por mim, continuo a pensar que as guerras, os conflitos, são quase sempre manifestações de sangrenta e estúpida ignorância, de intolerante afirmação fanática de “fracos” que se querem transformar em “fortes”. As guerras têm sido quase sempre momentos de obscurantismo na história da nossa memória colectiva.

Mas, para que não restem dúvidas, nem me apodem de furioso extremista fanático, vamos lá a esclarecer as coisas: Palavra de honra que até nem me considero anti-americano. (Para mais, detesto os anti primários de qualquer coisa.) Tenho o maior respeito pelo povo norte-americano, pela sua história e, tirando um ou outro acontecimento deste calibre (que cabe na responsabilidade de determinadas administrações), pelo papel que tem desenvolvido ao longo da sua existência, neste mundo global em que vivemos. Muitas das vezes como suporte para a manutenção da democracia e da liberdade em locais onde elas são esquecidas.

Para além do mais, no âmbito das relações estratégicas internacionais, sou muito mais adepto das relações atlânticas, ou mais especificamente, do triângulo atlântico: Europa – América – África (sobretudo a África Lusófona). Estou convencido que será por aqui que se poderá construir um futuro mais sustentavelmente desenvolvido. E melhor para todos nós, certamente.

terça-feira, março 28, 2006

Desabafos matinais

Há quanto tempo não começava um dia assim.

A caminhada de cerca de 50 minutos foi tónico que já me faltava e me estava a sentir que a roupa estava a encolher. E como é bom andar assim na rua. Pouca gente, mas o suficiente para sentirmos que não estamos sozinhos neste espaço. E normalmente quase todos com a sábia calma dos que sentem a meta. E os outros, bem os outros, apressados, também lá iam sôfregos e agitados que os transportes por vezes são breves e apressados.

Era cedo, eu sei bem. Mas o cedo também me soube bem, apesar do tarde em que me deitei ontem. Até me parece que quando menos horas estou na cama, melhor me sabe o dia. Deve ser doença, segundo alguns amigos meus, bons amantes do quente dos lençóis.

De facto, há quanto tempo não começava um dias assim.

segunda-feira, março 27, 2006

A minha canção

A minha canção
Tem palavras com sabor
A esperança.
Tem letras que se repetem
Como o eco da liberdade.

A minha canção
Tem a melodia da certeza
Dos dias da vitória
Dos dias que cantam a alegria.

A minha canção
Quero-a liberta
De incertezas e contradições.
Da noite que não esqueço
Retenho a têmpera
Dos que não se deixaram ficar.

A minha canção
É para os que sofrem
Dias desfeitos em horas estragadas.
São os que retêm nos olhos
A maresia do desespero
E que abrem as mãos
Ao futuro incerto e esquecido.

domingo, março 26, 2006

Porque hoje é Domingo

Domingo Garcia Criado
Noviazgo (Courtship)
2000, Oil on canvas

sábado, março 25, 2006

Será que li e ouvi bem?

Homossexuais masculinos já podem dar sangue
Portugal Diário, 24 de Março de 2006
Acabei também de ver esta notícia na RTP, no seu Jornal da Tarde.

Deixem cá ver se percebi bem: Mas eles não podiam já dar sangue?
Nã! Devo estar a sonhar. Continuemos, pois, que a almofada sabe bem…

Porque hoje é Sábado

Gerardo Báez
S/Título
Técnica: Pastel y acrílico
Medidas: 96 x 66 cm
Ano: 1995

sexta-feira, março 24, 2006

A Prima Vera

Tinham-me dito que a prima Vera tinha chegado. Depois de alguns meses ausente da nossa casa, tinha vindo, finalmente, ter connosco, com toda a sua alegria e simpatia. E, como de costume, todos nós estávamos à espera das suas lembranças. Que, normalmente, eram sentidas de forma diferente por quem as recebia. Uns mais, outros menos, mas todos sempre satisfeitos.

Tinham-me dito que a prima Vera estava cá. Entre nós. E, se calhar até mesmo por isso, cá para mim até me parecia que a maioria das pessoas que conheço até andava mais bem disposta. É que a prima Vera era alguém que, normal e naturalmente, nos transmitia um sentimento de tranquila e serena alegria.

Tinham-me dito que a prima Vera já se instalara cá em casa. Pelo menos, o seu quarto já respirava vida novamente.

Tinham-me dito…

Mas, que me desculpem os arautos da notícia, cá por mim, ainda não dei pela prima. A Vera, é claro. Se calhar ainda não teve tempo de se manifestar. Se calhar porque os tempos ainda andam muito conturbados.

Mas segundo me dizem, que vem, lá isso vem.

quinta-feira, março 23, 2006

Ontem contaram-me uma história

Contaram-me ontem uma história. Uma história acerca de uma viagem. De alguém que se aventurou a partir. De alguém que não quis ficar. De alguém que não se deixou ficar preso no seu próprio casulo e resolveu rasgar a casca e sair.

Ontem contaram-me uma história. Uma história de viagem. De alguém que arriscou a partida. Mesmo se do horizonte apenas vislumbrasse o escuro com que os seus olhos estavam tapados. Mesmo se do caminho apenas vislumbrasse o difuso, a neblina, o nevoeiro.

Ontem contaram-me uma história. Uma história de viagem. De alguém que, de súbito, descobriu ao longe uma montanha. E que sentiu um impulso ardente em se aventurar na descoberta do que estava do outro lado da montanha.

Ontem contaram-me que alguém, afinal, partiu à conquista da montanha. Porque sabe, como eu o sei, que do outro lado da montanha, um novo mundo desponta.

Cá para mim, tenho a certeza que lá, no outro lado da montanha, nos vamos encontrar. Aliás, tenho cá a impressão que nesta história, nesta história de viagem, já estamos a caminhar juntos o caminho.

Boa viagem, meu irmão. Boa, a viagem.

quarta-feira, março 22, 2006

Tempo de inquietações

Candido Portinari
Guerra
1952-1956, óleo s/ madeira compensada
ONU - Nova Iorque – EUA

Três anos depois

As guerras são o que são. E por vezes apenas é necessário que alguém dê o primeiro passo. E nem é preciso ter a certeza nos motivos, basta dizer que se está convencido. E depois arranjar outros que também “fiquem convencidos”.

Há três anos, o americano Bush convenceu-se que o Iraque estava diabolizado (e se calhar Sadam era de facto um dos seus - de Satã - discípulos) e tinha uma enormidade de armas de destruição massiva prontas a serem atiradas contra nós todos. Daí a convencer três outros companheiros de luta, foi um passo dado com a velocidade dos apressados. E lá foram todos contentes, convencidos que iriam livrar o mundo da diabólica presença de Satã, o todo poderoso. Era a luta do bem contra o mal.

Só que, depois da intervenção, digna de “Apocalipse’s Now”, vieram alguns dos “convencidos” a afirmar que, afinal, os motivos mais que evidentes, mais não eram que poeira na imaginação dos seus autores. E tudo lá continuou como coisa normal.

Agora, três anos passados, o que se poderá dizer? Cá por mim, que se calhar até sou dos “fracos e derrotistas”, na opinião do
grande amigo americano, fico-me a pensar nisto:

Três anos depois…

  • Mais de 37 mil mortos iraquianos
  • 2700 militares da coligação mortos (2311 norte-americanos)
  • Mais de 250 reféns estrangeiros e milhares de iraquianos raptados
  • Custo da guerra: 315 mil milhões de dólares (262 mil milhões de euros)
  • Apenas um em cada três iraquianos tem acesso a água potável (um em cada dois, em 2003)
  • Bagdade tem quatro horas de electricidade por dia (16 horas/dias em 2003)
  • Produção de petróleo: 1,4 mil milhões de barris/dia (2,4 mil milhões em 2003)
  • 70% de desempregados
  • Mortalidade infantil: 102 em mil nascimentos (32 em 1990)

Fonte: Expresso, 19 de Março de 2006

terça-feira, março 21, 2006

Aquele que conhece a poesia

O sussurrar do vento nas árvores
Abanando e contornando-as
Numa carícia suave e enleante,
Eis o que basta
Para aquele que experimenta a poesia.

O cálido chilrear dos pássaros
Que sobrevoam a minha aldeia
Como nuvem de alegria, de vida,
Eis o suficiente
Para aquele que sente a poesia.

O jardim pleno de verde e flores
Onde crianças correm e saltam e gritam
E mais velhos olham, no banco das memórias,
Eis o importante
Para aquele que vive a poesia.

Os ossos, rodeados de arame farpado,
O negro do ódio nos olhos do que passa,
A víbora da mentira no coração do homem,
As trevas que habitam as casas do luto,
O vazio dos que possuem a posse,
A fome dos esquálidos e dos sedentos,
Eis o que escapa da mordaça
Que tentam colocar na boca gretada e dorida
Do que sabe, do que conhece a poesia.

segunda-feira, março 20, 2006

Também eu

Já agora, em relação à entrada anterior, se calhar, também nada me poderia impedir de dizer que também eu apenas exijo que Roma me reconheça como católico – com o direito de não aceitar as normas (reformas) da Igreja, como seja o deixar a prática religiosa para quem a quiser.

Bem, de algumas “normas” que Bento XVI quer impor, é uma questão de sanidade mental (e já agora, como soi dizer-se, de caridade cristã) abster-me de mais comentários.

O tempo dos fundamentalismos

Bento XVI integra adeptos de Lefèbvre
O Papa Bento XVI decidiu integrar os seguidores de monsenhor Lefèbvre, o bispo católico excomungado por João Paulo II em 1988. (…)
Curiosa foi a declaração do bispo Fellay, sucessor de Lefèbvre, quando, em Agosto, depois de ter sido recebido pelo Papa, afirmou que não desejava para a sua instituição nenhum estatuto especial. Depois de sublinhar que apenas exigem que Roma os reconheça como católicos – como o direito de celebrar em latim, não aceitar as reformas da Igreja, como as relações ecuménicas, a possibilidade das mulheres darem a comunhão e o acesso de homens casados ao diaconado (o cargo anterior ao sacerdócio) – reafirmou: «O Vaticano II está contra a tradição da Igreja e o que a Fraternidade S. Pio X pode esperar é que a Igreja volte a ser fiel». (…)”

Expresso, 19 de Março de 2006

Por decoro, calo-me.

Mas, não deixarei de dizer que, lá como cá, os fundamentalismos (para não utilizar termos mais drásticos) aí estão para serem servidos. A bem da ordem global.

A mal de todos nós, diria eu…

sexta-feira, março 17, 2006

Os amigos que temos

É comum dizer-se que ninguém dá já nada a ninguém gratuitamente. Que a gratuitidade é uma coisa que pertence já aos idos dos tempos antigos. Mais: se olharmos à vida pública à nossa volta, o mais que ouvimos é que tudo não passa de meros negócios, em que tudo se vende e compra, como se de uma feira a nossa coisa comum (res-publica) se tivesse transformado.

O que passa nos dias que correm, é que, afinal, tudo se compra e tudo se vende. Sem pruridos, sem consciências feridas, sem escrúpulos, até. Tudo está na montra das vendas. Até a vida (que me perdoem o exagero), às vezes, parece estar em promoção nalguns escaparates.

O que se ouve é que quem promete dar alguma coisa é porque espera intransigentemente a promessa de receber logo de seguida qualquer outra coisa. Melhor e mais valiosa, de preferência. Está, pois em voga, o velho ditado que diz: “só dá um chouriço, se lhe derem um porco”.

Enfim, tudo isto é o que vemos e ouvimos por aí fora. Quer queiramos ou não; não estou, sequer, a exagerar. Chega, até, a ser quase “de bom-tom” fazer estes comentários sobre a nossa sociedade. Até porque, normalmente, estamos a falar “dos outros”. Sempre “dos outros”, não de nós próprios ou dos nossos amigos (e mesmo assim, se calhar, nem todos).

No meio de tudo isto, porque é que o meu amigo Pancrácio me fez aquela proposta? Porra, deixou-me calado. É que assim, já não são apenas “os outros”. Até me poderia ter pedido um favor, que se calhar até era capaz de lho fazer. Agora, meter “pagamento” onde apelas deveria estar amizade…

De facto, os amigos, às vezes, são mesmo os nossos amigos. E é com eles que vamos continuando a viver. Com mais ou menos brigas, é outra coisa.

quinta-feira, março 16, 2006

Desabafos benfiquistas

Hoje apetece-me falar do meu Benfica. Não sei porquê, mas pode ser que ainda esteja a lembrar-me de ontem, quando, já noite dentro, depois de um jantar bem animado, me comunicaram o resultado do jogo para a Taça.

Porque é que não fiquei admirado? Porque é que quase já estava à espera de que acontecesse exactamente o que aconteceu?

Vejamos: nos últimos jogos que vi do SLB (não contam o Porto, nem os da Liga dos Campeões), o que vi foi uma equipa que não quis ganhar um único jogo. E não me venham os mais acérrimos defensores do nosso Glorioso com as desculpas dos homens de apito na boca, ou de outras “mãos maneirinhas”, para explicar o sucedido. Porque a realidade é que a nossa equipa, nos jogos que refiro, não quis mesmo ganhar. E pronto. Deixemo-nos de tretas e desculpas esfarrapadas.

Vá lá que ainda estamos na Liga dos Campeões. E, diga-se, com mérito. Não tem culpa o SLB dos erros dos outros. Mas agora vem aí o Barcelona. E, deixem que o diga com toda a sinceridade e realismo, acho que já se cumpriu o dever. Já há honra se ficarmos pelo caminho. Mas sonhar, também não fica mal a ninguém.

Voltando ao resto, às lides internas, cá para mim, parece-me que valeria mais a pena analisar como é que se construiu esta equipa e como é que ela tem sido gerida.

É que parece que está a acontecer-nos este ano o que aconteceu com o Sporting o ano passado. Tudo poder ganhar e acabar por nada alcançar.

Mas, apesar de tudo, a certeza de que o Benfica é grande!

quarta-feira, março 15, 2006

A ler

Vale a pena ler aqui, o desabafo de Vicente Jorge Silva sobre a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social).

terça-feira, março 14, 2006

Falam de mim

Falam de mim as palavras
Frias de ausência de vida
E dizem o vazio de ideias
Das coisas que sonham para si.
Falam com voz sonora e calam
O que de mim quero para ser.

Alarves da ignorância excitam-se
Com o silêncio seguro e sereno
Dos que sentem o sabor da vida.

segunda-feira, março 13, 2006

Há dias assim

Porque é que as Segundas-feiras são, as mais das vezes, dias absolutamente para esquecer?

Será por uma questão de incoerência no ordenamento da semana? Será porque o primeiro dia da semana (dita) útil, se chamará “Segunda-feira”?

Por acaso, hoje, até saí de casa naturalmente bem disposto. Como é hábito, aliás. Apesar de ser o dia que é.

Mas ao chegar onde cheguei, onde chego todos os meus dias profissionais, lá estava o tal ambiente que nos perturba a todos e a todos provoca como que uma urticária exasperante. Por isso, o que me apetece neste momento é tão-somente deixar sair de mim o grito agreste e revoltado do animal encurralado.

Mas, já agora, tenho esperança que logo tudo não seja mais do que um sonho já ultrapassado pela sabedoria do tempo.

sábado, março 11, 2006

Porque hoje é Sábado

ROBERTO VOLTA
LA ONÍRICA
(Óleo 80x100 cm)

sexta-feira, março 10, 2006

Os palavreiros

Como eles gostam de se ouvir
E de escutar
As suas próprias palavras

Para eles, os fabricadores das palavras
O silêncio é um anátema

Usam as palavras com sofreguidão
Como se delas dependesse
A sua própria existência

quinta-feira, março 09, 2006

Mudanças em Belém

Hoje, há mudança de inquilino no Palácio de Belém. De quem entra, não me apetece, para já, dizer nada. Enfim, lá está. Chega.

Jorge Sampaio termina, assim, hoje, o seu mandato como Presidente da República Portuguesa. Mais do que procurar aqui um balanço do que foram os seus dias passados a ocupar o Palácio de Belém, fica-me apenas uma sensação estranha, uma dúvida: o que se terá passado para que a sua bem patente firmeza inicial sobre a questão do que se considerou chamar o caso do “envelope 9”, se tenha esfumado com o tempo. E que a resposta, breve como disse estar à espera, afinal tenha sido transformada em resposta sem resposta, por enquanto. Deixou, afinal, Souto Moura entregue a si próprio, quando o que se lhe pedia era que cumprisse o seu desígnio. No mínimo.

No dia da sua saída, gostaria de guardar na memória outras coisas. Mas o que parece que me vai ficar por enquanto, é esta dúvida. E não é pouco, convenhamos.

E, até tinha e tenho, de Jorge Sampaio, um sentimento bem simpático e carinhoso. Do contacto que com ele mantive, ficou-me a certeza de que é um homem bom, digno, sério, trabalhador incansável e de uma cultura ímpar. E, sobretudo, um agradável e bom companheiro para uma franca e amena conversa.

E, já agora, tenho pena de não continuar a ter em Belém um Presidente que quando nos encontrávamos me perguntava sempre novas do meu Benfica e eu lhe respondia por novas também do seu Sporting. Era, sinceramente, muito giro. E, de certo, desconcertante para muitas pessoas.

quarta-feira, março 08, 2006

Cantiga de Amor

Tu não és mulher poeta
Não és a palavra
A rima o som das idéias.
Não te enchem a cabeça
Os conceitos das sensações
Nem a teoria dos actos.
Tu não és a mulher escrita
Nem papel preenchido
Que se inunda com símbolos
Mais ou menos compreensíveis.
Tu não és a mulher canção
Não és a melodia
A pauta de música a compôr.
Não te comprimem regras
De bom senso ou de harmonia
Nem te retêem em estradas
Já definidas e bem marcadas.

Tu és o poema
Tu és a palavra liberta
Que me abunda a caneta
Com que inundo este branco
Feito filho renovado em cada dia.

(Teorema, Dezembro 2003)

(Porque hoje é, aproveito para prestar a minha muito singela homenagem)

terça-feira, março 07, 2006

Inquietações

Terríveis são os tempos
Dos que não sabem
O sabor da esperança

Temíveis os mistérios
Que se escondem esconsos
Nos caminhos do desespero

segunda-feira, março 06, 2006

Ainda há gente simpática

Li há uns dias atrás, na Focus (22 a 28 Fev 2006), que “o Primeiro Ministro Britânico, Tony Blair, classificou a prisão da base naval de Guantanamo, onde estão detidos cerca de 500 suspeitos de terrorismo, como uma anomalia”. E mais: Segundo Blair, trata-se de “uma anomalia que deverá ser resolvida”.

É boa. Com que então uma anomalia? Assim sem mais nem menos? Tão somente? Simpático, na verdade, o amigo Blair.

Já agora, quer-me cá parecer que o ilustre PM Britânico, das duas uma, como se costuma dizer: ou é ingénuo, ou anda distraído, ou ainda acredita em fadas. No máximo e para não dizer outras coisas.

sexta-feira, março 03, 2006

Só o tempo

Só o tempo de desvendar
Novos contornos da existência.
Estrofes projectadas no devir.

Só o tempo de esquecer
Novos sulcos desventrados.
Hieroglifos gravados na memória.

Só o tempo de lamentar
O espaço que permanece.
Eterna contradição do sentir.

(Teorema, Dezembro 2003)

quinta-feira, março 02, 2006

Tudo dentro da normalidade

Já leram o que vem aqui?

Quer-me cá parecer que se está a preparar o caminho para mais uma “nulidade legal”.

Ah! E mais uma vez, a culpa é de “Zhritznujdf”, um ser que habitará, porventura, o planeta Plutão. Terráqueo não será certamente. Porque por cá, tudo corre dentro da perfeita normalidade.

Dias de Cinzas

Tenho nas minhas mãos a história dos meus dias
E nos meus dedos repousam as horas e os minutos
Que se diluem na poeira de tempos ainda por descobrir.

Olho-me e as mais das vezes não me encontro
Não posso nem quero ficar retido em momentos que esqueço.

Tenho nos meus olhos a memória dos sentimentos e das sensações
E nos meus ouvidos ecoam as palavras que ficaram ainda por dizer.

Olho-me e as mais das vezes não me quero saber.
Não consigo nem procuro atingir o que me espera ainda.

A minha história é, afinal, tão-somente, a minha história.