A minha vizinha Martinha já há muito tempo que andava de olho nele. Atrás das cortinas das janelas, suficientemente ralas para que a visão fosse pelo menos eficaz, ela mirava e remirava o espaço onde ele evoluía. Matreiro e sorrateiro.
É bom de dizer que a minha vizinha Martinha já só tinha de seu todo o tempo do mundo, do talvez já parco que lhe restava. E a janela, com as cortinas estrategicamente ralas, eram, afinal, uma boa parte do seu mundo. Ali se deixava ficar a olhar, a olhar. O quê, não lhe importava. Apenas olhar.
A minha vizinha Martinha, até ao momento, não tinha sido senhora dos seus doces quando os arrefecia ali no parapeito da janela, que era a sua banca para o mundo. De cada vez que lá colocava um qualquer dos seus mimos, quando se distraía, mais parecia que ali tinha colocado um par de asas que, em três tempos, se volatizavam sem rasto.
A minha vizinha Martinha estava certa de que o que se passava era tão-somente uma invasão do “amigo” que, sem vergonha, pudor ou remorso algum, ali a desafiava e quase sempre ganhava. Às tantas, a minha vizinha começava a pensar que a relação com aquele “amigo” já se estava a tornar num caso sério de gostar e bem-querer.
Um dia, daqueles que nem sequer lembramos, a minha vizinha Martinha resolveu pôr um ponto final nesta relação fenestral. E se melhor o pensou, melhor o realizou.
Nesse dia, nesse dia banal como qualquer outro, quando o “amigo”, matreiro e sorrateiro avançou para junto da janela, a das cortinas ralas, reparou que de ralas já não se vestia. Estava tão simplesmente aberta, deixando que de lá de dentro um forte aroma bem adocicado se sentisse em todo o seu esplendor.
Sorrateiro, com respeito pela novidade, saltou para o parapeito e, ó deuses, a visão era soberba. Claro, não poderia resistir. Com um salto bem felino, chegou à mesa onde o prazer se oferecia e não se fez rogado. Foi como que aceitar a ligação afectiva que lhe estava a ser oferecida.
E desde esse dia, um daqueles dias tão iguais a outros dias, a minha vizinha Martinha passou a não viver apenas com os seus pensamentos, apenas com a sua janela feita contacto com o lá fora, apenas com os seus solilóquios. Desde esse dia a minha vizinha passou a ter alguém com quem conversar. Muito embora esse alguém nem fosse capaz de dizer uma palavra sequer. Nem isso era importante. Mas lá que ela conversava, lá isso conversava. Cá para mim, até parecia que andava um pouco mais feliz.
É bom de dizer que a minha vizinha Martinha já só tinha de seu todo o tempo do mundo, do talvez já parco que lhe restava. E a janela, com as cortinas estrategicamente ralas, eram, afinal, uma boa parte do seu mundo. Ali se deixava ficar a olhar, a olhar. O quê, não lhe importava. Apenas olhar.
A minha vizinha Martinha, até ao momento, não tinha sido senhora dos seus doces quando os arrefecia ali no parapeito da janela, que era a sua banca para o mundo. De cada vez que lá colocava um qualquer dos seus mimos, quando se distraía, mais parecia que ali tinha colocado um par de asas que, em três tempos, se volatizavam sem rasto.
A minha vizinha Martinha estava certa de que o que se passava era tão-somente uma invasão do “amigo” que, sem vergonha, pudor ou remorso algum, ali a desafiava e quase sempre ganhava. Às tantas, a minha vizinha começava a pensar que a relação com aquele “amigo” já se estava a tornar num caso sério de gostar e bem-querer.
Um dia, daqueles que nem sequer lembramos, a minha vizinha Martinha resolveu pôr um ponto final nesta relação fenestral. E se melhor o pensou, melhor o realizou.
Nesse dia, nesse dia banal como qualquer outro, quando o “amigo”, matreiro e sorrateiro avançou para junto da janela, a das cortinas ralas, reparou que de ralas já não se vestia. Estava tão simplesmente aberta, deixando que de lá de dentro um forte aroma bem adocicado se sentisse em todo o seu esplendor.
Sorrateiro, com respeito pela novidade, saltou para o parapeito e, ó deuses, a visão era soberba. Claro, não poderia resistir. Com um salto bem felino, chegou à mesa onde o prazer se oferecia e não se fez rogado. Foi como que aceitar a ligação afectiva que lhe estava a ser oferecida.
E desde esse dia, um daqueles dias tão iguais a outros dias, a minha vizinha Martinha passou a não viver apenas com os seus pensamentos, apenas com a sua janela feita contacto com o lá fora, apenas com os seus solilóquios. Desde esse dia a minha vizinha passou a ter alguém com quem conversar. Muito embora esse alguém nem fosse capaz de dizer uma palavra sequer. Nem isso era importante. Mas lá que ela conversava, lá isso conversava. Cá para mim, até parecia que andava um pouco mais feliz.
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