terça-feira, março 31, 2009

Junco

Frágil junco
vi nascer a criança
que plantei

Reguei
e, na minha esperança,
visualizei o carvalho
a cuja sombra
um dia
me abrigaria.

Afinal
era um bonsai
que queria ser tratado
e não podei.

Secou.

Hoje não tenho sombra.

Martin Guia
“Pedro que és Pedra”
Hugin Editores, 2003

domingo, março 29, 2009

Outros olhares

Rogelio Castellón
Afgana
Imagem daqui

sábado, março 28, 2009

Ah! Já agora, não esquecer!

Tempo sem tempo

Há alturas da vida que nos afastam das coisas que, até se calhar, mais gostamos. Ora porque a vida que levamos, que não deixa de ser a nossa, a que escolhemos, mesmo que por vezes dela nos possamos cansar um pouco, nos faz abrandar em certos caminhos que percorremos com mais ou menos prazer, ora porque ele há cada coisa na nossa existência que, muitas vezes, não nos deixa quase tempo para o tempo que mais nos satisfaz.

Há alturas na vida que, mesmo sem querer, acabamos por deixar ficar sem palavras os ouvidos, ou os olhos, que até vão tendo a simpatia e a amizade de esperar por nós.

E porque há neste meu “tempo” outros “tempos” a que não fui capaz de em tempo comunicar, aqui fica este meu “tempo” de amizade, com a certeza e a vontade de aqui estar com mais tempo, no breve que o tempo me vai deixar.

Um Bom fim-de-semana a todos!

segunda-feira, março 23, 2009

Os meus olhos

Os meus olhos são os olhos
Dos que querem ver.
E, se calhar, as mais das vezes,
Não conseguem nem sequer alcançar
O longe que importa conhecer.

Os meus olhos são os espelhos
Que desvendam o profundo em mim.
E, se calhar, a maior parte das vezes,
Apenas conseguem ser manifestação
Do teatro que até somos capazes.

Os meus olhos são as janelas
Dos espaços que preencho em mim.
E, se calhar, muitas vezes, até demais,
Mais não são que frechas abertas
Na muralha que envolve o meu templo.

domingo, março 22, 2009

Citação do dia

"Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará."
Marcus Tullius Cicero
Encontrado
aqui

sábado, março 21, 2009

Os meus olhares


Acrósticos [IV]

Palavras libertas na corrente
Ostentam na sua perene liberdade
Encontros de tempo infinito.
Sabedoria feita luz intemporal
Ilumina sem origem e sem ocaso
A vida que sonhamos em nós.

sexta-feira, março 20, 2009

Palavras que dão que pensar

«(...) Para o FEM [Fórum Económico Mundial] e, portanto, para o novo consenso dominante, é crucial que a crise seja definida como crise do neoliberalismo, e não como crise do capitalismo, ou seja, não como crise de um modelo de desenvolvimento social que, nos seus fundamentos, gera o empobrecimento da maioria das populações dele dependentes e a destruição do meio ambiente. É igualmente importante que as soluções sejam da iniciativa das elites políticas e económicas, tenham um carácter técnico-burocrático, e não político, e sobretudo que os cidadãos sejam afastados de qualquer participação efectiva nas decisões que os afectam e se resignem a "partilhar o sacrifício" que cabe a todos, tanto aos detentores de grandes fortunas como aos desempregados ou reformados com a pensão mínima. (...)»
Boaventura Sousa Santos
Consensos problemáticos
Visão, 12 de Março de 2009

quinta-feira, março 19, 2009

Sim[Cum]plicidades

Hoje, os meus filhos disseram-me que era o meu dia. [Meu e de muitos outros...]
Gostei de os ouvir. Aliás, tenho especial prazer em os escutar. Aliás, temos especial prazer em nos escutarmos.
É que, mesmo às vezes sem palavras, eles têm cada história para me encantar...

quarta-feira, março 18, 2009

Outros olhares

Um outro olhar de Luis Ponte sobre a Costa da Graça, Lisboa

segunda-feira, março 16, 2009

Avoamentos

As palavras que libertamos ao vento
Levam consigo a respiração dos nossos dias
Transportam na sua voz a vontade e o desejo
De escutar sem culpa a tentação.

domingo, março 15, 2009

Testamento

Quando morrer,
faz-me uma festa,

animada, garrida,
bailada, vivida,

que comigo diga,

sem desespero,
luto ou choro,

só com o cheiro
do suor do bailar

de ti a dançar!

. . .......Eu serei a música!

Martin Guia
“Pedro que és Pedra”

Hugin Editores, 2003

sábado, março 14, 2009

Outros olhares

Foto: Luis Ponte

Boas surpresas

A minha cara amiga Helena resolveu entrar neste nosso mundo virtual.

Ainda bem. Porque as suas palavras são palavras de gente de bem. De gente que conhece o sabor da amizade. De gente que conhece o sabor da vida.

Ainda bem. Porque as suas palavras são palavras simples de gente que vai descobrindo a simplicidade da própria vida.

Nada mais que isto. Mas é o que mais importa. Para mim, seguramente.

Façam, pois, o favor de a visitar. Verão que vale a pena.

sexta-feira, março 13, 2009

Os meus passos

Os meus passos levam-me quase sempre
Ao sabor das coisas que não se esperam.
E o caminho torna-se assim aventura.

Os meus passos levam-me quase sempre
Ao encontro das coisas que desconheço.
E o caminho revela-se percurso desconhecido.

Os meus passos levam-me quase sempre
À descoberta das coisas que nem sempre vislumbro.
E o caminho torna-se assim viagem peregrina.

quinta-feira, março 12, 2009

Mimos e carinhos [2]


A vida às vezes surpreende-nos mesmo. De repente, damos por nós a descobrir que há mesmo gente que faz da palavra gente uma palavra bem humana. E que nos faz sentir um não sei quê de sensibilidade.

E, porque não há duas sem três, como ela mesmo disse, a amiga – e posso, estou certo, chamá-la já assimMariz, resolveu conceder-me a “chave de ouro da sua casa”, o
Sou Pó e Luz.

Mais uma vez, sem méritos relevantes que possa mostrar, apenas posso acreditar que são os “olhos” de pessoa de bem da Mariz os únicos motivos para esta atenção.

Fico feliz. Por poder descobrir, se bem que neste mundo “virtual”, gente que vale a pena descobrir e conhecer.

Obrigado, Mariz. Cá nos vamos encontrando. É, afinal, o mais importante. Não é?

A ler

Mimos e carinhos


~*Rebeca e Jota Cê *~ tiveram a amabilidade de me distinguir com este selo.

Não por ser eu importante ou muito bom nestas coisas da virtualidade, mas muito mais pela sua enorme simpatia, estou certo.

Mas lá que fiquei satisfeito, lá isso fiquei. E muito honrado.

Obrigado pois a ~*Rebeca e Jota Cê *~ [
Néctar da Flor].

quarta-feira, março 11, 2009

Que tempos!

Que tempos! Que gente! Nos dias que correm, não interessa o que somos. Não interessa o que fazemos. O que importa mais é, sem dúvida, a imagem do que somos. O que conta é, definitivamente, a maneira como fazemos as coisas. E andamos para aqui a correr de um lado para o outro – "nem sequer almocei hoje..."– para darmos a ideia de que a nossa vida é uma azáfama sem fim. E por isso mesmo inventamos mais e mais projectos, mais e mais competências, mais e mais decisões, como se não houvesse mais ninguém à nossa volta. De facto, apenas nos vemos a nós próprios. Cegámos dos outros. Tentamos fazer muitas coisas, se calhar para esconder a nossa incapacidade de fazer apenas uma. Mas fazer bem. Queremos o muito porque somos incapazes do pouco com qualidade.

E nesta bagunça toda, nem interessam os outros. Como eles, na verdade, são. Com os seus próprios ritmos. Com as suas próprias maneiras de ser. Com os seus próprios sentires.
Eles que venham connosco (atrás de nós). Se não... deixem-se ficar, fracos e vencidos...

segunda-feira, março 09, 2009

Blogagem Coletiva - "Inclusão Social"

Nem por acaso: há poucos dias, falando com o meu irmão Nelo, veio à baila este trabalho de Milton Nascimento, com texto de Pedro CASALDÁLIGA e Pedro TIERRA.


Imagem daqui

Hoje, aqui, desse trabalho profético, deixo a alocução de Dom Helder Câmara:

“Mariama, Nossa Senhora, mãe de Cristo e Mãe dos homens!

Mariama, Mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da
Terra.

Pede ao teu filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.

Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavra, não fique em aplauso.

Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem.

Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão. É Evangelho de Cristo, Mariama.

Claro que seremos intolerados.

Mariama, Mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grande problemas humanos.

Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões.

Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é Paz. Basta de injustiça!

Basta de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar.

Basta de alguns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano.

Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.

Mariama, Senhora Nossa, Mãe querida, nem precisa ir tão longe, como no teu hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e o pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico.

Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhor e sem escravos. Um mundo de irmãos.

De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama.

domingo, março 08, 2009

Outros olhares

Lívio de Morais
Mulheres da Ilha de Moçambique
Óleo sobre tela
Imagem
daqui

Cantiga de Amor

Tu não és mulher poeta
Não és a palavra
A rima o som das idéias.
Não te enchem a cabeça
Os conceitos das sensações
Nem a teoria dos actos.
Tu não és a mulher escrita
Nem papel preenchido
Que se inunda com símbolos
Mais ou menos compreensíveis.
Tu não és a mulher canção
Não és a melodia
A pauta de música a compôr.
Não te comprimem regras
De bom senso ou de harmonia
Nem te retêem em estradas
Já definidas e bem marcadas.

Tu és o poema
Tu és a palavra liberta
Que me abunda a caneta
Com que inundo este branco
Feito filho renovado em cada dia.

sábado, março 07, 2009

Não sei porquê, mas hoje apetece-me esta confidência [que fui buscar ao meu baú da memória]

Deixem que vos faça uma confidência:
Eu também acredito em Deus!

Já me falaram do Deus de Abraão
De Isaac
De Jacob
Do Deus de Jesus

Mas também do Deus de Maomé
De Buda
Dos Vedas

Eu, cá por mim,
Acredito tão-somente em Deus – o Deus
Criador do céu e da terra
E de tudo o que lá existe.

Que é muito bem capaz de ser, afinal,
O Deus de Abraão
De Isaac
De Jacob
O Deus de Jesus

Mas também o Deus de Maomé
De Buda
Dos Vedas

E também, se calhar,
Que me perdoem a liberdade,
O Deus de outros quaisquer
Adãos e Evas
Que, por acaso ou não por acaso,
Um dia tenham sido.

quinta-feira, março 05, 2009

“HAIKU” [XXXVIII]

Como um peixe no mar,
Este meu corpo está fresco
À luz da lua.

ENOMOTO SEIFU (1732-1815)

terça-feira, março 03, 2009

Outros olhares

Pedro Rafael Gonzalez Chavajay
El Sembrador (The Sower)
Imagem daqui

segunda-feira, março 02, 2009

Modus Vivendi

Eram dez. Dez crianças.
Vinham sorridentes
Em alarida conversa
Mais gestos que palavras
(Será que algumas já falavam?)
Saltavam e agarravam-se
Às roupas já coçadas
E encardidas de bastas lavagens.
Corriam e fugiam uns dos outros,
Alguns ainda trôpegos da idade,
Enquanto o guarda as seguia,
Indiferente e resignado,
Pela calçada inerte
Daquela casa
Que não acolhe
Daquele asilo que não asila
Daquele espaço que não sabe
Soletrar a palavra ‘lar’.

Porquê, meu Deus?
Qual a culpa destes teus filhos?

E eu, separado delas por um vidro,
Fechado num silêncio estéril
Aguardo inquieto e adormecido
Que se iniciem outros momentos
Que de oficiais apenas revelam
A vida que julgamos perene
Sem saber que perdida já está.

domingo, março 01, 2009

Tempo de melodias

Tangem as cordas bem esticadas
Da guitarra que abraçamos
E as notas soltam-se à deriva
E perdem-se no encanto e na magia
De um tempo que se deixa fugir

Tangem as cordas no silêncio
Das pautas que desbravamos
No interior do nosso desejo
E a canção que descobrimos
É grito no tempo que nos resta.

Tangem as cordas de desejo
Em sons que se abandonam
Ao sabor de melodias perenes
E a orquestra que re-inventamos
Torna-se vida na nossa existência